Nem sempre é possível permanecer a vida inteira com os
dentes originais. Na falta deles, existem os implantes, que dispõem de
tecnologias e materiais cada vez mais modernos e conseguem devolver o sorriso a
muita gente.
Os implantes dentários foram um dos destaques do
Congresso Internacional do Centenário da Associação Paulista de
Cirurgiões-Dentistas (CIOSP 2011), realizado no início de fevereiro em São
Paulo. Enquanto centros de pesquisa buscam aperfeiçoá-los e estender sua
indicação, cada vez mais brasileiros ostentam em sua boca as peças que
reconstroem a dentição perdida. Mais versáteis, elas ocupam arcadas inteiras ou
substituem unidades extraviadas — e olha que não é preciso ter tanta idade para
recorrer a uma delas. “A implantodontia passa por um grande
desenvolvimento, o que se reflete na melhoria dos tratamentos e do resultado
estético”, avalia o dentista Wilson Sallum, coordenador científico do
congresso. Nada melhor, então, do que conhecer as tendências nesse campo.
A VEZ DA ZIRCÔNIA
Quando se fala em implante, o nome de uma matéria-prima vem à cabeça do
dentista: titânio. Consagrado nos quesitos eficácia e segurança, o metal
tem uma história de quase 40 anos na odontologia. Uma alternativa, porém,
emergiu recentemente: a zircônia. Os primeiros implantes à base
desse material cerâmico desembarcaram no país nos últimos meses com a promessa
de algumas vantagens. “Por ser isento de metal, ele anula os riscos de alergia
e toxicidade”, aponta o dentista Paulo Leme, consultor da Z-Systems, companhia
suíça que desenvolve o produto. “E, como a zircônia é branca, não há a
possibilidade de o dente ficar acinzentado, como não raro acontece com o titânio.”
A zircônia teria, ainda, a capacidade de facilitar a recuperação da gengiva
após o procedimento. E, como seu implante é dotado de uma única peça —
os de titânio contam com o parafuso e, sobre ele, um pilar que faz a
junção com o dente artificial —, seria menor o risco de a prótese ficar
instável.
Apesar de tantos ganhos, sobretudo estéticos, alguns especialistas não creem que a zircônia desbancará o titânio tão cedo. “Sabemos que ela se mostra excelente na função de pilar para o dente, mas precisamos de mais estudos para validá-la como implante”, pondera o dentista Carlos Eduardo Francischone, professor da Universidade de São Paulo, em Bauru, no interior do estado.
Apesar de tantos ganhos, sobretudo estéticos, alguns especialistas não creem que a zircônia desbancará o titânio tão cedo. “Sabemos que ela se mostra excelente na função de pilar para o dente, mas precisamos de mais estudos para validá-la como implante”, pondera o dentista Carlos Eduardo Francischone, professor da Universidade de São Paulo, em Bauru, no interior do estado.
SUPORTE GARANTIDO
Quando um dente abandona a boca, sua morada também é condenada a desaparecer —
é que a cavidade onde ele ficava abrigado, o alvéolo dentário, perde a
utilidade e acaba se extinguindo. Muitas vezes, além dessa perda, o tecido
ósseo que sustenta a dentição se torna mais espesso, e esse cenário pode
dificultar a instalação e o sucesso do implante. Para contrapor
essa falta de chão, os profissionais apostam nos biomateriais, obtidos de
elementos sintéticos ou naturais, como o osso bovino. “Eles funcionam como um
suporte para a formação da massa óssea, visando à reconstrução do arcabouço que
sustenta o dente”, explica o dentista Paulo Sérgio Perri de Carvalho, professor
da Universidade Estadual Paulista, em Araçatuba, no interior de São Paulo. É
claro que, se a perda de osso for considerável, ainda não adianta apelar para
os biomateriais — só o enxerto ósseo propriamente dito resolve o problema. Mas
a tendência é que seu campo de atuação se estenda. “Nos Estados Unidos, a
promessa é um material com proteínas capazes de estimular o crescimento ósseo e
que poderia ser usado como alternativa ao enxerto”, conta o dentista Ariel
Lenharo, diretor do Instituto Nacional de Experimentos e Pesquisas
Odontológicas, em São Paulo.
