Ninguém precisa ser naturalista para melhorar a alimentação.
Mas, afinal, o que é um naturalista?
Antigamente chamavam assim as pessoas que iam viver nas
ilhas: todo mundo pelado no meio da natureza, tomando banho de sol e de chuva,
comendo fruta, observando passarinhos e convivendo com as cobras numa boa. Mas
essa moda não pegou, e hoje em dia naturalista é principalmente quem come
comida natural.
E o que é comida natural? Existe alguma comida que não seja
natural?De uma forma ou de outra, tudo é tirado da natureza. Até o plástico,
que vem do petróleo, que por sua vez vem lá do fundo da terra, pode ser
considerado natural. No entanto, o plástico não se desmancha de novo na terra;
não é como a madeira, a casca de banana ou o corpo da gente que vieram do pó e
ao pó voltarão; podem se passar anos que o plástico ainda estará do mesmo
jeito.
Existem comidas que são como o plástico — não se desmancham
dentro do corpo, não se misturam com a nossa natureza de uma forma normal.
Então, aqui e ali começam a aparecer os montinhos de lixo que a gente comeu. Em
volta deles vão se instalando as bactérias, os vírus e os micróbios, e dali a
pouco tudo já virou bagunça, ou seja: doença.
Quer dizer: certas comidas agridem a nossa natureza,
enquanto outras se integram ao nosso corpo de uma forma completamente natural.
Por isso é que se fala comida natural.
Por exemplo, a dona Maria, lá daquele lugarejo do sul de
Minas, come comida natural. O feijão vem da roça do Bento, o arroz quem traz é
dona Fujiko, o milho e o aipim e as verduras são ali do quintal mesmo e as
frutas aparecem conforme Deus vai dando: banana, laranja, tangerina, jaca,
mamão, jabuticaba, abacate, cada qual na sua estação. Os ovos também são do
quintal, postos todo dia pelas galinhas que têm até nome. E se acontece de
comer um frango, um leitão, um cabrito ou uma carne de vaca, todo mundo sabe
que o animal era bem tratado e sem nenhuma doença.Dona Maria tem uma saúde de
ferro.
Muito longe de Minas, lá nas bandas do Maranhão, seu Ribamar
também come comida natural: é um peixe, uma caça, um milho, uma farinha de
mandioca, um óleo de coco babaçu,
umas folhas de vinagreira cozidas só no bafo da panela,
muita castanha-do-pará, banana, coco e todas as frutas que Deus também dá por
lá. Seu Ribamar é outro que tem saúde de ferro.
Agora: o filho da dona Maria e a filha do seu Ribamar, que
foram atrás de outra vida na cidade grande, não comem comida natural, não.
Porque na cidade nada é colhido ou criado, tudo é comprado no supermercado,
enlatado, empacotado, congelado, superconservado, já vem preparado, já vem
temperado, já vem salgado e adoçado que é pro freguês ficar bem acostumado...
Então eles comem é muita lataria, refrigerante, salsicha, quitute, macarrão com
molho pronto, pão com margarina, doce, biscoito, café com leite. Sabem que não
é uma comida forte, mas vão comendo assim mesmo.A saúde deles é muito fraca.
Sentem dor de cabeça, acordam cansados, se irritam com facilidade, volta e meia
estão com gripe. A filha do seu Ribamar tem prisão de ventre e está engordando
muito, o filho da dona Maria sente uma queimação no estômago que parece úlcera.
E Júnior, o herdeiro, que só tem três anos, vive dando entrada no hospital por
causa de asma.
Nós somos o que comemos. Assim como uma árvore precisa de
terra boa para crescer e dar frutos, gente precisa de alimentos bons para ser
feliz.O filho da dona Maria e a filha do seu Ribamar não percebem que a comida
fraca está sabotando todo o seu sonho de felicidade.E você, como é? Já parou
pra pensar se a sua comida está ajudando ou atrapalhando você?
UM GRÃO DE TRIGO
pode valer mais que um grão de ouro. Porque o ouro só serve
para ser trocado por outra coisa, enquanto o grão de trigo, sozinho, é capaz de
criar vida na terra e produzir quilos e quilos de grãos iguais a ele. Desse
trigo, moído, é que a gente aprendeu a fazer o pão nosso de cada dia, aquele
que Jesus multiplicou. Escuro, integral, bom de mastigar, enchendo a barriga e
alimentando bem.
Mas o pãozinho que a gente compra hoje na padaria não tem
nada a ver com aquele. O trigo foi moído do mesmo jeito, sim, mas a farinha foi
tão peneirada que acabou ficando só com a quinta parte das qualidades. Pense
nos cinco dedos da mão, depois pense na mão com um dedo só. Percebeu? Em se tratando
da riqueza do trigo, a farinha branca é um aleijão!
E o pior é que é danado de gostoso, o tal do pãozinho.
Porém: engorda, prende o intestino, não alimenta. Uma pessoa que come pão
integral todo dia fica mais forte e evita a prisão de ventre. Veja depois nas
receitas como é fácil fazer em casa!
O BRASIL FOI
DESCOBERTO
em 1500, quando ninguém tinha ainda o hábito de comer
açúcar. Aliás, nem existia cana-de-açúcar por aqui; foram os portugueses que
trouxeram, porque conheceram lá no caminho das Índias um tipo de rapadura — e
adoraram. Mas era uma coisa tão cara, tão cara, que só reis podiam comprar. Pra
você ter uma idéia, em 1630 um boi gordo custava 11 moedas de ouro, e cem
gramas de açúcar custavam 12! Quer dizer, cem gramas de açúcar valiam um boi.
Hoje, qualquer pessoa come normalmente mais de cem gramas de
açúcar por dia. Ficou banal, porque os fazendeiros, usineiros, comerciantes e o
governo acabaram conseguindo meios de produzir muito açúcar a preços
baixíssimos. Um desses meios foi a invenção de máquinas para fabricar açúcar em
pó em vez de pedras de rapadura. Outro foi a utilização de escravos nas
plantações de cana e nos engenhos, pessoas que foram arrancadas de suas
próprias casas na África para trabalharem aqui até morrer de cansaço ou pancada.
Para fazer açúcar, primeiro se cozinha o caldo da cana até
virar melado; secando mais, esse melado cristaliza em forma de rapadura. O
melado e a rapadura são como o grão de trigo, têm coisas muito ricas para nos
dar — como ferro e cálcio, por exemplo, que fortalecem o sangue, os ossos e o
sistema nervoso. Já o açúcar branco não vale nada. É só um cristalzinho doce
que não tem vitaminas, não tem minerais, não tem proteínas, não tem gorduras,
não tem nada que sirva para alimentar a gente. A propaganda diz que ele dá
energia. Mas essa energia na verdade não dura, e só uma onda de calor que passa
logo e deixa a pessoa mais fraca do que já estava.
