A violência
doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande
número de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente.
Trata-se de um problema que acomete ambos os sexos e não
costuma obedecer nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural
específico, como poderiam pensar alguns.
Sua importância é relevante sob dois aspectos; primeiro,
devido ao sofrimento indescritível que imputa às suas vítimas, muitas vezes
silenciosas e, em segundo, porque, comprovadamente, a violência doméstica,
incluindo aí a Negligência Precoce e o Abuso Sexual, podem impedir um bom desenvolvimento físico e mental
da vítima.
Violência Doméstica, segundo alguns autores, é o resultado
de agressão física ao companheiro ou companheira. Para outros o envolvimento de
crianças também caracterizaria a Violência Doméstica.
A vítima de Violência Doméstica, geralmente, tem pouca auto-estima e se encontra atada na relação com quem agride, seja por dependência emocional ou material. O agressor geralmente acusa a vítima de ser responsável pela agressão, a qual acaba sofrendo uma grande culpa e vergonha. A vítima também se sente violada e traída, já que o agressor promete, depois do ato agressor, que nunca mais vai repetir este tipo de comportamento, para depois repetí-lo.
A vítima de Violência Doméstica, geralmente, tem pouca auto-estima e se encontra atada na relação com quem agride, seja por dependência emocional ou material. O agressor geralmente acusa a vítima de ser responsável pela agressão, a qual acaba sofrendo uma grande culpa e vergonha. A vítima também se sente violada e traída, já que o agressor promete, depois do ato agressor, que nunca mais vai repetir este tipo de comportamento, para depois repetí-lo.
Em algumas situações, felizmente não a maioria, de franca
violência doméstica persistem cronicamente porque um dos cônjuges apresenta uma
atitude de aceitação e incapacidade de se desligar daquele ambiente, sejam por
razões materiais, sejam emocionais. Para entender esse tipo de personalidade
persistentemente ligada ao ambiente de violência doméstica poderíamos
compará-la com a atitude descrita como co-dependência, encontrada nos lares de
alcoolistas e dependentes químicos.
Para entender a violência doméstica, deve-se ter em mente
alguns conceitos sobre a dinâmica e diversas faces da violência doméstica, como
por exemplo:
Violência Física:
Violência física é o uso da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. São comuns murros e tapas, agressões com diversos objetos e queimaduras por objetos ou líquidos quentes. Quando a vítima é criança, além da agressão ativa e física, também é considerado violência os atos de omissão praticados pelos pais ou responsáveis.
Quando as vítimas são homens, normalmente a violência física
não é praticada diretamente. Tendo em vista a habitual maior força física dos
homens, havendo intenções agressivas, esses atos podem ser cometidos por
terceiros, como por exemplo, parentes da mulher ou profissionais contratados
para isso. Outra modalidade são as agressões que tomam o homem de surpresa,
como por exemplo, durante o sono. Não são incomuns, atualmente, a violência
física doméstica contra homens, praticados por namorados (as) ou companheiros (as)
dos filhos (as) contra o pai.
Apesar de nossa sociedade parecer obcecada e entorpecida
pelos cuidados com as crianças e adolescentes, é bom ressaltar que um bom
número de agressões domésticas são cometidos contra os pais por adolescentes,
assim como contra avós pelos netos ou filhos. Dificilmente encontramos
trabalhos nessa área.
Não havendo uma situação de co-dependência do (a)
parceiro(a) à situação conflitante do lar, a violência física pode perpetuar-se
mediante ameaças de "ser pior" se a vítima reclamar à autoridades ou
parentes. Essa questão existe na medida em que as autoridades se omitem ou
tornam complicadas as intervenções corretivas.
O abuso do álcool é um forte agravante da violência doméstica
física. A Embriagues Patológica é um estado onde a pessoa que bebe torna-se
extremamente agressiva, às vezes nem lembrando com detalhes o que tenha feito
durante essas crises de furor e ira. Nesse caso, além das dificuldades práticas
de coibir a violência, geralmente por omissão das autoridades, ou porque o
agressor quando não bebe "é excelente pessoa", segundo as próprias
esposas, ou porque é o esteio da família e se for detido todos passarão
necessidade, a situação vai persistindo.