OS IMPLANTES CURTOS
Muitas pessoas que esperam pela reconstrução do sorriso deparam com uma
pedra no caminho: a necessidade de se submeter a um enxerto ósseo. A
falta dos dentes de verdade por anos a fio, o uso de dentaduras, acidentes ou,
simplesmente, o avançar da idade contribuem com a perda de osso na mandíbula ou
na maxila. Sem solo suficiente para fixar um implante direito, a saída é
retirar um pedaço de osso da bacia, por exemplo, e introduzi-lo na boca — uma
cirurgia que demanda de seis a nove meses de reabilitação. Mas alguns casos
podem escapar desse inconveniente graças a uma tecnologia que se aperfeiçoou
nos últimos anos: os implantes curtos. “Eles reduzem o custo e a agressividade
do procedimento”, compara o dentista Alexandre Turci, de São Paulo, que abordou
o tema em palestra no congresso. “Sem o enxerto, a recuperação se torna
mais rápida”, completa Lenharo. Como o nome já entrega, esses implantes são
mais baixos, porém robustos. “Seu desenho faz aumentar em 30% a área de contato
do implante com o osso”, calcula Alexandre. Se um parafuso convencional (e
comprido) fica instável diante de uma superfície óssea comprometida, a versão
curta se prende melhor sem cobrar um preço tão alto para o dono da boca.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
Entenda as diferenças entre o procedimento que exige enxerto ósseo e a
alternativa que se vale dos implantes curtos
Antes de fazer um implante dentário:
Pessoas com pouco tecido ósseo na mandíbula ou na maxila precisam se submeter a
uma cirurgia que transpõe um bloco de osso da bacia, por exemplo, para o canto
da boca onde ficarão os implantes. Entre seis e nove meses depois, a região
restaurada está pronta para receber o parafuso do implante e, transcorridos
mais três meses, o dente artificial é colocado.
1 ANO – É o tempo necessário para a instalação do enxerto, do implante e do dente artificial
1 ANO – É o tempo necessário para a instalação do enxerto, do implante e do dente artificial
Com implantes curtos
Essa técnica pode eliminar a necessidade de recorrer ao enxerto. Os parafusos, menores e robustos, são instalados a exemplo dos tradicionais. Só que eles aumentam o contato da peça com o osso ocupado. Para preencher espaços que ficariam vagos, são feitos alguns ajustes, como dispor de coroas dentárias maiores.
3 MESES – É quanto seria preciso esperar para o implante curto receber a coroa dentária.
UM MILHÃO DE SORRISOS
O implante é uma espécie de parafuso incrustado no osso da mandíbula ou da maxila para fazer as vezes de raiz — em cima dele é acoplada uma peça, o pilar protético, que recebe o dente artificial. Essa solução se populariza no Brasil. “A estimativa é que em 2003 tenham sido colocados 300 mil implantes, e esse número subiu, em 2010, para mais de 1 milhão e meio”, conta o dentista paulista Paulo Leme. Alguns fatores, como o desenvolvimento de materiais nacionais, justificam essa expansão. “Os implantes se tornaram mais acessíveis e aumentou o número de especialistas aptos a instalá-los”, observa o dentista Gabriel Lembo, diretor da Simplan Implantes, em São Paulo.
DENTADURA APOSENTADA?
É inevitável que, com a popularização dos implantes, surja a pergunta. Para o dentista Wilson Sallum, professor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, no interior paulista, elas sempre terão espaço. “Os implantes vieram para ficar, mas não resolvem tudo”, afirma. “E muita gente vive bem usando próteses removíveis.” Embora os preços dos implantes tenham caído nos últimos anos, as dentaduras ainda saem bem mais barato. E quem faz uso delas há anos e quer trocá-las por implantes pode precisar de um enxerto, o que eleva as cifras do tratamento.
OS IMPLANTES NA HISTÓRIA
COMO TUDO COMEÇOU ?
Nas décadas de 1950 e 1960, o ortopedista sueco Per-Ingvar Brånemark descobre, por meio de experiências com animais, que o titânio se integra ao osso — o princípio básico para um implante funcionar.
PROGRESSO SORRIDENTE
Nas três décadas seguintes, os implantes se tornam realidade — Brånemark viaja pelo globo difundindo suas técnicas e se instala no Brasil — e passam por aperfeiçoamentos, tanto no campo das matérias-primas como no das cirurgias.
DENTES NOVOS EM MENOS TEMPO
Em meados dos anos 2000, surge uma nova técnica, a da carga imediata. Antes dela, após a introdução do implante, era preciso esperar de três a seis meses para colocar a coroa definitiva. Com a novidade, o dente é fixado em um prazo de até dez dias.
ADEUS AOS CORTES
A tomografia computadorizada é recrutada pela implantodontia. O dentista se guia pelas imagens de um monitor para introduzir o parafuso do implante dentário. Mais conforto e rapidez durante e após o procedimento.
Fonte: CROSP