A verdade é que esse monte de açúcar que a gente põe no
leite, no café, no suco, na geléia, no pudim, no doce, no chocolate, na bala,
no bolo, no biscoito e até no coitado do pão, esse monte de açúcar faz um mal
danado. Pra começar, cria no corpo um ambiente muito gostoso para micróbios,
bactérias e infecções, do mesmo jeito que o açucareiro aberto atrai baratas, ratos
e formigas. Depois, como é muito concentrado, prejudica o estômago, o pâncreas,
o baço, os rins e os intestinos. Nosso sistema de defesa gasta reservas de
vitaminas e sais minerais tentando neutralizar o excesso de açúcar, mas
raramente consegue. Por fim, esse excesso se acumula no corpo em forma de
gordura (por isso é que o açúcar engorda) e afeta até mesmo a nossa capacidade
de pensar com clareza.
Quanto mais açúcar na comida, maior o risco de doenças
graves como diabete, câncer, enfarte... Fora as mazelas de todo dia, como dor
de estômago, de cabeça, de barriga, vermes, cáries, espinhas...
Nem tudo o que é gostoso faz mal. Mas açúcar, além de fazer
mal, vicia.
Você sabia que dá para fazer doces deliciosos usando apenas
a doçura natural das frutas?
A GALINHA DO VIZINHO
bota ovo amarelinho, bota um, bota dois, bota três, bota
quatro, bota cinco, bota seis...
Galinha de quintal todo dia namora o galo e bota ovo no
ninho; depois de umas três semanas deita em cima para chocar e dali a algum
tempo começam a sair os pintinhos. Toda prosa, dona Galinha vai passeando com
eles pelo terreiro, ensinando a ciscar, a encontrar minhoca, a bicar
quebradinho de milho ou de arroz, a beber água. Quando eles já estão
grandinhos, ela começa a namorar e botar de novo pra chocar mais pintinhos.
São ovos de casca forte e têm a gema quase cor de abóbora.
Alimento cem por cento bom, pra se comer no máximo uns dois por semana e
fortificar o sangue.
Agora, esses ovos que vêm da granja, você sabe como são
produzidos? Assim: primeiro tem um monte de pintinhos que recebem uma ração
especial para crescerem logo. Quando já dá pra separar as fêmeas dos machos
(porque antes a gente não percebe a diferença), a ração delas muda: ganha
produtos químicos que aceleram os ovários. Então elas começam a pôr muitos
ovos, dois ou mais por dia, e não param nunca pra chocar e criar pintinhos.
Também, nem têm galo pra namorar. Vivem em gaiolas, não pegam sol, jamais
passeiam para ciscar e comer minhoca. Tomam montes de vacinas e antibióticos
para não ficarem doentes. Lá pelas tantas elas não dão mais nada; aí vão para o
abatedouro.
São esses ovos feitos com antibióticos e substâncias
químicas que a gente compra na feira ou no supermercado. São essas galinhas e
frangos tristes, criados à base de drogas, que oferecem para a gente comer. O
tal do chester, então, é mais artificial ainda — uma raça criada em laboratório
para dar mais lucro.Na alimentação natural a pessoa se preocupa com isso,
procura conseguir frangos e ovos de quintal. Mesmo que
consiga só de vez em quando, está bom. Afinal, ninguém precisa mesmo comer
frango e ovo todo dia.
A COMIDA DE TODO DIA,
no Brasil e em muitos lugares do mundo onde há fartura, é
feijão com arroz, legumes, verduras, um pouquinho de produto animal se tiver.
Essa combinação rica não dá tanta despesa quanto a comida à base de carne e
satisfaz completamente as nossas necessidades.
A parte maior do prato é sempre ocupada por algum tipo de
cereal, em grão (como arroz e milho), flocos (como aveia), farinha (como
macarrão, pão, angu). Aí, para acompanhar, entra o nosso amado e idolatrado
salve-salve feijão!, que também pode ser grão-de-bico, lentilha, ervilha, fava,
etc. Só nessa dupla já existem proteínas e calorias suficientes para manter o
organismo funcionando direitinho. O resto da mistura completa o fornecimento de
vitaminas, minerais, fibras e outras delicadezas de nomes estranhos (vanádio,
molibdênio, coisas assim) sem as quais o corpo, a cabeça e até as emoções
começam a dar defeito.
O que a gente chama genericamente de 'legumes e verduras' na
verdade tem três naturezas diferentes: o que cresce da terra para baixo, o que
cresce da terra para cima e o que dá fruto.
Da terra para baixo crescem as raízes, os bulbos, os
tubérculos — cenoura, nabo comprido e redondo, rabanete, bardana, beterraba,
cebola, alho, aipo, erva-doce, batata-doce, batata-inglesa, inhame, cará, aipim
(que em São Paulo se chama mandioca e no norte é macaxeira), batata-baroa (que
no sul é mandioquinha ou batata-salsa). As raízes são mais compridas, os bulbos
têm gosto mais forte, os tubérculos são mais massudos.
Da terra para cima crescem as verduras de folha: couve,
repolho, mostarda, alface, agrião, almeirão, serralha, bertalha, espinafre,
acelga, taioba, caruru, beldroega, coentro, hortelã, salsa, cebolinha, jambu,
vinagreira, mastruço, ora-pro-nóbis, chicória, bredo e tantas outras! Sua cor
vem da clorofila, que limpa e oxigena o sangue, e fora isso as folhas ainda têm
vitaminas e minerais muito importantes.
Os frutos têm os formatos e as texturas mais diferentes:
abóbora, abobrinha, chuchu, pepino, maxixe, quiabo, jiló, cará-do-ar, jurubeba.
As frutas são irmãs dos frutos, e se diferenciam pelo gosto adocicado.
E o que vem dos animais, como a carne, os ovos, o peixe, o
queijo? Muita gente se alimenta basicamente deles; na comida natural, ao
contrário, procura-se fazer como a maioria da humanidade sempre fez e comer só
um pouquinho. Porque pouco pode até ser remédio, muito é veneno.
Muitas doenças são resultado do excesso de carne, ovos,
laticínios e gordura animal na alimentação.Se o almoço teve carne, frango ou
peixe, a janta pode ser só de vegetais.
E olho vivo na quantidade de queijo, tá? Afinal, ele é muito
concentrado: uma fatia grossa, de cem gramas, equivale a um litro de leite.
