A gente sabe que dirigir, curtir, consertar um automóvel é
meio caminho para a felicidade (a sexual inclusive). Você consegue imaginar um
“ser” a quem o homem é mais fiel?
Sim, você sabe: os, homens, adoram carros. Aliás, todo mundo
sabe. Esse amor é tanto que, para alguns caras, é o único ser a quem conseguem
ser fiéis. Homens gostam de carros mesmo sem saber articular o motivo. A venda
de carros no Brasil tem batido recorde ano após ano. Carros fazem os homens se
sentir o máximo. Eles os deixam atraentes (mas há controvérsias…). São
divertidos, barulhentos, fortificantes e perigosos nesta época em que a
sociedade conspira para tirar essas emoções masculinas de milhares de formas
sutis. Jovens ou velhos, ricos ou pobres, baladeiros estilosos ou barbudos
solitários, os homens adoram um carro. É a única máquina que define essa tribo.
E aqui perguntamos… por quê?
CARROS OS FAZEM HOMENS
Os homens amam dirigir. Se você observar as famílias em
férias parando em restaurantes de estrada, é quase sempre o pai quem está ao
volante. O mesmo vale para casais de namorados. São os homens que dirigem. Um
estudo da Universidade de Minnesota (EUA) descobriu duas razões pelas quais os
homens amam a direção: os apelos de afirmar a masculinidade por meio da
tecnologia, e o de estar no controle do próprio “destino”. Este último motivo
pode ser discutível, claro, mas eles certamente os colocam no controle do
destino da viagem ou do passeio.
Tornar-se um motorista é também um marco na vida de um
homem. Com isso vem sua identidade. Um estudo feito no Reino Unido observou
que, embora homens e mulheres gostem dos benefícios psico sociais
proporcionados pelo automóvel – sentimentos de autonomia, proteção e prestígio
–, somente os homens obtêm aumentos mensuráveis de autoestima. O estudo também
concluiu que o tipo do carro traz benefícios psicológicos aos homens, mas não
às mulheres. Aí está a demonstração do efeito do esportivo.
OS CARROS OS ENTENDEM
Sejamos francos: os carros dão aos impulsos primitivos
masculinos uma espada de 1 800 kg. Uma pesquisa mostrou que apenas 11% dos
condutores envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas, eram mulheres. Seja
em um semáforo da Avenida Brasil, em São Paulo, seja no circuito de Interlagos,
o automóvel tem permitido aos homens dar vazão aos antigos impulsos de
gladiadores. Esta é uma grande diferença entre o homem e a mulher. (Sim, as
mulheres também dirigem, e algumas correm bem, mas, tirando exceções, elas não
costumam expressar agressividade com máquinas de quatro rodas.) E aqui está o
problema que nenhuma legislação de segurança no mundo consegue remediar: correr
é gostoso. É divertido para valer. Os carros são o primeiro e mais popular
esporte radical da sociedade industrializada.
Mas o que está por trás da tremenda intimidade entre os
homens e a velocidade, entre homens e carros? Bem, os homens não são
simplesmente donos – eles têm um relacionamento com o carro. Uma análise
publicada em julho de 2009 em Psychology of Men & Masculinity observa que
os homens têm mais dificuldade em identificar e verbalizar emoções. Isso se
chama alexitimia. Em outras palavras, do ponto de vista psicológico, são uma
espécie de paspalhos emocionais com a língua meio presa. A beleza de todas as
máquinas, mas particularmente dos automóveis, é que elas não exigem
inteligência emocional. Os automóveis são racionais e finitos. São sistemas
ordenados feitos de aço, fogo e eletricidade. Os carros permitem que os homens
desliguem seu hemisfério cerebral direito, normalmente inferior e
inconveniente. Não importa se é um garoto de 20 anos instalando um turbo em um
Gol ou um velhote polindo seu Maverick, o homem saboreia o processo mais do que
os resultados, as horas de tranquilidade com objetivo, quando o que se tem é um
parafuso, uma ferramenta e um trabalho a ser feito. Além do mais, os automóveis
põem a cabeça em ordem. Você pode deixar um carro tinindo, perfeito. O mundo é
um lugar bagunçado, cheio de entropia e desordem. Nossos camaradas humanos são,
de muitas formas, criaturas fracassadas que inevitavelmente falham. Os homens
tendem a buscar saídas para impor ordem, perfeição – colecionando selos,
organizando suas bibliotecas particulares, montando navios em garrafas. O
automóvel, recebendo doses suficientes de cera, óleo, cromação e pintura, pode
ser elevado a um estado imaculado… até virginal, se você preferir. Se a
felicidade é a culminação de muitos sucessos, trabalhar em um automóvel é uma
empreitada que gera bênçãos inigualáveis.
QUER ECONOMIZAR? PILOTE COM O CONTA-GIROS!
Você pode poupar combustível com a ajuda do tacômetro
(conta-giros), não só do velocímetro. A primeira coisa a fazer é descobrir a
rotação em que o motor atinge o torque máximo. O Manual do Proprietário traz
essa informação no capítulo das especificações técnicas. É nessa rotação que o
motor consegue a máxima força que seu projeto permite com o mínimo de consumo.
