Tudo sobre o bom e velho jeans masculino

Sabe aquele jeans que você usa para ir do supermercado à balada? Pois bem, seu grande companheiro de aventuras nasceu ainda no século XIX e não tinha a menor pretensão de ser peça de moda, mas sim uma opção de vestuário resistente para o duro trabalho nas minas. Tudo começou na França ainda em 1872, quando o tecido foi fabricado pela primeira vez. Mas foi nos Estados Unidos que o uso pela indústria têxtil deste algodão sarjado batizado de Denim se popularizou. O dia 20 de maio foi escolhido como uma espécie de data de aniversário do jeans, pois foi exatamente neste dia, no ano de 1873 que foi liberada a patente da primeira peça produzida com esse material: uma calça.

A calça jeans foi criada pela dupla Levis Strauss e Jacob Davis, para ser resistente e usada por trabalhadores de minas americanas porque os homens necessitavam de roupas com um tecido que não se rasgasse ou se desgastasse facilmente. O jeans é durável e não merece grandes cuidados e, exatamente por isso, era perfeito para ser destinado a roupas de trabalho.


 O imigrante alemão Strauss e seu sócio Jacob Davis (alfaiate da Califórnia) confeccionaram então a primeira calça jeans com acabamento em rebites que reforçavam a costura. O modelo criado por eles fez tanto sucesso entre os mineradores que eles incorporaram a peça como uniforme. Só depois de muito tempo e do aprimoramento das técnicas de fabricação que o jeans começou a ser lavado com pedras antes de ir para as lojas, aí sim, ele começou a ficar mais macio e confortável como conhecemos hoje. O tecido marrom usado na fabricação das peças vinha de Maryland e, primeiramente, era utilizado para cobrir carroças. Quando as vendas do tecido começaram a cair, passou-se a usá-lo na fabricação das calças com três bolsos que se prendiam com tiras. Em 1910, elas passaram a ter bolsos traseiros. As calças passarem a  ser vendidas em larga escala, e elas se tornaram um item revolucionário que mudou toda a forma de vestir das pessoas. Já na cor índigo (que na verdade é verde e, com o tempo e a luz, ainda na tecelagem, vai se transformando em azul), ele passou a vestir não só os mineradores, mas também virou sucesso entre agricultores, ferroviários e vaqueiros americanos. 

O jeans é uma moda que veio do povo, nascida não pelas mãos de um estilista, mas popularizada pelo uso e aceitação das pessoas. Usado em todos os continentes, por trabalhadores do campo e da cidade, adotado por ricos e por pobres e ainda conservando as características das primeiras peças produzidas no mundo.

Até hoje, o modelo clássico 501, da Levi Strauss com rebites e botão de metal, inspira marcas em todos os continentes. O primeiro estilista a colocar o jeans na passarela foi Calvin Klein, nos anos 70. A princípio, o jeans não foi bem aceito pelos grandes costureiros que decretaram que em pouco tempo os homens estariam usando saias ou se vestindo como astronautas. Nada disso aconteceu. À medida que a modelagem foi evoluindo, as possibilidades de melhora no tecido foram surgindo e a moda se abriu às várias tendências de estilo, o jeans foi incorporando o conceito de democracia e versatilidade no modo de vestir.



A indústria da moda aderiu criando etiquetas de luxo para explorar esse nicho de mercado. Hoje temos peças com modelagens elaboradas, vários tipos de acabamento e lavagens, e não são só calças. O jeans serve de matéria prima pra muitas outras peças do guarda roupas como camisas, jaquetas e bolsas. Tem jeans de todo jeito, incluindo até lavagens ecologicamente corretas com redução na quantidade de água utilizada (estima-se que uma calça jeans básica gasta cerca de 11 mil litros de água ao longo de todo o processo de fabricação). Ou seja, nem os ecologistas têm mais desculpas. O jeans vence mais uma. E, para se ter uma ideia do poder desse tecido na história do vestuário, em 2008 foi leiloado pelo eBay o jeans mais caro do mundo, arrematado pela bagatela de US$ 36.099,00. Foi uma calça Levi’s modelo 201 feita na década de 1890 e encontrada dentro de uma mina no deserto de Mojave na Califórnia. Num estado de conservação muito bom, levando-se em consideração seus mais de 100 anos, ela se manteve quase intacta porque, além de estar coberta de parafina (das velas usadas para iluminar o ambiente) ela estava dentro de uma bolsa. Sem dúvida, o jeans vale cada centavo!