Também portadores de Transtorno Explosivo da Personalidade
são agressores físicos contumazes. Convém lembrar que, tanto a Embriagues
Patológica quanto o Transtorno Explosivo têm tratamento. A Embriagues
Patológica pode ser tratada, seja procurando tratar o alcoolismo, seja às
custas de anticonvulsivantes (carbamazepina). Estes últimos também úteis no
Transtorno Explosivo.
Mesmo reconhecendo as terríveis dificuldades práticas de
algumas situações, as mulheres vítimas de violência física podem ter alguma
parcela de culpa quando o fato se repete pela 3ª vez. Na primeira ela não sabia
que ele era agressivo. A segunda aconteceu porque ela deu uma chance ao
companheiro de corrigir-se, mas, na terceira, é indesculpável.
Violência Psicológica:
A Violência Psicológica ou Agressão Emocional, às vezes tão ou mais prejudicial que a física, é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis para toda a vida.
Um tipo comum de Agressão Emocional é a que se dá sob a
autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar emocionalmente
o outro para satisfazer a necessidade de atenção, carinho e de importância. A
intenção do (a) agressor (a) histérico (a) é mobilizar outros membros da
família, tendo como chamariz alguma doença, alguma dor, algum problema de
saúde, enfim, algum estado que exija atenção, cuidado, compreensão e
tolerância.
É muito importante considerar a violência emocional
produzida pelas pessoas de personalidade histérica, pelo fato dela ser
predominantemente encontrada em mulheres, já que, a quase totalidade dos
artigos sobre Violência Doméstica dizem respeito aos homens agredindo mulheres
e crianças. Esse é um lado da violência onde o homem sofre mais.
No histérico, o traço prevalente é o “histrionismo”, palavra
que significa teatralidade. O histrionismo é um comportamento caracterizado por
colorido dramático e com notável tendência em buscar atenção contínua.
Normalmente a pessoa histérica conquista seus objetivos através de um
comportamento afetado, exagerado, exuberante e por uma representação que varia
de acordo com as expectativas da platéia. Mas a natureza do histérico não é só
movimento e ação; quando ele percebe que ficar calado, recluso, isolado no
quarto ou com ares de “não querer incomodar ninguém” é a atitude de
maior impacto para a situação, acaba conseguindo seu objetivo comportando-se
dessa forma.
Através das atitudes histriônicas o histérico consegue
impedir os demais membros da família a se distraírem, a saírem de casa, e
coisas assim. Uma mãe histérica, por exemplo, pode apresentar um quadro de
severo mal estar para que a filha não saia, para que o marido não vá pescar,
não vá ao futebol com amigos... A histeria quando acomete homens é pior ainda.
O homem histérico é a grande vítima e o maior mártir, cujo sacrifício faz com
que todos se sintam culpados.
Outra forma de Violência Emocional é fazer o outro se sentir
inferior, dependente, culpado ou omisso é um dos tipos de agressão emocional dissimulada
mais terrível. A mais virulenta atitude com esse objetivo é quando o agressor
faz tudo corretamente, impecavelmente certinho, não com o propósito de ensinar,
mas para mostrar ao outro o tamanho de sua incompetência. O agressor com esse
perfil tem prazer quando o outro se sente inferiorizado, diminuído e
incompetente. Normalmente é o tipo de agressão dissimulada pelo pai em relação
aos filhos, quando esses não estão saindo exatamente do jeito idealizado ou do
marido em relação às esposas.
O comportamento de oposição e aversão é mais um tipo de
Agressão Emocional. As pessoas que pretendem agredir se comportam
contrariamente àquilo que se espera delas. Demoram no banheiro, quando percebem
alguém esperando que saiam logo, deixam as coisas fora do lugar quando isso é
reprovado, etc. Até as pequenas coisinhas do dia-a-dia podem servir aos
propósitos agressivos, como deixar uma torneira pingando, apertar o creme
dental no meio do tubo e coisas assim. Mas isso não serviria de agressão se não
fossem atitudes reprováveis por alguém da casa, se não fossem intencionais.
Essa atitude de oposição e aversão costuma ser encontrada em
maridos que depreciam a comida da esposa e, por parte da esposa, que,
normalmente se aborrecendo com algum sucesso ou admiração ao marido,
ridiculariza e coloca qualquer defeito em tudo que ele faça.
