Carbonizadas,
vítimas de homicídio, afogadas: boa parte das crianças ouvidas por Haraldsson é
capaz de narrar, detalhe a detalhe, histórias de mortes violentas que teriam
sofrido em outras encarnações. É o caso de Purnima Ekanayake, garota que o
pesquisador conheceu quando tinha 9 anos, na década de 90, em Bakamuna, um
vilarejo do Sri Lanka. Aos 3 anos ela começou a contar aos pais sobre uma outra
existência que teria vivido antes de nascer. Um dia, ao ver a mãe aborrecida
por conta de um acidente de carro, comentou: "Não ligue para isso, mamãe.
Eu vim para você depois de um acidente. Tinha um monte de ferro no meu
corpo".
A menina começou a
contar histórias detalhadas sobre uma vida anterior, na qual teria sido um
homem, funcionário de uma fábrica de incenso. Relatou a localização da fábrica,
o nome da antiga mãe, deu detalhes sobre o número de irmãos, as marcas de
incenso que eram produzidas, os carros da família, a escola... Seguindo as
indicações, seus pais chegaram à família de Jinadasa Perera, fabricante de
incensos que morrera atropelado por um ônibus dois anos antes de Purnima
nascer.
"Este é
Wijisiri, meu cunhado", foi o que a menina, sem nunca tê-lo visto antes,
disse ao entrar na antiga indústria de incenso, a 230 km da sua casa, segundo
testemunhas entrevistadas por Haraldsson. A menina ainda olhou para as
embalagens e perguntou: "Vocês mudaram a cor?". A cor das embalagens
havia sido alterada logo após a morte de Jinadasa. Ao analisar as informações
dadas por Purnima antes desse encontro, Haraldsson concluiu que os relatos se
encaixavam no perfil do morto. E foi além. Vasculhando os registros da
necropsia de Jinadasa, apurou que o atropelamento havia ferido o fabricante de
incenso no lado esquerdo do abdome — mesmo local onde o corpo da menina Purnima
exibia manchas brancas de nascença.
Três décadas de reencarnação
Longe de ser
exceção, histórias como a de Purnima são uma constante na vida do islandês. O
Ph.D. em psicologia e professor emérito da Universidade da Islândia passou as
últimas três décadas colecionando histórias de crianças sobre vidas passadas.
Foram exatas 94 investigações sobre essas narrativas no Líbano e no Sri Lanka,
países onde os relatos são mais numerosos, provavelmente por conta da religião
— o budismo, no Sri Lanka, e, no caso do Líbano, o drusismo, uma religião de
influência islâmica que acredita na reencarnação.
Haraldsson
identificou um padrão nessas narrativas. Na maioria dos casos, elas aparecem
entre 2 e 5 anos e são comuns os relatos de morte violenta. Algumas das
crianças pedem para conhecer os familiares da suposta outra vida. Outras, vão
além. "Vocês não são meus pais de verdade" foi o que Dilukshi
Nissanka passou a dizer desde que tinha 3 anos, para a tristeza de sua família,
em Veyangoda, no Sri Lanka. A menina insistia em rever sua "outra
mãe", dizendo que seu nome verdadeiro era Shiromi e que havia se afogado
num rio. Depois que a história foi publicada num jornal local (casos de
reencarnação fazem tanto sucesso na imprensa popular do Sri Lanka como as
mulheres-fruta nos nossos tablóides), os pais da garota foram contatados por
uma família de outra cidade: eles contaram que, anos antes, a família havia
perdido uma filha chamada Shiromi, afogada em um rio. Examinando declarações da
garota antes do encontro entre as famílias, Haraldsson constatou que Dilukshi
acertara várias informações sobre a família de Shiromi, como a região em que
viviam, o número de filhos e a paisagem local.
Coincidência?