Muitas pessoas se recusam a comer qualquer produto animal;
são vegetarianas e acreditam que não devemos matar para comer se a terra já nos
dá tanto alimento. Outras admitem comer ovos ou laticínios, porque nesse caso
não se trata de uma comida morta. Elas geralmente se sentem bem e são
saudáveis. Mas cada indivíduo é diferente do outro; assim como um carnívoro
adoentado pode ficar bom se parar de comer carne, um vegetariano fraquinho pode
se fortalecer comendo um pouco de produto animal. No fim das contas, parece que
o grande segredo está mesmo naquele famoso conselho de Jesus: 'Conhece a ti
mesmo'. Só o autoconhecimento pode ser nosso guia.
Se você quer preparar uma refeição equilibrada, lembre de
três coisas: a salada crua é importantíssima para a refeição, um prato colorido
enche a pessoa de vida ,a variedade de sabores pode garantir a saúde.
Certos alimentos precisam ser cozidos, mas outros perdem
muita coisa quando vão ao fogo. É uma questão de energia e de vitaminas. Por
isso vale a pena insistir nas saladas — sempre muito bem lavadas, é claro — a
menos que se esteja com o inverno no corpo, sentindo frio, resfriando à toa,
urinando a toda hora. Nesse caso, o calor do fogo na comida pode ser importante
para aquecer a gente por dentro e até mesmo as frutas devem ser cozidas.
As cores e os sabores também revelam diferenças na energia
dos alimentos. Repare como um prato fica mais bonito, completo e satisfatório
se tiver várias cores — branco, amarelo, verde,
vermelho, marrom — e todos os sabores: doce, salgado, ácido,
picante, amargo. Os sábios chineses já diziam há muitos séculos que a gente
precisa saber misturar direito os sabores para ter vitalidade no corpo, na
mente e no espírito. Nosso erro é comer demais o salgado e o doce, deixando de
lado o ácido (do limão), o amargo (do jiló, das verduras como chicória) e o
picante (do nabo). Comemos demais o marrom (feijão, carnes cozidas) e o branco
(pão, arroz polido, macarrão, laticínios) e quase nada verde, quase nada
amarelo...
Aliás, alguém precisa ser sábio para perceber que deve comer
de tudo um pouco?
AGORA,
uma coisa que nem todo mundo sabe: a gente joga fora
justamente as folhas que alimentam mais. As folhas do aipim (macaxeira,
mandioca mansa) e da batata-doce são alimentos riquíssimos em vitaminas e sais
minerais. Dê uma olhadinha na tabela para comparar:
100 gramas mg
ferro mgvit A
folha de aipim 7,6 1960
folha de batata-doce 6,2
975
caruru 5,6 530
mostarda 3,0
700
espinafre 3,3
585
salsa 3,1 607
serralha 3,1
480
bertalha 1,6
582
ora-pro-nobis 3,6 250
taioba 2,0 300
couve 1,0 650
alface 1,3 87
repolho 0,7
10
As folhas de nabo, rabanete, cenoura, beterraba, couve-flor
e brócolis também são ótimas para comer, com talo e tudo. A pessoa que se
alimenta de verduras frescas nunca vai ter problemas de anemia, pois seu sangue
será rico em ferro, nem está arriscada a perder a visão, como os que têm
deficiência de vitamina A. Com mais um detalhe interessantíssimo: todas essas
folhas ajudam o intestino a funcionar bem. Não é ótimo?
Em geral, as verduras podem ser comidas de várias formas:
cruas, ligeiramente cozidas no vapor, aferventadas, refogadas num tiquinho de
óleo ou mesmo só murchinhas na quentura da panela. Ficam gostosas também quando
você mistura folhas cruas com sal, amassa com as mãos, espreme e corta. Se
ainda achar salgado, passe na água e torne a espremer.
Mas atenção, muita atenção: a folha do aipim tem um
componente venenoso, o ácido cianídrico, que só é neutralizado pela fervura ou
pela secagem. Por isso a maneira mais prática de obter toda a riqueza da folha
do aipim é: secar na sombra (se for no sol ou no forno, ela perde a vitamina
C), transformar em pó (com as mãos, no pilão ou no liquidificador), peneirar,
guardar num vidro tampado e usar uma pitadinha em tudo o que for
cozinhar.Atenção também quando fizer espinafre — ele deve ser comido na hora;
depois de algum tempo fica ácido demais e faz mal. Por isso é péssima idéia
fazer pastéis ou tortas de espinafre.
OUTRA COISA
que a gente joga fora sem pensar é a casca do ovo, que é
puro cálcio. O cálcio é o mineral que forma os ossos e os dentes; os nervos e
músculos também dependem dele para funcionar. Cólicas, cãibras, insônia e
nervos à flor da pele podem ser um sinal de que a pessoa precisa de mais
cálcio. E toda mulher, dez dias antes da menstruação, começa a precisar de mais
cálcio.
Para aproveitar o cálcio da casca de ovo, a gente transforma
em pó: lava bem, seca no sol ou no forno, tritura até ela ficar fininha como
talco, coa num pedaço de fralda ou gaze, guarda num vidro e usa uma pitadinha
em todas as comidas. Importante: para o pó dissolver bem e ser assimilado,
basta deixar de molho no limão durante uma meia hora. Se não, ele sai do mesmo
jeitinho que entrou...
Verduras de folhas verde-escuras como bredo, folha de
abóbora, caruru, couve, folha da mandioca (fervida ou em pó), mastruço, nabiça,
vinagreira, coentro e salsa são ricas fontes de cálcio.
Aí você vai perguntar: e o leite não tem cálcio? Tem. Mas
não é todo mundo que tolera bem o leite de vaca. Quando a pessoa fica com
gases, alergia, rinite, problemas de fígado, ou sente a boca seca depois de
beber leite, isso indica que é melhor procurar cálcio num alimento mais
apropriado para gente. Gente não é bezerro, é?
AI, AI, MAS TEM MUITO
BEZERRO
comendo melhor do que gente. Conhece aquele farelinho de
trigo que é vendido nas casas de ração? E aquele farelinho de arroz que também
dão para o porco e as galinhas? Pois então fique sabendo que eles são mais
nutritivos que a maioria das comidas comuns que a gente põe na mesa.
Sério! Não existiria mais fome no Brasil se todo mundo
pudesse comer ao menos o que o gado come.
E a razão disso é muito simples. Como já sabemos, o moinho
mói o trigo e peneira muitas vezes para a farinha sair bem branca e fina. O que
sobra na peneira? Farelo e germe de trigo. Uma parte é separada para vender nas
lojas de produtos naturais, a outra vira ração. Mesma coisa na máquina de
'beneficiar' arroz. O arroz chega lá integral, com aquela pelezinha onde o
Criador botou todas as vitaminas, e sai de lá despelado, lixado, empobrecido,
branco. O que sobra é o farelinho, melhor coisa que existe para engordar porco
e galinha, alimento tão rico quanto o melhor leite da região.
