Cerveja não engorda e previne doenças

Muita gente acorda com um sentimento de culpa após a noitada porque sempre ouviu falar que a cerveja estufa a barriga. Afinal, a bebida sempre foi o bode expiatório para os excessos que deixam o abdômen mais roliço.

No entanto, um estudo espanhol vai na contramão dessa crença e garante que tomar a bebida diariamente, ao contrário, evitaria o ganho de peso, além de prevenir diabetes, hipertensão arterial e problemas cardíacos.

A cerveja é uma bebida saudável e que faz parte da dieta do Homem desde tempos ancestrais. Sendo muitas vezes olhada como uma bebida dos pobres e inferior ao vinho, tem vindo a crescer não só em termos de qualidade como também de consumo. Desde as extraordinárias cervejas com frutos da Bélgica, passando pelas Porters e Stouts da Inglaterra ou pelas Malt Liquor norte-americanas, é hoje bem nítido que elas não são apenas boas para beber, como também fazem bem à nossa saúde, desde que consumidas moderada e regularmente, isto é, não mais de 1 caneca por dia. De fato, há muita publicidade que se refere aos benefícios do vinho na saúde, levando a que as pessoas considerem que apenas esta bebida nos trará bem-estar. Todavia, a cerveja, tal como o vinho, contem um grande número de componentes, entre os quais antioxidantes e vitaminas, provenientes dos cereais maltados empregues, pelo que podem ser igualmente benéficas para a saúde.

O consumo moderado de cerveja, vinho e outras bebidas, ao contrário do que acontece com o consumo excessivo e com a abstenção, pode proteger as pessoas de doenças cardiovasculares, como por exemplo ataques de coração e algumas formas de trombose, conforme já foi demonstrado em muitos estudos feitos um pouco por todo o mundo. Deste modo, estima-se que a ingestão de 30g de álcool por dia (cerca de 3 copos de cerveja), pode reduzir o risco de doenças coronárias em 25%. A explicação para esta situação reside no fato de a quantidade de colesterol no sangue (HD2, o bom colesterol) aumentar quando se consome álcool, diminuindo assim o risco de doenças. Investigações realizadas mostram que 2 copos de cerveja por dia (20g de álcool) pode aumentar o colesterol HDL na ordem dos 4%. É claro que o consumo em excesso não vai fazer este valor subir, indo, ao invés, provocar vários problemas noutros sistemas do nosso organismo. Outra explicação para os benefícios atrás descritos baseia-se na tendência que existe para a redução do aparecimento de coágulos no sangue quando se consome álcool. Outras investigações foram efetuadas no sentido de se aferir da influência do consumo de álcool em certo tipo de doenças. Deste modo, obtiveram-se resultados que evidencia que o consumo moderado de cerveja ou vinho pode proteger contra a formação de pedra na vesícula, osteoporose  e até a diabetes . Contudo, deve realçar-se que o fato de bebermos dois copos de cerveja  não evitará por completo o aparecimento de qualquer uma das doenças atrás mencionadas. Outros fatores como o controle do peso, uma dieta equilibrada ou o exercício físico regular são também essenciais para uma melhor qualidade de vida. 

A cerveja como elemento de uma dieta saudável

Por outro lado, a cerveja pode contribuir positivamente para uma dieta saudável. A sua produção, efetuada a partir de cereais como a cevada maltada, o lúpulo, o trigo, o arroz ou o milho, ajudam ao estabelecimento de uma dieta equilibrada. Para além destes ingredientes, a cerveja é basicamente água (cerca de 93%), constituindo pois uma fonte excepcional deste bem essencial à vida, servindo igualmente para saciar a sede. 

Como já atrás ficou dito, a cerveja pode integrar uma dieta equilibrada, fornecendo vitaminas essenciais e diversos sais minerais, podendo realçar-se o seu elevado teor de potássio e baixo valor de sódio, indispensável a uma tensão sanguínea normalizada. Tem baixo teor de cálcio e é rica em magnésio o que ajuda à proteção contra a formação de pedra na vesícula. Contêm igualmente, compostos do lúpulo, ativos na prevenção da descalcificação óssea.  Isto pode ser uma das razões pela qual o consumo diário de cerveja (33 cl de cerveja ± igual à cerca de 13g de álcool) tem sido referido como capaz de reduzir em 40% o risco de formação de pedra nos rins.