Esses agressores estão sempre a justificar as atitudes de
oposição como se fossem totalmente irrelevantes, como se estivessem corretas,
fossem inevitáveis ou não fossem intencionais. "Mas, de fato a comida
estava sem sal... Mas, realmente, fazendo assim fica melhor..." e
coisas do gênero. Entretanto, sabendo que são perfeitamente conhecidos as
preferências e estilos de vida dos demais, atitudes irrelevantes e
aparentemente inofensivas podem estar sendo propositadamente agressivas.
As ameaças de agressão física (ou de morte), bem como as
crises de quebra de utensílios, mobílias e documentos pessoais também são considerados
violência emocional, pois não houve agressão física direta. Quando o (a)
cônjuge é impedido (a) de sair de casa, ficando trancado (a) em casa também se
constitui em violência psicológica, assim como os casos de controle excessivo
(e ilógico) dos gastos da casa impedindo atitudes corriqueiras, como, por
exemplo, o uso do telefone.
Violência Verbal:
A violência verbal normalmente se dá concomitante à violência psicológica. Alguns agressores verbais dirigem sua artilharia contra outros membros da família, incluindo momentos quando estes estão na presença de outras pessoas estranhas ao lar. Em decorrência de sua menor força física e da expectativa da sociedade em relação à violência masculina, a mulher tende a se especializar na violência verbal, mas, de fato, esse tipo de violência não é monopólio das mulheres.
Por razões psicológicas íntimas, normalmente decorrentes de
complexos e conflitos, algumas pessoas se utilizam da violência verbal
infernizando a vida de outras, querendo ouvir, obsessivamente, confissões de
coisas que não fizeram. Atravessam noites nessa tortura verbal sem fim. "Você
tem outra (o)... você olhou para fulana (o)... confesse, você queria ter ficado
com ela (e)" e todo tido de questionamento, normalmente argumentados
sob o rótulo de um relacionamento que deveria se basear na verdade, ou coisa
assim.
A violência verbal existe até na ausência da palavra, ou
seja, até em pessoas que permanecem em silêncio. O agressor verbal, vendo que
um comentário ou argumento é esperado para o momento, se cala, emudece e,
evidentemente, esse silêncio machuca mais do que se tivesse falado alguma
coisa.
Nesses casos a arte do agressor está, exatamente, em
demonstrar que tem algo a dizer e não diz. Aparenta estar doente, mas não se
queixa, mostra estar contrariado, "fica bicudo", mas não fala,
e assim por diante. Ainda agrava a agressão quando atribui a si a qualidade de
"estar quietinho em seu canto", de não se queixar de nada, causando
maior sentimento de culpa nos demais.
Ainda dentro desse tipo de violência estão os casos de
depreciação da família e do trabalho do outro. Um outro tipo de violência
verbal e psicológica diz respeito às ofensas morais. Maridos e esposas costumam
ferir moralmente quando insinuam que o outro tem amantes. Muitas vezes a
intenção dessas acusações é mobilizar emocionalmente o (a) outro (a), fazê-lo (a)
sentir diminuído (a). O mesmo peso de agressividade pode ser dado aos
comentários depreciativos sobre o corpo do (a) cônjuge.
Afinal, se a criança e o adolescente não
conseguem encontrar segurança e estabilidade em suas próprias casas, que visão
levarão para o mundo lá fora? Os conflitos nas crianças podem resultar da
disparidade entre o que diz a mãe, sobre ter medo de estranhos, e a violência
sofrida dentro de casa, cometida por pessoas que a criança conhece muito bem. Além
disso, a violência doméstica pode ainda perpetuar um modelo de ração agressiva
e violenta nas crianças que estão com a personalidade em formação.
A violência doméstica é considerada um dos fatores que mais
estimula crianças e adolescentes a viver nas ruas. Em muitas pesquisas feitas,
as crianças de rua referem maus-tratos corporais, castigos físicos, violência
sexual e conflitos domésticos como motivo para sair de casa.
Quem agride:
Na maioria os agressores são homens (67,4%), cônjuge e/ou
ex-cônjuge da vítima. Não há trabalhos explícitos sobre incidência de
patologias psiquiátricas nos agressores, entretanto, considera-se válido que os
agressores se dividem entre portadores de: Transtorno Anti-social da
Personalidade, Transtornos Explosivo da Personalidade (Emocionalmente
Instável), Dependentes químicos e alcoolistas, Embriagues Patológica,
Transtornos Histéricos (histriônico), Outros transtornos da personalidade, tais
como, Paranóia e Ciúme Patológico.