Aí um casal de médicos, Clara e Rubens Brandão, percebeu
isso e resolveu utilizar os farelos para ajudar na alimentação das crianças
desnutridas lá do Pará. Criança com três meses de idade parecendo
recém-nascida, fraquinha, quase indo embora, começava a tomar mamadeira feita
assim: leite, farelo de arroz ou de trigo, fubá, farinha de mandioca, pó da folha
do aipim, pó da casca do ovo e uma colher de óleo de cozinha depois de apagar o
fogo.
Os resultados eram impressionantes. Em pouco tempo parecia
outra criança. Gorda, cabelos e olhos brilhantes, reflexos perfeitos, sorriso
em vez de sofrimento. Tanto que as creches ligadas
à LBA e à Pastoral da Criança começaram a usar esse sistema
pelo Brasil inteiro, e ao longo de onze anos muitas vidas foram salvas graças
ao bom senso e... à ração de gado.
Por falar em bom senso, aqui vai uma história curiosa. A
doutora Clara Brandão reparou que os adultos de lá também se alimentavam muito
mal. De manhã, por exemplo, tomavam café com leite, pão com margarina, e só. É
claro que duas horas depois estavam com fome, pois isso não sustenta, não dá
forças nem capacidade de concentração para o trabalho ou estudo. Naquela
região, até um tempo atrás, o costume era comer mingau ou cuscuz de manhã.
Então Clara começou a sugerir que voltassem a essa tradição, preparando a massa
com fubá, leite e farelo. Como ela estava tendo bons resultados com as
crianças, os adultos resolveram tentar. E realmente se sentiram mais fortes e
bem alimentados, sem fome até a hora do almoço. Mas o melhor veio depois.
Fazendo as contas, viram que uma família de seis pessoas gastava 60% do salário
mínimo só com as despesas de café, leite, pão, margarina e açúcar. Com a volta
do mingau e do cuscuz, a despesa diminuía para 20%. Sabe quanto isso representa
de economia por ano? Quase cinco salários, só no café da manhã, e com mais
saúde. Quem não quer?
TUDO O QUE ENTRA
de alguma forma tem que sair. O que a gente come se
transforma e aparece em algum lugar. As vitaminas saem como brilho dos olhos e
dos cabelos, luminosidade da pele, alegria, vitalidade; as porcarias saem como
espinhas, furúnculos, coceiras, mau hálito, mau humor, dor de cabeça. E se os
nossos principais canais de saída não estiverem funcionando bem, a gente
entope. Que canais são esses? Os intestinos, que eliminam os restos sólidos; os
rins e a bexiga, que eliminam os restos líquidos; a pele, por onde sai o suor
junto com muitos cheiros bons ou ruins.
Quando os intestinos estão cheios demais e o que tem de sair
não sai, a gente diz que está com prisão de ventre. É um problema constante
para quem come comida refinada, pobre em fibras; ela faz a coisa emperrar. Além
da sensação de entupimento, a prisão de ventre costuma dar dor de cabeça,
irritação e tendência a ficar doente por causa das toxinas acumuladas. O farelo
de trigo e o farelo de arroz, ricos em fibras, geralmente resolvem a questão
rapidinho. E se a pessoa estiver comendo bastante vegetais fibrosos, melhor
ainda. Essa tal de fibra não se desmancha na digestão e quando chega aos
intestinos começa a ser trabalhada pelas bactérias que moram lá. Isso produz
fermentação e torna as fezes mais leves, ajudando-as a deslizar pelo enorme
tubo intestinal (nove metros!). Todos os talos macios de verduras como agrião,
brócolis, espinafre, bertalha, aipo, chicória, acelga etc são bons de fibra.
Flocos de aveia, arroz integral, trigo, milho são ricos em fibras naturais. A
cevada, que parece muito com arroz, é uma grande faxineira dos intestinos e
vivia sendo receitada por Hipócrates, o pai da medicina, como um senhor
remédio! Taí um seguro de saúde bom e barato — quem tem intestinos limpos quase
nunca fica doente.
Os rins e a bexiga eliminam as sobras líquidas, e para
funcionarem a gente precisa beber água. Entre as refeições, que é para a água
ir lavando as sujeirinhas orgânicas que sobram do processo de digestão.
Normalmente se indica beber no mínimo dois litros de água por dia — contando
com os outros líquidos, é claro. E dando preferência à água fresca, de filtro
de barro com velas. Água gelada sempre dá um choque na temperatura morna
natural do organismo, perturbando uma série de processos de circulação do
sangue e digestão.
A qualidade da água também é importante. Se não for de
fonte, purinha, é preciso filtrar, ferver ou esterilizar ao sol. Conhece este
método? Basta colocar a água, mesmo a mais contaminada, dentro de uma garrafa
limpa de vidro branco ou azulado, ou num saco plástico transparente, e expor ao
sol forte durante no mínimo duas horas. Se puder ficar o dia inteiro, é ainda
mais seguro. Os raios ultravioleta do sol matam todos os microrganismos
nocivos.
BEM, JÁ ESTAMOS
ÍNTIMOS
da comida mais natural, é hora de encarar de frente uma
certa quadrilha de bandidos que assalta a saúde da gente todo dia: sal,
gordura, café e álcool.
O sal em excesso faz subir a pressão, prejudica os rins,
deixa a pessoa tensa e nervosa, prende o intestino, ameaça o coração.
A gordura, além de ameaçar o coração, prejudica o fígado e a
vesícula, afeta a pele, dá caspa, atrapalha a digestão. Principalmente a
gordura das carnes, da lingüiça, da pele do frango, do toicinho. Aquela das
frituras, então, é péssima, sobretudo quando não se troca o óleo da frigideira.
É comum a pessoa coar e guardar para fazer economia, depois vai gastar muito
mais com médico e hospital...
O café é um estimulante poderoso, deve ser usado com
cuidado. Um ou dois cafezinhos por dia não costumam fazer mal; acima disso pode
ficar perigoso: a cafeína se acumula no organismo e faz a gente perder
vitaminas e sais minerais, afeta o sistema nervoso, produz ansiedade, aumenta a
produção de suor e de urina, irrita a mucosa gástrica, sobrecarrega o coração. Indiretamente,
pode causar até abortos. Olho nele.
O álcool também rouba vitaminas e sais minerais, prejudica
muito o fígado e, como se sabe, vicia. Existem milhões de alcoólatras no mundo
e a perspectiva de vida deles não é nada boa. A pessoa começa a beber
socialmente, depois se acostuma com aquele papinho que só acontece no bar, aos
poucos o organismo vai tolerando doses cada vez maiores e um belo dia a bebida
se torna mais importante do que qualquer outra coisa.