Para além de todos os benefícios já mencionados, outros há que não são de menor importância. Por exemplo, está provado que quem bebe cerveja conscienciosamente, fica fortemente protegido contra a ação nefasta do Helicobacter Pylori, elemento causador de úlceras estomacais e que pode ser um fator de risco para o cancro do estômago. A cerveja é ainda uma fonte de fibra solúvel, derivada das paredes das células dos grãos de cevada maltada. Um litro de cerveja contém, em média, 20% da dose diária recomendada de fibra, chegando algumas a fornecer 60%. Além de ajudarem a uma saudável função intestinal, as fibras têm uma ação benéfica ao encurtarem o tempo de digestão e absorção dos alimentos, para além de reduzirem os níveis de colesterol o que, por sua vez, diminui o risco de doenças do coração .

A lista de efeitos benéficos que o consumo moderado de cerveja pode trazer à nossa saúde é vasta e encontra-se em constante crescimento. Os estudos sobre os diversos ingredientes que a compõem, levam a descobertas que estão longe de ser imaginadas pela maior parte de nós. No entanto, facilmente se percebe que, tendo em conta os produtos que servem para elaborarmos uma cerveja, muitas outras virtudes poderão ser investigadas nos próximos anos. Para já, sabe-se que a cerveja é uma excelente fonte de vitaminas, sendo especialmente rica em vitaminas do grupo B, como por exemplo, a niacina, a ribofalvina, a piridoxina e os folatos. De fato, a piridoxina (vitamina B6) dá uma proteção adicional aos seus consumidores contra as doenças cardiovasculares, comparativamente com o que acontece aos consumidores de vinho e outras bebidas.Por seu lado, os folatos também têm uma ação protetora contra as doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro, sendo que para este último fato também contribui a existência de antioxidantes, provenientes da cevada maltada e do lúpulo. A cerveja contém, por bebida (de teor equivalente de álcool), mais do que duas vezes os antioxidantes do vinho branco e apenas metade dos que contém o vinho tinto. Contudo, muitos dos antioxidantes do vinho tinto são constituídos por moléculas de elevado peso que, por isso, não são tão facilmente absorvidas pelo organismo como as moléculas menores presentes na cerveja. Para além do mais, recentes investigações demonstraram que certos antioxidantes (flavanóides do lúpulo) têm capacidade para ajudar na luta contra o cancro (do trato gastrointestinal, do peito e tiróide, pelo menos).
A cerveja é uma mistura complexa de centenas e centenas de constituintes, originários das matérias-primas empregues e das transformações que se dão durante a sua produção. Muitos desses componentes são bioativos, podendo, assim, influenciar a saúde do consumidor. Destacam-se os que provêm do lúpulo, que são conhecidos por conferir uma atividade sedativa, estrogênica, inibidora de crescimento de tumores de dependência hormonal, bacteriostática e antiinflamatória, diurética, etc.

Beber cerveja engorda?

É habitual associar-se o consumo excessivo de cerveja com situações de obesidade, nomeadamente o aparecimento de uma barriga dilatada. Se for verdade que beber cerveja em grandes quantidades pode ajudar à distensão dos músculos da barriga, não o é menos dizer-se que isso também se deve ao fato dos grandes consumidores de cerveja serem, em geral, pessoas com um estilo de vida menos saudável. A realidade é que beber cerveja não engorda, desde que o seu consumo seja parte integrante de uma dieta equilibrada e se faça com moderação às refeições,o que engorda, na verdade, são os petiscos gordurosos que costumam acompanhar a cerveja, como salgadinhos e frituras. Como é facilmente constatável, para uma quantidade idêntica de cerveja, um yogurte de fruta, um copo de leite ou um sumo de maçã tem muitas mais quilocalorias, sendo, esses sim, produtos que podem contribuir para um aumento da massa corporal, independentemente de também serem produtos saudáveis e essenciais ao nosso bem-estar.