Questionário preditivo de violência doméstica. A pessoa que
convive com você...
1. Agride na maior parte do tempo?
2. Acusa constantemente de ser infiel?
3. Implica com as amizades e com a sua família?
4. Priva-a de trabalhar, de estudar?
5. Critica-a por pequenas coisas?
6. É agressivo quando está bêbado ou drogado?
7. Controla as finanças, obriga a comprar só o que ele quer?
8. Humilha-a em frente de outros?
9. Destrói objetos pessoais e com valor sentimental?
10. Agride ou espanca seus filhos?
11. Usa e/ou apontou alguma arma contra você?
12. Obriga a ter relações sexuais contra sua vontade?
Entre as três formas mais importantes de violência
doméstica, a mais complexa delas é a violência sexual. Esta tende a ficar
escondida dentro das casas devido ao medo de represália, vergonha ou temor de
que ninguém acreditará na vítima. Aliás, não acreditar na filha violentada pelo
pai pode interessar a muita gente, principalmente à mãe, normalmente,
complacente sob a máscara de ignorar.
Outra forma de violência cometida contra crianças e
adolescentes é a psicológica. Ela ocorre, por exemplo, quando os adultos usam
ameaças ou estratégias semelhantes para exigir que a criança obedeça a um
comando, quando eles comparam as crianças a outras, depreciando-as, ou quando
lhes negam afeto. A terceira forma mais importante de violência doméstica é a
Negligência, que acontece quando os responsáveis deixam de prover os recursos
mínimos, como por exemplo, alimentação, atenção e higiene, ou a conhecida
Negligência Precoce, que diz respeito à oferta de atenção afetiva.
Quem é agredido(a):
As mulheres são vítimas em 84,3% dos casos. Com mais freqüência, as vítimas estão nas seguintes faixas etárias: 24,6% de 18 a 35 anos, 21,3% de 36 a 45 anos e 13% de 46 a 55 anos.
Segundo estes trabalhos, as mulheres que apanham do parceiro têm alguns aspectos psicológicos comuns.
Muitas vezes, elas até mantêm certa cumplicidade com as
atitudes agressivas do parceiro. Algumas destas mulheres vêm de famílias onde a
violência e os castigos físicos faziam parte do cotidiano e é como se fossem
obrigadas a repetir estas situações em suas relações atuais.
No momento de escolher um parceiro, podem, mesmo não sendo
consciente, escolher homens mais agressivos, inocentemente admirados por elas
nos tempos de namoro. O namorado brigão era visto como protetor e o ciúme
exagerado que ele expressava era considerado uma "prova" de amor.
É importante para os pais pensarem um pouco se ao educar as
filhas mulheres, não estão formando nelas a idéia de que são seres frágeis, que
precisam de proteção permanente e que ser corrigidas (mesmo que seja por tapas)
pelo pai será benéfico para o futuro.
Um elemento comum na maioria destas mulheres é o medo de não
ter condição financeira para se manter ou aos filhos, se saírem da relação. O
dinheiro entra aí como fator de controle sobre a mulher. Voltamos a sugerir que
os pais pensem se na educação dos filhos não condicionam a liberdade deles pelo
dinheiro, ameaçando cortar o apoio financeiro como forma de obter respeito e
obediência. Esta atitude pode criar tanta insegurança na filha, ao ponto dela
se sentir incapaz de resolver sozinha seus próprios problemas quando adulta.
Algumas mulheres se sentem muito frustradas e culpadas por
não "conseguirem" ter feito o casamento dar certo. Estas foram
educadas para cumprir o papel de mulher bem casada e se sentem incapazes de
encarar o fato de terem errado na escolha.
Para elas, neste caso, falhar no casamento é pior que manter
uma relação, ainda que péssima. Por vergonha e constrangimento, costumam
esconder de todos que apanham dos parceiros, pois têm a esperança que eles
mudem com o tempo. Mas a situação se arrasta ou se complica e ela não vê saída.