Quem bebe geralmente se alimenta mal, na base do lanche e do
tira-gosto; dificilmente vai comer legumes, verduras e frutas, pois prefere
sabores fortes para combinar com a bebida. Isso já enfraquece a saúde. Somando
com o fato de que o próprio álcool gasta as reservas do organismo, o resultado
é desastroso. E como largar a bebida é das coisas mais difíceis do mundo, o
melhor mesmo é evitar!
POIS É, ENTÃO VAMOS
às receitas. Mas antes, diga lá uma coisa: sua boca está
feliz? Como vão os dentes? E as gengivas? Você mastiga bem?
Mastigar a comida tem várias funções. Uma é triturar o
alimento, porque senão o estômago não consegue aproveitar. Outra é produzir
saliva para amolecer o alimento e começar logo a digestão na boca mesmo. Outra
é saborear — ter prazer com aquele gosto, aquela textura, aquela consistência.
Quem come correndo e engole sem mastigar não curte verdadeiramente a comida.
Os dentes são nossos instrumentos de comer. Sem eles a gente
não mastiga direito, sem mastigar não produz sucos digestivos, e aí é que nem
lavar roupa sem sabão — não presta. Então os dentes têm que estar em boas
condições.
Uma boca cheia de cáries é sinal de que alguém está
autorizando as bactérias a furarem seus dentes! Primeiro porque fica comendo
doces ou bebendo refrigerantes ou chupando balas ou tomando cafezinhos entre as
refeições, segundo porque não escova direito. Quem está lá de novo? O açúcar,
esse safado. Ele deixa um tipo de grude na boca que é ótimo para a
multiplicação das bactérias da cárie.
Bactéria de cárie é um bichinho porco. No mesmo lugar em que
come o grude ela faz cocô, cria toxinas, etc, etc, etc.Você já viu ferrugem?
Começa num pontinho, vai se espalhando e toma conta do ferro todo. Mas se a
gente lixar bem logo que ela começa, e passar um óleo ou pintar
com zarcão, acaba o perigo. Com as cáries é a mesma coisa.
Quando a gente não escova os dentes à noite, você já reparou como de manhã eles
acordam ásperos, peludos? Pois é a tal da placa bacteriana se instalando,
igualzinha à ferrugem. É ela que a gente tem que limpar bem com escova e fio
dental. A pasta só serve para dar um gostinho. Quem faz o serviço pesado, quem
executa a faxina, é a escova. E é uma delícia sentir como os dentes bem
escovados ficam lisinhos!
As gengivas também merecem cuidados. Quando são firmes,
cor-de-rosa e bem coladas nos dentes, estão saudáveis. Mas quando estão
vermelhas, moles, inchadas, guardando resíduos entre elas e os dentes e
sangrando por qualquer coisa, estão doentes. Podem dar mau hálito e prejudicar
muito a saúde da pessoa.
DICAS DA BOA BOCA
Coma seus doces sempre na sobremesa, e não entre as
refeições. Cada vez que o açúcar passa pela boca faz um certo estrago, mesmo
que seja só um tiquinho. Mas depois do almoço ou jantar a boca ainda fica uma
hora ou mais sendo lavada pela saliva da digestão, por isso o estrago é menor.
Evite tomar refrigerantes e bebidas açucaradas.
Por que botar açúcar na mamadeira do bebê? Ele ainda é todo
purinho, não tem vícios, e está acostumado com o leite natural da mãe — cuja
doçura é suave como a do leite puro de vaca. Se você adoçar a mamadeira, ele
vai se acostumar a querer tudo muito doce; se não adoçar, ele vai mamar do
mesmo jeito e ter mais saúde. Você já reparou como os dentes da criança que
toma mamadeira doce são prejudicados? Principalmente os da frente, porque é
comum a criança dormir com a mamadeira na boca. Imagine que festa para as
bactérias!
Procure passar o fio dental e escovar os dentes ao menos uma
vez por dia, antes de dormir; o ideal é repetir de manhã, olhando no espelho
para prestar atenção.
Os dentes das crianças até sete anos têm que ser escovados
pelos mais velhos, ao menos três vezes por semana. O melhor jeito é deitar a
cabeça da criança no colo para poder limpar bem os dentes de trás.
Prefira as escovas pequenas, de consistência média (nem
macias nem duras), tanto para as crianças quanto para você. As grandes podem
machucar as gengivas.
As pastas dentais com flúor podem ser úteis contra as cáries
se a sua região não tiver água fluoretada; se tiver, o excesso de flúor pode
ser muito prejudicial à saúde.Um tiquinho de pasta do tamanho de uma lentilha é
suficiente para todo o serviço.
Escove só os dentes, não as gengivas! A escova deve pegar os
dentes de quina, tanto por dentro quanto por fora. Para escovar a parte interna
dos dentes da frente, use o bico da escova, segurando na vertical (para escovar
o resto, ela estará na horizontal).
Os dentes gostam de morder maçãs, cenouras, goiabas e outros
alimentos mais durinhos, que também massageiam as gengivas. Os ossos precisam
de exercício para serem fortes, os dentes precisam mastigar bastante para serem
firmes.
Melhor prevenir do que remediar. Se os seus dentes estão
bons, os cuidados com a alimentação e a higiene vão garantir conforto por muito
tempo. Se existem pequenas cáries que não incomodam, evitar o açúcar e escovar
direito vão impedir que elas aumentem. (Às vezes o dentista faz um buracão onde
só tinha um buraquinho!) Se houver algum dente arruinado é importante tratar,
senão ele infecciona o sangue. Dente que dói com coisa quente ou gelada pode
estar doente mesmo que não esteja cariado; é bom ir logo ao dentista.
RECEITAS
Arroz integral
É o alimento mais importante da comida natural, justamente
por ser o cereal que a gente consome quase todo dia. Deve ser cozido somente
com água e sal, sem refogar. Mas você pode tostar o arroz na frigideira antes
de cozinhar que ele fica bem solto e gostoso.
Medidas: para cada copo de arroz, 2 ¼ copos de água e uma
colher de café de sal.
Abaixe o fogo depois que ferver e tampe bem a panela, de
preferência grossa, de barro, pedra ou ferro. Leva cerca de meia hora para
ficar pronto. Se precisar, acrescente água.
Para as crianças e pessoas que não conseguem mastigar
direito você pode cozinhar o arroz integral com mais água para ele ficar bem
macio; não vale a pena bater no liquidificador porque se perde muita fibra.
É uma paçoca feita de gergelim com sal, muito boa para
servir por cima do arroz. Ponha na frigideira 14 colheres de sementes de
gergelim e toste ligeiramente, mexendo sempre; estarão boas quando você puder
esmagar as sementes entre os dedos. Cuidado para não tostar demais! Junte 1
colher de sal marinho e bata rapidamente no liquidificador ou soque no pilão,
de modo que fique uma paçoca grossa. Use no máximo uma colher de chá para cada
porção de arroz.
