Os sons na nossa vida


O Som em seus vários aspectos é sempre o desencadeamento de uma força que se converte em ação, seja como um fenômeno da natureza, ou como um fenômeno sensível presente em nossas vidas. Misteriosamente, a manifestação de uma força em movimento sempre se desdobra em uma manifestação do SOM, como uma energia a qual não se pode saber ao certo se é o resultado ou o agente do movimento, sabendo-se apenas que sempre coexiste com ele nas suas diferentes formas. Analisando profundamente a natureza do Som, vemos que ele é na realidade um Princípio do Universo e, portanto, também deve ser compreendido em suas íntimas relações com a consciência do homem em todos os aspectos em que apareça no mesmo como verbo, como música e como influência dentro de sua psique.

Neste sentido, torna-se importante compreender também como, na dinâmica fenomenal da natureza intrinsecamente permeada de Sons, o silêncio de tal maneira torna-se algo abstrato. Porém, em uma percepção não apenas relativa, o silêncio sintetiza o estado potencial das forças que não se converteram em manifestações, sendo que o que está manifesto está permeado de sons, sem que possamos saber se ele é sua causa ou seu efeito. Na tradição budista temos uma verdadeira reflexão sobre o significado íntimo do silêncio da consciência, advindo de um profundo estado de meditação. O silêncio, como um aspecto do princípio universal do som, é um fenômeno cheio de significados para a compreensão da consciência do homem.

Entendendo as criações da natureza como divinas e o Som como um de seus princípios, podemos entender melhor a razão pela qual se diz no Gênese Hebraico que no Princípio era o  “Verbo de Deus". De fato, isso quer também nos dizer que no homem o som se exprime particularmente como parte de seu Ser, pois ele é o único dentro da natureza que possui uma linguagem, que possui o dom da palavra, o Verbo. O Verbo é parte da consciência humana, portanto, o som como aspecto de verbo ou de música, produz efeitos concretos e substanciais no mundo psíquico do Microcosmo Homem.

“Os homens distinguem-se uns dos outros por sua consciência, assim como as estrelas por sua luz.”-diz o Mestre Samael Aun Weor.A consciência,como força primordial do que há de mais íntimo no homem como Ser,quando é manifestada em Verbo, ou seja, em palavras ou em música, produz um  movimento carregado de certa força, de certo potencial e significado, que reflete profundamente dentro da Consciência Humana imprimindo-lhe um resultado dentro da sua psique. Isso quer dizer que sabemos o quanto as formas do Som estão ligadas à compreensão e aos estados da nossa Consciência, expressando os seus mais altos e profundos valores. Porém, esses também podem se expressar sem os valores da íntima compreensão, refletindo outros estados de consciência que podem ser negativos.

Sabendo desse imenso poder, dessa profunda compreensão dos efeitos do movimento do Som em nós, as Culturas Serpentinas valeram-se disso para todos os efeitos. As canções, rituais e danças sagradas guardam uma profunda sabedoria e com eles fecunda-se a terra agita-se os guerreiros e curam-se os enfermos. Como exemplo, temos nos períodos áureos egípcio, persa, caldeu, helenista, tibetano, entre outros, o importante uso que essa sabedoria desempenhou. Está escrito que Herófilo, médico de Alexandre Magno, regulava a tensão arterial segundo a escala musical que correspondia com a idade do paciente.

Os Derviches Dançantes Sufis logram um maravilhoso nível anímico mediante danças e cantos. Recordemos a mitologia de Orfeu, que arrancava melodiosas notas de sua lira, com as quais acalmava aos monstros do inferno, e a sábia expressão de Platão quando afirmou que a música é a medicina da Alma.
Dentro das grandes tradições religiosas, autênticos cultivadores das faculdades esotéricas, sabiam do enorme potencial espiritual do uso dos princípios do Som, como a prática das foháticas notas do mantra enquanto meio específico para chegar ao fundo ultra-sensível da Meditação.

O infra-som e as enfermidades

Nos aspectos que seguem os Princípios do Som em suas manifestações em relação à Consciência Humana entendemos por infra-sons aqueles ritmos e composições que despertam psicologicamente sentimentos e estados de consciência de sentimentalismos, ira, euforia ou desejos morbosos de tipo sexual. O infra-som reflete projeções do infraconsciente humano, que é um aspecto da psique totalmente envolto pelos desdobramentos do Eu Psicológico.

Esta relação, observada até de maneira empírica, levou os cientistas a realizarem investigações, nos últimos 35 anos, que demonstram que certos tipos de som, no caso o infra-som, atingem profundamente um organismo, transpassando-o e afetando-o seriamente no âmbito da saúde física, psicológica e mental, podendo afetá-lo em suas funções endócrinas, cardiovasculares, em seu equilíbrio hormonal e até mesmo em seu aparelho reprodutor. Num efeito grave, há até mesmo pessoas que sofrem a destruição maciça de células nervosas devido ao impacto causado por um som aterrador, ficando em deplorável estado de saúde.

Neste sentido, o Som, considerado ainda como um fator e caráter ambiental e social, pode também ser um desencadeador de enfermidades psíquicas individuais e coletivas, desequilíbrios nervosos e emocionais, neuroses, e outros tipos de conseqüências nas pessoas que tenham tais propensões. Ademais, verifica-se também que a exposição contínua a sons
desarmônicos pode até mesmo              causar a perda da sensibilidade auditiva,sendo ainda o principal fator de origem do estresse. Podemos avaliar o quanto é importante essa compreensão para nas, hoje, especialmente levando em consideração o tipo de ambiente em que vivemos nas grandes cidades modernas, expostos a todos os tipos de desequilíbrios e poluição sonora.

A Música e o Ultra-som

Por outro lado, muitos psiquiatras e psicólogos têm empregado certos tipos de música para fazerem explorações no intrincado estudo da mente, depois que muitos outros tipos de estímulos fracassaram. Verifica-se que o emprego de outros tipos de influência sonora pode ter o efeito contrário, e ser um fator de cura de enfermidades e de traços de desequilíbrio psicológico. A música pode ser de grande auxílio para o relaxamento físico e mental e o despertar de estados de consciência mais elevados, estimulando a autocompreesão. Os sons que possuem este efeito sublime na Consciência são os ultra-sons, um tipo capaz de sensibilizar a consciência para estados mais elevados de apreensão.

Distintas Culturas Serpentinas usaram essa sabedoria para estimular seu desenvolvimento social, cultural e dos seus indivíduos. Tiveram nas realizações artísticas de suas músicas, do canto e da dança, valores e estados sublimes para induzir ao Êxtase e à Contemplação. A música erudita em geral representa um tipo de musica em que estão presentes vibrações do próprio modus operandi para nos transladarmos aos estados da Supra consciência do Ser.

Por tudo isso, torna-se importante refletirmos sobre o poder que o som possui em nossas vidas, por ser um princípio universal da natureza, selecionando o que ouvimos em vez de nos influenciarmos facilmente por estímulos sonoros desarmônicos e desequilibrados. Certas músicas eruditas, por exemplo, podem permitir uma reorganização em nosso universo psicológico e mental por sua sensível capacidade de despertar-nos para elevados estados de inspiração, assim como também a prática dos mantras, do canto e da meditação, conduzindo-nos a um gradual avanço até o equilíbrio com o infinito.

Fonte: Revista Gnosis