Recentemente, realizou-se um estudo na Espanha que mostrou que os bebedores regulares de cerveja não ganham, obrigatoriamente, peso. De fato, o consumo moderado de cerveja significou 4% das calorias totais das dietas dos homens e 3% das mulheres. O estudo evidenciou ainda que quem bebe cerveja com moderação tem uma dieta de maior qualidade nutricional que os não consumidores, uma vez que ingerem uma maior quantidade de ácido fólico e outras vitaminas do grupo B, essenciais para a prevenção de certas enfermidades e para garantir uma correta alimentação. Também em Portugal se fizeram várias pesquisas para aquilatar das qualidades da cerveja. Na busca do equilíbrio cervejeiro, o Dr. Manuel Rocha de Melo, da Faculdade de Ciências da Alimentação e Nutrição da Universidade do Porto, debruçou-se sobre as propriedades nutricionais da cerveja e concluiu que contém vitaminas do complexo B, polifenóis, fibra solúvel, minerais e álcool, frequentemente esquecidos pela dieta ocidental, que exercem benefícios na prevenção de várias doenças.Sem contar, o fato de ser pobre em lipídios e açúcares, leva-o a concluir que esta bebida pode ser, se (e apenas se) consumida de forma moderada, integrada numa dieta saudável. 

Conheça, pois, a composição desta refrescante poção:

1 - 93% de água. Os adultos necessitam de mais de dois litros de água por dia. Comparada com outras bebidas alcoólicas, a cerveja combate melhor a sede pelo seu alto conteúdo de água, que compensa os efeitos desidratantes do álcool.

2
- Álcool (etanol) 3,4%-9%. Se for ingerido em doses moderadas, o álcool contribui para evitar a acumulação de gordura nas paredes arteriais.

3
- Hidratos de carbono 2% a 3%. Proporciona cerca de 15 g da maior fonte de energia do corpo humano.

4
- Calorias. 33 cl de uma cerveja normal contêm cerca de 150 kilocalorias, menos 60 do que um refrigerante de cola, com a vantagem acrescida de não provocar cáries. Com certeza que 9 em cada 10 dentistas lha recomendariam.

5
- Gorduras. Zero... tinha dúvidas?

6
- Magnésio (48 mg, 12% da DDR*) e silício (6 mg). O consumo de cerveja associa- se a uma maior densidade mineral nos ossos, atuando como fator preventivo face à osteoporose.

7
- Potássio (190 mg, 12% da DDR). Compensa a perda excessiva deste mineral através da urina, importante na prevenção das cãibras musculares.

8
- Vitamina B12 (0,8 mcg, 48% da DDR). Produz serotonina e dopamina, as duas substâncias químicas responsáveis pela sensação de bem-estar.

9
- Vitamina B2 - Riboflavina (8% da DDR). Contribui para o crescimento da pele, do cabelo e das unhas e também atua como cicatrizante.

10
- Vitamina B5 - Ácido Panthoténico (4% da DDR). Sintetiza os lipídios e o açúcar dos alimentos.

11
- Vitamina B3 - Niacina (6 mcg, 8% da DDR). Ajuda a queimar os hidratos de carbono e as gorduras, e atrasa a formação de cabelos brancos.

Finalmente, deve ser lembrado que há situações em que consumir bebidas alcoólicas representa um risco e é completamente desaconselhado, nomeadamente durante a gravidez, antes de conduzir ou trabalhar com máquinas, antes de praticar desporto, quando se está a seguir certo tipo de medicação e principalmente antes de dirigir. Os benefícios anteriormente referidos não têm por objetivo encorajar as pessoas a beber cerveja ou qualquer outra bebida alcoólica. Antes se destinam a, através de diferentes estudos, demonstrar o fato cada vez mais comprovado de que a cerveja pode ser benéfica para a saúde das pessoas. Deste modo, pretende-se, apenas, informar e reafirmar àqueles que a apreciam que, quando consumida moderadamente, a cerveja não apresenta riscos para a saúde, podendo até significar uma ajuda para a manutenção de uma vida saudável  por parte do consumidor.

Fonte: Cervejas do mundo,Matéria Incógnita