O gergelim contém proteínas, vitaminas e óleo de alta
qualidade.
Se na sua região existem casos de bócio (papo), use sal
iodado em vez de sal marinho; o iodo evita o bócio. Se você mora perto do mar,
provavelmente não corre esse risco, então pode usar sal marinho (sal natural do
mar, moído, sem refinar) que é mais rico em minerais.
Massa de torta
Misture duas partes de farinha de trigo integral com uma de
farinha branca; junte sal e óleo até a massa dar consistência; deixe descansar
um pouco se quiser que ela fique mais leve.Experimente também misturar uma
parte de farinha de trigo integral com uma de farinha branca e uma de fubá —
fica interessante!
Pão integral de massa
fermentada
Esta é a receita de pão integral mais simples que existe. De
noite você mistura 2 xícaras de farinha integral com água suficiente para obter
uma papa mole. Na manhã seguinte a mistura deve ter fermentado. Então você
acrescenta 3 xícaras de farinha, 1 colher de chá de sal, 1 colher de sopa de
óleo e amassa tudo muito bem, juntando mais farinha se for o caso.A
consistência da massa deve ficar igual à da ponta da orelha. E quanto mais você
amassar, melhor será o pão.Unte uma fôrma, ponha a massa, deixe crescer até o
fim da tarde; asse em forno pré-aquecido durante uma hora e meia; dentro do
forno coloque também uma latinha com água, cujo vapor não vai deixar a crosta
do pão endurecer.Vale a pena usar água de fonte ou mineral para fazer estes
pães — o resultado é muito superior ao que se consegue com água da torneira.
Lembre-se de que estamos procurando qualidade!Esta mesma massa serve para fazer
pão doce (recheando com algum doce de frutas depois da última amassada e antes
do pão crescer, é claro), pãezinhos, minipizzas, pão de frigideira.
Feijão bem temperado
Na alimentação natural, como quase não se come carne, é
importante comer um tipo qualquer de feijão todos os dias, variando sempre. Um
dia é mulatinho, no outro é lentilha, no outro é fradinho, no outro é feijão
preto, e assim vai.
Duas coisas são fundamentais para o feijão fazer bem: uma é
sempre deixar de molho durante a noite, outra é temperar direito. O feijão que
fica de molho é mais fácil de digerir, dá menos gases, gasta menos gás. E os
temperos, além de dar gosto, têm justamente o poder de facilitar a digestão.
Cozinhe o feijão só com água, jogando fora a água da
primeira fervura. Quando estiver macio, refogue um pouco de alho ou gengibre,
um pouco de cebola, junte cominho e coentro moídos; misture com uma parte do
feijão, amasse, deixe refogando um pouco e devolva à panela; ponha então o sal
e cozinhe mais dez minutos. Quando apagar o fogo esprema um tanto de limão por
cima, que fica gostoso e ajuda a absorver o ferro que o feijão contém.
Farofas de tudo
Todo mundo sabe fazer uma farofa: basta refogar alguma
coisa, que pode ser só alho ou uma boa mistura de cebola, ovos e vegetais
picadinhos, e acrescentar farinha de mandioca. O que nem todo mundo sabe é que
a aveia em flocos também dá farofas deliciosas e muito mais nutritivas. Uma
receita: toste numa panela uma xícara de aveia em flocos até dourar, mexendo
sempre para não queimar; refogue uma cebola em rodelas num pouco de manteiga;
ponha sal, junte a aveia apertando bem os flocos nas cebolas, e sirva
acompanhando um bom feijão. Hmm!
Experimente também fazer farofas com germe de trigo e com
farinha de milho pré-cozida — ficam deliciosas. Detalhe: quando fica rançoso, o
germe de trigo intoxica pra valer. Por isso é bom torrar e usar logo.
Inhame
Por incrível que pareça: feio e cabeludo, o inhaminho é o
primo rico da batata. Gostoso, nutritivo, faz tudo o que a batata faz e ainda
por cima limpa o sangue, protege contra malária, dengue, febre amarela e uma
porção de coisas mais que a batata não faz.
Sempre que puder, substitua a batata-inglesa por inhame,
cará, batata-doce, inhame do norte. Sua saúde vai sair ganhando e a de toda a
família também.
Sopas
A sopa é uma forma fantástica de pôr boas coisas para
dentro. Não só aquelas sopas fresquinhas que você faz na hora, misturando
vegetais de vários tipos e cores, como também aquele caldo que fica de plantão na
geladeira esperando a vez e que pode ser feito aproveitando os legumes que já
estão meio velhos. Ele deve ferver uns quarenta minutos e ser coado; sirva com
um pouco de macarrão cozido, ou arroz integral, pedacinhos de sobras do almoço
- ou até sozinho, um consommé.
Muito forte é a sopa feita com ossos, de boi, peixe ou
galinha. Se tiver, aproveite o tutano.
Também o caldo em que se desmancha um ovo de quintal é
fortificante. Se o ovo passar por uma peneira ou coador, fica bonito, à moda
chinesa.
Esse caldo pode ser engrossado com farinha de trigo integral
ou aveia em flocos para ganhar mais sustança, digo, substância. E para dar
frescor a toda sopa, espalhe por cima, na hora de servir, salsinha, hortelã ou
coentro picados.
Uma sopa muito forte se faz com cebola refogada, fubá e
vários tipos diferentes de folhas verdes acrescentadas quase na hora de apagar
o fogo. É a multimistura de folhas, idéia dos médicos Clara e Rubens Brandão
para dar um reforço na qualidade do nosso sangue.
Multimistura
O princípio da multimistura é o seguinte: a qualidade
depende da variedade.
Se você faz uma sopa com fubá, osso e couve, ela vai ter
muito menos elementos nutritivos e, portanto, menos qualidade do que se você
juntar cebola, salsa, serralha, folha de batata-doce, chicória, almeirão,
espinafre, caruru, taioba e o que mais tiver à mão, tudo bem picadinho, e sem
esquecer o pó da folha do aipim.
Essa multimistura de folhas pode ser refogadinha e
acrescentada ao angu, fica deliciosa. Pode ser servida pura também: cozinhe ligeiramente
no fundo da panela, ponha um tiquinho de sal e umas gotas de limão depois de
apagar o fogo. Pode servir de ninho para cozinhar um ovo, ou entrar numa
fritada ou omelete. Pode enriquecer a sopa na última hora. Enfim: vale tudo.
Só não vale cozinhar demais as verduras, deixar perderem a
cor verde-brilhante ou encher de sal e óleo. Certo?