Portanto, a vítima, quase sempre tem uma relação de
dependência com o agressor. Mais que a dependência econômica com relação ao
homem, é a dependência emocional que faz a mulher suportar as agressões. Há
casos de maridos que vão ao local de trabalho da mulher e a agridem diante de
colegas, e de abusos sexuais de pais contra filhas depois que ela se afastou do
domicílio comum.
Mesmo a separação não significa o fim da violência.
Numerosas vezes, o marido continua a importunar a ex-mulher, especialmente
quando ela vive só ou com os filhos. O caso pode mudar, contudo, quando a
mulher passa a viver com um novo marido ou companheiro.
Violência Sexual:
Em São Paulo, 10% das mulheres afirmam ter sofrido abuso sexual de seus companheiros; em Pernambuco, as vítimas da violência chegam a 14%. No Rio de Janeiro, 8% das mulheres acima de 16 anos foram violentadas sexualmente.
A pesquisa do Serviço de Advocacia da Criança revelou que
violência sexual chega a 13% do total das denúncias de violência recebidas pelo
serviço. A família foi responsável por 62% desses casos de violência sexual. O
pai aparece como o principal agressor em 59% das vezes, seguido pelo padrasto
em 25%. Entre os meninos, o pai foi o violentador principal em 48% dos casos,
seguido dos padrastos e dos tios. As violências sexuais aparecem também
vinculadas a outras formas de agressão, como as violências físicas e a
restrição à liberdade. Portanto, o grande agressor sexual doméstico é o pai.
Esse assunto costuma ser muito polêmico e difícil de
resolver. Normalmente mexe com padrão e dinâmica da família, envolve punições e
separações. Não é raro que a criança vitimada por violência sexual seja
severamente punida depois de relatar sua experiência para outros familiares; ou
é considerada mentirosa, promotora de discórdia, difamadora, ou é considerada
facilitadora e estimuladora da agressão.
As transgressões sexuais acabam acarretando culpa, vergonha
e medo na vítima e mesmo nos possíveis denunciantes solidários à vítima. Assim,
a ocorrência desses crimes sexuais tende a ser ocultada. Temos visto inúmeras
mães que negam a ocorrência da violência sexual por parte de seus maridos sobre
suas filhas porque temem suas conseqüências sociais e policiais, temem as
conseqüências intra-familiares, preferem viver juntas com seus maridos do que
separadas deles, enfim, há uma complacência omissa que pode ser tão criminosa
quanto a agressão.
No Brasil, de um modo geral, as pesquisas são poucas e, às
vezes contraditórias. Nos Estados Unidos sabe-se, com maior precisão, que o
abuso sexual ocorre em um terço das famílias. Mas lá, tanto quanto aqui, a
pequena vítima não revela seu segredo à mãe, por temer magoá-la. E quando a mãe
toma conhecimento dos fatos, ela costuma escolher uma das seguintes atitudes;
1 - Denunciar o agressor. A grande maioria das mães que
optam por essa alternativa não a faz de imediato. Elas costumam levar anos para
terem coragem para enfrentar o marido e as conseqüências. Quando ocorre a
denúncia, em cerca de dois terços dos casos, as mães levam a notícia do crime à
autoridade policial e se separam do companheiro.
2 - Não acreditar que seu companheiro ou marido seja capaz de abusar sexualmente da própria filha.
3 - Suspeitar que possa ser verdade, mas não têm certeza de que o marido ou companheiro seja um agressor sexual. Essas mães preferem viver eternamente na dúvida do que investigar a veracidade dos fatos pois, de modo geral, a certeza costuma ser muito ameaçadora. Algumas vezes, quando as evidências são incontestáveis, ainda arriscam acreditar que a filha foi quem "seduziu" o pai.
2 - Não acreditar que seu companheiro ou marido seja capaz de abusar sexualmente da própria filha.
3 - Suspeitar que possa ser verdade, mas não têm certeza de que o marido ou companheiro seja um agressor sexual. Essas mães preferem viver eternamente na dúvida do que investigar a veracidade dos fatos pois, de modo geral, a certeza costuma ser muito ameaçadora. Algumas vezes, quando as evidências são incontestáveis, ainda arriscam acreditar que a filha foi quem "seduziu" o pai.