Histórias assim impressionam, mas será que não podem ser explicadas apenas como coincidência? Foi a pergunta que Galileu fez para Haraldsson quando o caçador de reencarnados esteve no Brasil, em setembro, participando do I Simpósio Internacional Explorando as Fronteiras da Relação Mente-Cérebro. "Pode ser coincidência, sim", diz o pesquisador. Para logo em seguida acrescentar pausadamente, em tom didático de professor universitário: "Mas há alguns casos em que isso é altamente improvável".
Histórias assim impressionam, mas será que não podem ser explicadas apenas como coincidência? Foi a pergunta que Galileu fez para Haraldsson quando o caçador de reencarnados esteve no Brasil, em setembro, participando do I Simpósio Internacional Explorando as Fronteiras da Relação Mente-Cérebro. "Pode ser coincidência, sim", diz o pesquisador. Para logo em seguida acrescentar pausadamente, em tom didático de professor universitário: "Mas há alguns casos em que isso é altamente improvável".
Apesar de apontar
evidências que considera fortes, Haraldsson evita especular sobre se a
reencarnação existe ou não em seus estudos. Prefere apresentar os fatos e
deixar as interpretações para quem lê. "Sou um pesquisador empírico",
afirma. "Você pode encontrar uma grande correlação entre o que uma criança
conta e a vida de alguém que morreu. Isto é um fato. O que significa já é outra
questão."
Haraldsson chegou a
testar a hipótese de que os relatos poderiam ser explicados por questões como
necessidade de chamar atenção ou transtornos mentais. Mas isso, de acordo com o
psicanalista, não é o tipo de coisa que Freud explica. O islandês aplicou
testes psicológicos em dois grupos de 30 crianças libanesas, um dos quais dizia
se lembrar de outras vidas. O estudo não encontrou diferenças significativas,
exceto em um ponto: as crianças que relatavam vida anterior tinham sintomas de
estresse pós-traumático. Isso pode ser explicado pelo fato de que 80% delas
contavam ter passado por mortes violentas. Real ou imaginário, um acidente
mortal ou um homicídio são lembranças difíceis para a mente de uma criança.
Método
Mesmo lidando com
fenômenos estranhos, o islandês busca seguir a metodologia científica. Seu
método dá preferência a fontes que ouviram em primeira mão as declarações
espontâneas das crianças, como pais, avós, irmãos e amigos. Para garantir a
precisão e flagrar contradições, as testemunhas são entrevistadas mais de uma
vez, separadas umas das outras. Entrevistas com a própria criança são feitas
depois, para evitar que o pequeno diga o que o entrevistado quer ouvir. Feito
isso, o psicólogo assume papel de detetive.
Com a ajuda de colaboradores
locais, como jornalistas e religiosos, busca identificar pessoas mortas com
histórias que se encaixem no que as crianças contaram. Na última fase, procura os
registros da necropsia do morto (se houver) e analisa se há correspondência
entre possíveis ferimentos e eventuais marcas de nascença. Aplicar esse método
significa chegar a informações consistentes em pouquíssimos casos. Na maioria
das vezes, não é possível levantar correlação significativa entre os relatos e
o que de fato ocorreu. A maior parte do trabalho de investigação de 30 anos do
pesquisador acaba mesmo sendo descartada. "No Sri Lanka, apenas 10% dos
casos apresentam evidências fortes; no Líbano, entre 20% e 30%." O
aparente rigor e seus quase 100 artigos publicados não impedem, contudo, que o
tema de pesquisa de Haraldsson seja visto como marginal. Se duvidar, é só
perguntar a ele como a comunidade científica tradicional reage a seus estudos.
A resposta é simples e serena: "Não há reação. Eles apenas não
lêem".
Fonte: Revista Galileu
Um outro caso
intrigante está relatado no livro "A volta".
Um piloto da 2ª guerra, abatido em pleno voo, volta como um garoto que lembra
de tudo o que aconteceu, dando nome do navio, nome anterior (que é o mesmo do
atual) e de amigos de combate, sem falar de detalhes técnicos de aviões que
seriam virtualmente impossíveis pra uma criança de 4 anos saber (ou assimilar).
Veja um vídeo com o resumo aqui:
Fonte: Saindo da Matrix