  
Desde o final do século XIX, das minas de ouro da Califórnia, o jeans passou por diversas mudanças, acompanhando e influenciando diversas transformações sociais e culturais até chegar aos dias de hoje como uma peça coringa e que une o mundo no quesito praticidade e versatilidade. Hemisfério norte ou sul, países desenvolvidos ou não, ocidente ou oriente, religiões e crenças políticas diferentes, esse tecido azul domina a vestimenta mundial. São várias as razões e entendê-las nos faz perceber a grandiosidade da diversidade humana.

Ainda nos anos 40, o jeans começou a se popularizar entre os jovens como forma de quebrar a formalidade, mas foi apenas na década seguinte que ele ganhou mais visibilidade e entrou de vez nos guarda-roupas mundo afora. O poder do cinema encantou gerações, especialmente depois que James Dean e Marlon Brando adotaram a calça jeans como símbolo de rebeldia e juventude. Os Beatniks, como também foram chamados, vieram na seqüência da Segunda Guerra Mundial e representaram um dos movimentos socioculturais mais importantes dos anos 50. O estilo de vida louco, sem regras nem limites, se contrapunha fortemente ao American Way of Life daquela década que pregava sobretudo, uma volta à normalidade e à moralidade pré-guerra. Eram os anos das donas de casa americanas, cercadas por conforto e também submissão. Mas os Beatniks ofereciam um mundo antimaterialista e cheio de possibilidades. O jeans era um dos ícones desse grupo e era só o início de outras revoluções que essa peça de roupa influenciaria.



Nos anos 60, a década das transformações, mais uma vez ele estava lá. O jeans era uma das vestimentas básicas dos hippies, que pregavam a paz e o amor e lutavam contra a Guerra do Vietnã. A roupa atendia bem a essa geração, pois tinha um preço acessível e era resistente. Nessa mesma década, foram vestidos em calças jeans que estudantes mundo afora correram da polícia, no ano mais emblemático do século XX, 1968. Os anseios de paz e de um mundo melhor se chocavam contra as autoridades e os tanques de guerra, mas encontravam nesse traje a liberdade que procuravam. Já nos anos 70, os modelos boca-de-sino nas discotecas e nas passarelas de grandes estilistas da época também provam a popularização desse tecido único. E desde então, é uma paixão mundial, vestindo mauricinhos, executivos super ocupados, jovens com e sem causa, mulheres formais ou as funkeiras de plantão. Tem para todos os gostos e estilos.

JEANS E O MOVIMENTO PUNK

Originado ainda na década de 70 nos EUA, o Movimento Punk logo ganhou a Inglaterra e o mundo com sua proposta de subversão cultural e uma mistura de niilismo, sarcasmo e busca de afirmação. Eram anos turbulentos e o que se queria era propor um mundo sem lideranças, com liberdade individual e muito cosmopolita.

O jeitão mais agressivo pode até chocar os mais conservadores, mas é pela música e também pela moda que esse grupo mais se particulariza. A vestimenta é formada por muitos metais, correntes, alfinetes e spikes (esses, alias, estão com tudo hoje) jaquetas de couro, coturnos, sombras preta nos olhos e claro, a boa e velha (rasgada mesmo) calça jeans. Ela sempre onipresente onde quer que estejam vivas as palavras contestação e liberdade. Nos anos 90, o Movimento Grunge revive o jeans rasgado e desgastado. (Pra ler ouvindo: Ramones, Sex Pistols).

JEANS E O CINEMA

Começou com os Cowboys nos filmes de faroeste americano, depois Elvis Presley não se separava mais dele, Marlon Brando também fez história na tela grande como líder de uma gang de motoqueiros (O Selvagem, 1953) e até Marilyn Monroe usou jeans (Os Desajustados, 1961) e ajudou na disseminação desse estilo entre as mulheres. Nos anos 60, os cowboys do asfalto, pilotando suas belíssimas Harley-Davidsons, invadiram as estradas californianas e disseminaram ainda mais o jeans mundo afora. O cinema está cheio de referências dessa peça de roupa tão badalada. Em Thelma e Louise (1991) o jeans era a representação da liberdade (de novo!), mas, nesse caso, especialmente das mulheres.  Ver: Juventude Transviada (1955) e Rebeldia Indomável (1967)