Na maioria dos casos, de algum modo quase toda mãe sabe o
que está acontecendo. Mas é um conhecimento que os mecanismos de defesa do Ego
empurra para os porões do inconsciente. Portanto, as mães negam e reprimem esse
fato para subterrâneos onde ele incomoda menos, negam esse conflito para se
desobrigarem de atitudes severas em relação ao companheiro.
Nessa situação a mãe costuma ser outra vítima e cúmplice
simultaneamente. Ao contrário do que se pensa com freqüência, a violência
sexual doméstica não ocorre em famílias sempre desestruturadas .
Abuso de poder no qual a vítima (criança, adolescente ou
mulher) é usada para gratificação sexual do agressor sem seu consentimento,
sendo induzida ou forçada a práticas sexuais com ou sem violência física.
O crime escondido:
Há milhares de mulheres que sofrem de alguma forma de
violência nas mãos dos seus maridos e namorados em cada ano. São muito poucas
as que contam a alguém - um amigo, um familiar, um vizinho ou à polícia. As
vítimas da violência doméstica provêm de vários estilos de vida, culturas,
grupos, várias idades e de todas as religiões. Todas elas partilham sentimentos
de insegurança, isolamento, culpa, medo e vergonha.
É bastante surpreendente o fato do padrasto e da madrasta
agredirem muitíssimo menos que os pais biológicos, ao contrário do que pode se
pensar ou se apregoar culturalmente. Surpreende também os números muito
próximos do pai e da mãe como agressores.
Consequencias da Violência Doméstica:
Portanto, a questão da negligência não deve ser atribuída
exclusivamente à pobreza material dos pais. O não proporcionar recursos
materiais devido à pobreza, não caracteriza a Negligência, mas sim a carência,
uma vez que tais recursos seriam providos caso houvessem. Negligência é a
atitude omissa, seja materialmente, seja afetivamente (Negligência Material e
Negligência Emocional). Inúmeros trabalhos mostram que o apoio afetivo, o
carinho e o amor são tanto ou mais essenciais para o desenvolvimento da pessoa
quanto à mesa farta.
A Violência Física (espancamento) é a agressão mais comum,
sendo que alguns agressores chegam a amarrar as crianças com cordas ou
correntes e espancá-los com objetos como cinto, vassoura, panelas, martelos,
etc.
A Violência Física engloba ainda outros atos de verdadeiro
sadismo, como por exemplo, queimaduras com pontas de cigarro, água fervendo,
privação de comida e água, etc. A atitude de agredir, covardemente prevalecida
da maior força física dos pais pode resultar em severos traumatismos. São casos
onde adultos que batem com a cabeça ou atiram a criança contra a parede. Muitas
vezes essas trucidades levando à morte.
Além das marcas físicas, a violência doméstica costuma
causar também sérios danos emocionais. Normalmente é na infância que são
moldadas grande parte das características afetivas e de personalidade que a
criança carregará para a vida adulta.
Acontece que as crianças aprendem com os adultos,
normalmente e primeiramente dentro de seus lares, as maneiras de reagirem à
vida e viverem em sociedade. As noções de direito e respeito aos outros, a
própria auto-estima, as maneiras de resolver conflitos, frustrações ou de
conquistar objetivos, tolerar perdas, enfim, todas as formas de se portar
diante da existência são profundamente influenciadas durante a idade precoce. É
assim que muitas crianças abusadas, violentadas ou negligenciadas na infância
se tornam agressoras na idade adulta.
Alguns indícios de mau desenvolvimento de personalidade
podem ser observados em idade precoce. Algumas dessas características podem ser
manifestadas por dificuldades para se alimentar, dormir, concentrar-se. Essas
crianças podem começar a se mostrarem exageradamente introspectivas, tímidas,
com baixa auto-estima e dificuldades de relacionamento com os outros, outras
vezes mostram-se agressivas, rebeldes ou, ao contrário, muito passivas.
Crianças que estão atravessando problemas domésticos
relacionados à violência invariavelmente apresentam problemas na escola e no
grupo social ao qual pertencem. Podem, não obstante se recusarem a falar sobre
esses problemas quer com o adulto que cometeu a agressão, quanto com familiares
e professores. Falta-lhes confiança nos adultos em geral.
Fonte: Ballone GJ,
Ortolani IV - Violência Doméstica - PsiqWeb