PREPARANDO VEGETAIS
Para todos os vegetais existe essa regra de ouro: cozinhar
com pouca água e durante pouco tempo, para eles conservarem o máximo possível
das suas propriedades.Tem gente que vai cozinhar cenouras. Coloca duas cenouras
cortadas em rodelas lá embaixo e água até a boca da panela. Quando a cenoura
está macia, joga fora um montão de caldo que leva embora vitaminas e minerais.
Tem gente que vai cozinhar brócolis. Enche a panela de água.
Quando vão para a mesa, as lindas flores verdes já viraram tristezas marrons
que desmancham por qualquer coisinha.
Quando você for preparar vegetais, já com uma visão mais
natural da comida, lembre-se de que quase todos eles poderiam ser comidos crus.
Levar ao fogo significa transformar para obter uma comida quente, macia,
trabalhada pelo calor, pela água e pelo tempero. Então procure experimentar
várias formas de fazer a cenoura, o brócolis ou qualquer outro legume. Por exemplo:
1. refogando em pouco óleo o vegetal cortado em pedaços
pequenos ou fatias, mexendo sempre no sentido do relógio, fogo baixo, sem água,
até ficar no ponto;
2. cozinhando no vapor. Para isso você vai precisar de um
cuscuzeiro, ou então de uma grade com pezinhos que se encaixe dentro de uma
panela, ou ainda de uma peneira que também se encaixe e permita tampar bem a
panela; caso contrário o vapor escapa e não cozinha nada. Em último caso use um
prato do tamanho da boca da panela, acomode os vegetais, cubra com um
guardanapo grande, amarre as pontas por baixo, vire ao contrário, encaixe na
panela feito tampa e mande brasa. A água fica fervendo na parte de baixo, não
toca no alimento. Esta é uma das melhores maneiras de preparar vegetais, pois
não leva óleo nem altera o sabor;
3. cozinhando em pouca água, só o suficiente para que os
vegetais absorvam tudo no processo de cozinhar. Com tampa, fogo muito baixo,
balançando de vez em quando sem destampar. Quando a água seca, os vegetais
estão cozidos e não se perdeu nada importante pelo caminho. A não ser a
vitamina C, que morre no calor.
Outra regra importante: pouco ou nenhum sal. Às vezes, uma
pitadinha realça o sabor. Mas na maioria dos casos isso nem é necessário. Já
vamos salgar normalmente o feijão e colocar um pouco de sal no arroz. Pra que
mais? Pra dar hipertensão e sede?
E mais uma: a gente só deve descascar aquilo que tem casca,
como inhame, cará, mandioca, coisas assim. Cenoura, chuchu, pepino, abobrinha,
batata-baroa (mandioquinha) e outros vegetais que só têm pele devem ser usados
com ela, que é muito nutritiva.
A abóbora japonesa, a baiana e a moranga também podem ser
preparadas com a casca, que é gostosa e até valoriza o prato. Uma boa escova
dessas de fibra de coco tira todas as sujeirinhas na hora de lavar.
Paçoca
As sementes de gergelim, girassol, abóbora e melancia são
gostosíssimas e muito ricas em vitaminas, minerais, proteínas e óleos de boa
qualidade. Com elas se pode fazer gostosas paçocas para colocar em cima do
mingau ou de qualquer outra comida. As sementes de gergelim são fáceis de usar;
a receita da paçoca já está lá atrás, com nome de gersal, isto é: gergelim mais
sal. As de abóbora, girassol e melancia é preciso torrar e descascar antes de
usar. E se quiser uma paçoca doce, misture com rapadura ralada. Hmmmmm!
Sabia que as sementes de girassol protegem contra radiações
atômicas? Por isso é que, se explodir uma bomba, só vai sobrar papagaio... Mas,
falando sério, é um dos melhores alimentos que existem. A farinha de girassol
pode ser usada para fazer um delicioso pão e mil comidas mais. No México os
índios fazem com ela um creme para comer com frango. Aqui o consumo ainda não é
grande, mas já existem saquinhos de sementes de girassol descascadas e torradas
à venda por aí. Quem sabe um dia todo mundo descobre que o bom alimento é quase
de graça?
Saladas cruas
É aí que você pode deitar e rolar com toda a sua
criatividade. Praticamente tudo pode ser comido cru, menos a folha da mandioca.
Muitos médicos importantes afirmam que podemos evitar a maioria das doenças se
1/3 do nosso prato for de coisas cruas. Algumas combinações para você
experimentar:
chicória, pepino, cenoura
alface, beterraba, salsinha
acelga, cenoura, rabanete
acelga, salsa, cebolinha
cenoura, coco ralado, hortelã, limão
repolho, cebola, cenoura, pimentão, mel, limão
agrião, maçã, beterraba
nabo, cenoura, chuchu, cebolinha
abobrinha, rabanete, azeitona, coentro
abóbora, alface, manjericão...
Pode misturar qualquer tipo de verdura de folha, acrescentar
coco ralado ou amendoim torrado, temperar com limão e mel, pintar o sete! Um
ralador é muito útil nessa hora, porque faz as coisas mais duras ficarem fáceis
de mastigar.
Mas só rale ou corte os vegetais perto da hora de servir,
senão eles ficam secos e perdem toda a graça.Novamente, cuidado com o sal;
evite o vinagre de álcool, que prejudica o estômago, o fígado e 'corta o
sangue'; não abuse do óleo, do azeite e da pimenta.Existem nos supermercados
bons vinagres de maçã, de arroz e de vinho. Mas o limão substitui numa boa.
Usando triguilho
Triguilho é o grão de trigo moído bem grosso. Conserva bem
as propriedades do grão, contém muita fibra e é fácil de usar. Basta deixar de
molho no mínimo meia hora para ele inchar. Aí se pode misturar com salada (os
árabes fazem o famoso tabule usando triguilho, pepino, tomate, cebola, hortelã,
salsa e cebolinha), com sopa, com farofa, com purê de abóbora, enfim — com o
que a imaginação deixar! O gosto é neutro e a consistência é muito boa.
Dá até pra fazer um quibe natural, sem carne, juntando um
pouco de farinha de trigo ou de aveia em flocos finos, temperando bem com
cebola, hortelã, cominho, sal e pondo no forno para assar. Quem tiver ovo de
quintal, ótimo: acrescenta. O quibe fica mais forte. E se quiser um recheio,
use azeitona verde picadinha. Hmm!
Usando os farelos
Os farelos de arroz e de trigo podem ser acrescentados a
qualquer tipo de comida. Por exemplo: ao preparar o feijão, junte duas colheres
(sopa) de farelo; para enriquecer o arroz branco (ou mesmo o quebradinho, que
rende muito mais), cozinhe também com farelo. Misture o farelo na farofa, nos
bolinhos, nas sopas, nos mingaus. Ele praticamente não tem gosto nem altera o
tempo de cozimento.