Se o Manual disser, por exemplo, que seu carro tem torque máximo de 15,6 mkgf a
2 500 rpm, você deve trocar a marcha sempre nesta rotação, ou próximo a ela,
para melhorar a relação desempenho/consumo. Acima disso, seu carro pode até
desenvolver velocidade, mas o consumo aumenta. Abaixo, pode-se economizar um
pouco de combustível, mas depende da situação; se você precisar pisar no
acelerador porque o motor perdeu força, o gasto será maior do que se você
mantivesse a rotação correta.
OS CARROS SEDUZEM AS MULHERES
Em 2008, a seguradora de modelos de luxo britânica Hiscox
divulgou os resultados de um estudo aparentemente confirmando tudo o que os
homens queriam que fosse verdade. Um grupo de 20 homens e 20 mulheres com
idades entre 22 e 61 anos foi exposto a 30 segundos de gravações de roncos de
motores – Lamborghini, Maserati, Ferrari e um morno Volkswagen Polo, para
contrastar. As mulheres ficavam sexualmente excitadas com o ruído de um carro
esportivo de alto desempenho.
“Podemos afirmar com segurança que o ronco de um motor de
luxo realmente causa uma resposta fisiológica primitiva”, relatou o autor do
estudo, David Moxon. O estudo da Hiscox provocou um turbilhão na internet. Ali
estava, finalmente, a prova clínica de que cavalos de força equivalem a
calcinhas no retrovisor. Se ao menos fosse assim tão simples… Tudo bem, deve
haver garotos em interiorzão conseguindo transar com as piriguetes da cidade
porque elas querem ver o interior da picape de rodas de 12 polegadas. Garotas
gostam de bad boys e, por extensão lógica, dos carros desses manés. Mas seria
errado supor que é o carro, o maquinário em si, que as excita. Os carros
somente são afrodisíacos quando sugerem dinheiro, status e sucesso. “Machos,
como parceiros, são valorizados por sua riqueza e poder, por sua capacidade de
ajudar a criar a prole”, diz Satochi Kanazawa, professor da Escola de Londres
de Economia e Ciência Política e coautor de Why Beautiful People Have More
Daughters (Por que Pessoas Bonitas Têm Mais Filhas). “Enquanto isso, as fêmeas
são valorizadas por sua juventude e beleza. Essa dinâmica não muda há
milênios.” E conclui: “Na medida em que são um sinal às fêmeas, os carros são
apenas um indicativo rápido e confiável de afluência material, status tribal”.
Será que precisamos de cientistas de avental branco para nos dizer isso?
Provavelmente não. Sem um carro decente, você é facilmente descartado como
inapto para namoro ou acasalamento. Sempre foi assim. Mobilidade equivale à
nobreza, exatamente como o cavalo conferia um status nobre ao cavaleiro.
OS CARROS DÃO UMA ROTA DE FUGA
É chavão da psicologia pop que o homem precisa de um tempo
sozinho para curtir sua fossa – e que o homem é diferente de sua companheira.
Por mais que seja um clichê, é verdade. Esse tipo de programa no cérebro do
homem pode ser um produto evolucionário de eras de caçadas solitárias.
Uma viagem de carro sozinho é uma das poucas atividades que
deixam os homens ficarem a sós sem patologizar a solidão. Experimente dizer aos
amigos e à família que você vai passar uns dias na praia sem ninguém, ou que vai
sair para velejar. A reação provavelmente será de descrença ou preocupação.
Dirigir por longas distâncias surge na literatura, de Jack Kerouac a Stephen
King, como um exercício zen, uma prática de cair na hipnose massiva da estrada,
com a cabeça no momento e a paisagem passando. Uma semana na estrada sozinho é
um presente raro e fantástico a você mesmo. Você se ouve pensando. Retoma
discussões com ex-namoradas e ex-esposas. Comunga com o espírito de seu pai,
que partiu há anos. Depois começa a produzir novos pensamentos. Começa, por
exemplo, a pensar em mudar o mundo. No fim das contas, a experiência masculina,
esse apreço masculino pelo automóvel foi moldado pela tecnologia, pelo poderoso
motor a pistão movido por combustão interna. E isso é um problema. O poder e a
glória, o fogo e o trovão, a gama indefinida de automóveis que conhecemos está
baseada na gasolina. Em termos de força pura, nenhuma bateria chega perto. Um
típico carro a gasolina roda entre 400 e 800 quilômetros com um tanque, e
requer apenas alguns minutos para se reabastecer em um dos milhares de postos
do Brasil.
Não damos importância a essa estrutura, mas a comodidade é
incrível. Será que aquela higiene mental através de mil quilômetros – ou mais –
de estradas seria possível em um carro elétrico que levaria horas para
reabastecer? Esta é uma tecnologia condenada. É fácil pensar que paixão por
carros morrerá com ela. Com os carros elétricos, aquele ruído de escapamento
que vibra até as costelas vai sumir – e ser substituído por um leve zumbido
elétrico, tão emocionante quanto um aparelho de cozinha.
Mas vale lembrar que, em matéria de carros, os homens estão
no comando. O fato é que, enquanto os homens fabricarem carros, o caso de amor
continuará. Já sabemos que os carros elétricos serão velozes, e com a
velocidade vem o perigo, e com o perigo vem a satisfação e a definição do que são
os homens. Na verdade, os carros elétricos do futuro – cheios de torque – serão
mais rápidos e possantes do que seus antecessores a gasolina. Apenas serão mais
silenciosos, e aposto que algum homem dará um jeito nisso também.
Fonte: Men´s Health/ Dan Neil