Se for comprar nas casas de ração, é bom dividir com os
amigos, parentes e vizinhos, pois só vendem sacos de trinta quilos.
Prove o farelo de arroz para ver se não está rançoso; se
estiver, não serve.
É bom peneirar os farelos para tirar o grosso das fibras,
torrar levemente e guardar em vidro tampado para eles ficarem instantâneos,
isto é, não precisarem cozinhar.
A dose ideal é: 2 colheres (sopa) de farelo por pessoa
diariamente, seja ele de arroz ou de trigo. Olho vivo: mais do que isso não é
bom, pois o excesso de fibra prejudica a absorção de sais minerais.
Mamadeira e mingau com farelo. Esta é a receita mágica da
doutora Clara Brandão. Torre separadamente um copo de farelo de trigo ou de
arroz, um copo de fubá e um copo de outra farinha (de trigo, mandioca, arroz,
araruta, etc); misture e guarde num vidro tampado. Quando for preparar a
mamadeira, basta acrescentar ao leite duas colheres de sopa dessa mistura. Não
precisa levar ao fogo, a menos que queira engrossar. Não se esqueça de
acrescentar, depois de tirar do fogo, uma pitada do pó da folha da mandioca e
uma pitada do pó da casca do ovo. Se a criança estiver desnutrida, acrescente
também uma colher de óleo de cozinha.
Para fazer mingau, diminua a quantidade de leite e aumente a
de farinha.
Queijinho caseiro
Este queijinho é muito nutritivo, barato, fácil e rápido de
fazer. Como todos os queijos e laticínios em geral, não se recomenda a
alérgicos e pacientes de câncer! Leve ao fogo um litro de leite comum; quando
ferver, misture o suco de um limão, mexa bem e pronto, pode apagar. Você vai
ver logo como os coágulos se separam do soro. Coe num pano, tempere levemente
com sal e use para passar no pão, acompanhar doces, preparar pizzas ou pratos
de forno. Mas reserve o soro, que é muito nutritivo, para aproveitar em sopas,
mingaus e até como refresco, principalmente na alimentação de crianças e velhinhos.
Doces naturais de
frutas
Esta é uma boa mágica naturalista. Pegue uma dúzia de
bananas bem maduras, ou de maçãs; descasque e corte; ponha numa panela grossa
ou de pressão; junte só um dedinho de água e duas pitadinhas de sal. Leve ao
fogo e deixe cozinhando em fogo baixo, com tampa, durante quinze minutos se for
na pressão ou meia hora na panela normal. Então olhe... e veja que compota
maravilhosa aconteceu! Tremendamente doce, e sem usar um só grãozinho de
açúcar! Como é que pode?
Simples: toda fruta contém uma doçura natural, chamada
frutose. Alguns vegetais, como a cana e a beterraba, também têm. Quando a gente
cozinha, essa doçura se concentra. E o sal ajuda a puxar o sabor.
Se quiser um doce mais consistente, é só deixar cozinhando.
Quanto mais cozinha, mais doce fica. Ah: um pauzinho de canela e dois
cravinhos-da-índia combinam muito bem.
Experimente esta mesma fórmula com qualquer fruta madura:
mamão, manga, caqui, goiaba, abacaxi, caju, figo, enfim — qualquer fruta
naturalmente doce. E diga adeus ao açúcar branco e aos adoçantes artificiais!
DICAS BOAS DE BOCA
O tempero verde (salsa, cebolinha, coentro, hortelã,
manjericão, etc.) tem alto valor nutritivo, mas perde muito se for cozido mais
de um minuto; é melhor acrescentar sempre depois de apagar o fogo, ou na hora
de servir.
Temperar o prato com algumas gotas de limão ajuda o corpo a
absorver o ferro da comida.
Rapadura é mais saudável do que chiclete ou bala.
A casca da banana também é alimento! Contém fibras e bons
nutrientes. Pode ser picada e misturada ao refogado da farofa para surpreender
o pessoal na hora do almoço. Por que jogar fora o que é bom?
O farelo de arroz ajuda a curar feridas; basta peneirar,
torrar, misturar com um pouquinho de água e colocar por cima. Sem esquecer de
também comer farelo para fortalecer o sangue!
A entrecasca do aipim, cozida, parece até palmito
Dica da doutora Clara para combater a verminose: temperar os
alimentos cada dia com um tipo de planta vermífuga — no primeiro, hortelã; no
segundo, alho; no terceiro, coentro; no quarto, erva-de-santa-maria.
O liquidificador modifica a energia e as fibras da comida;
melhor amassar, peneirar ou moer.
Só o caldo do feijão não alimenta as crianças; tem que dar o
feijão mesmo, amassado no garfo ou peneirado.
O fubá, os farelos e as farinhas se conservam melhor quando
são torrados, ficam mais fáceis de digerir e permitem preparar sopas e mingaus
em menos tempo.
É bom usar sempre colher de pau. As panelas de alumínio,
quando são mexidas com colher comum, soltam raspas que vão para a comida. As de
ferro, pedra e barro são melhores para a saúde.
O vinagre, quando entra em contato com a panela de alumínio,
fica extremamente tóxico.
Os chás de ervas devem ser preparados em bules de louça ou
panelas esmaltadas; também não combinam com alumínio.No verão é bom comer
frutas, que refrescam o corpo; no inverno é bom comer sementes, que guardam
muito calor e energia para brotar na primavera.
Quem come frutas no inverno sente mais frio, quem come
sementes no verão sente mais calor.
BOCA FELIZ!
Pronto. Doeu? Nem um pouco? Então já podemos parar por aqui
e esperar pra ver o que acontece.
A vantagem de melhorar a alimentação é que os efeitos são
muito rápidos. Você começa a comer fibras e zapt!, no dia seguinte o cocô
melhora; você começa a comer verduras e vupt!, todo mundo nota como sua pele
está mais bonita. O mau hálito desaparece, a boa disposição aumenta, os
pesadelos acabam, a conta da farmácia evapora, a cabeça fica mais arejada.Se um
dia ou outro você abusa das coisas mais pesadas ou menos nutritivas, não faz
mal — agora já conhece o caminho de consertar.
Hoje em dia se fala muito em preservar a natureza. Mas a
preservação da natureza tem que começar em casa, pelo corpo, que afinal é a
nossa natureza individual. Estragar o corpo com coisas ruins é como devastar a
floresta. E você pode até apostar: as pessoas que estão agredindo o sistema
ecológico brasileiro são pessoas que também agridem a si mesmas através da má
alimentação, do cigarro, do álcool, da ganância e sabe-se lá do que mais.
Bom apetite — boca feliz pra você!
Fonte: Boca feliz - Livro de Sonia
Hirsch