Impaciência e
intolerância andam sempre juntas, causando problemas sérios tanto a quem sofre
destas deficiências, como aos que são obrigados a suportar seus ataques. São
duas deficiências que perturbam a convivência entre pessoas, pais e filhos, casais,
no trabalho, e destroem até mesmo os melhores propósitos da pessoa humana.
INTOLERÂNCIA
Intolerância é a
qualidade do indivíduo intransigente. Para melhor identificar a intolerância
nas nossas manifestações, relacionemos alguns traços característicos dessa deficiência.
São eles:
a) Austeridade para
com o comportamento ou para com as obrigações dos outros, nas situações
familiares, profissionais ou sociais de um modo geral;
b) Severidade
exagerada quando nas funções de mando, perdendo quase sempre o controle
emocional e repreendendo violentamente algum subalterno que tenha cometido
certo erro em suas obrigações de serviço;
c) Rigidez nas
determinações ou nas posições tomadas em relação a alguma penalidade aplicada a
alguém que tenha errado e sobre quem exerça autoridade;
d) Rispidez e
maus-tratos para com aqueles com quem convive, agindo com dureza e
radicalidade;
e) Não-aceitação e
incompreensão das infrações que alguém possa cometer, condenando-as inapelavelmente
com julgamentos agressivos e depreciativos;
f) Prazer em denegrir
as pessoas, evidenciando, de preferência, seus defeitos.
O intolerante não
perdoa, nem mesmo atenua as falhas humanas e, por isso, falta-lhe a moderação
nas apreciações para com o próximo. Vê apenas o lado errado das pessoas, o que
em nada estimula o bem proceder. A fácil irritação é também um aspecto
predominante do tipo intolerante. O senso de análise e de crítica é nele muito
forte. Na sua maneira de ver, quem erra tem que pagar pelo que fez. Não há
considerações que possam aliviar uma falta.
Por que somos ainda
tão intolerantes? Vemos o cisco no olho do nosso vizinho e não enxergamos a
trave no nosso. Gostamos de comentar só o lado desagradável e desairoso das
pessoas, e isso até nos dá prazer.
Será que nessas críticas não estamos
inconscientemente projetando nos outros o que mais ocultamos de nós mesmos? Não
estaríamos assim salientando nas pessoas o que não temos coragem de encarar
dentro de nós?
A intolerância doentia
é um sintoma indicativo de que algo muito sério precisa ser corrigido dentro do
nosso próprio ser. Por que exigimos perfeição dos que nos rodeiam e somos
complacentes com nossos abusos? Sejamos primeiro rigorosos conosco e, então,
compreensivos com os outros.
IMPACIÊNCIA
O indivíduo impaciente
é tipicamente nervoso, apressado. Outros aspectos são igualmente indicativos,
como os abaixo citados:
a) Inconformação:
não-aceitação do desejo que não realizou;
b) Precipitação: não
faz por esperar a ocasião precisa;
c) Inquietação: não se
acalma quando tem que aguardar;
d) Agitação: desespero
pelas frustrações sofridas;
e) Sofreguidão:
angústia, ansiedade por algo que tanto quer;
f) Impertinência: teimosia,
insistência intranquila;
g) Pressa: urgência na
realização dos desejos;
h) Irritação:
contrariedade por algo não conseguido;
i) Aborrecimento:
não-realização daquilo que queria.
Nem de tudo que
desejamos possuir somos merecedores, ou estamos preparados para ter. Muitas das
nossas ambições materiais poderão nos precipitar a enormes abismos, dificílimos
de sair. Contentar-se com aquilo que a sorte nos proporciona é esforço no
treinamento de valorizar adequadamente o que antes desperdiçamos.
Paciência que se
esgota reflete coração que se intoxica pelo veneno da ira.
Nas manifestações em
que expressamos a impaciência, a primeira providência é indagar onde reside a
sua origem, o que a gerou e, a partir daí, fazer as ponderações sobre a
importância essencial daquilo que nos intranquiliza. É quase certo que
localizaremos, nessas ocorrências, desejos, ambições, anseios que necessitam
reparos e atenuações para eliminarmos as desastrosas tensões nervosas,
desencadeantes dos problemas cardíacos e circulatórios, tão frequentes no homem
atual.
Contrariamo-nos quando
não concretizamos o que queremos, impacientamo-nos deixando-nos levar pela
irritação, que envenena nossa alma, contamina o perispírito de ondas magnéticas
desequilibradoras, comprometendo os envoltórios sutis que constituem nossa
aura, abrindo fulcros geradores de enfermidades, atingindo nossos órgãos mais
predispostos e sensíveis.
Vale refrear essas
nossas manifestações, exercer sobre elas nosso domínio pacífico, tranquilo, nas
reflexões dosadas com calma, no equilíbrio e na conformação.
A impaciência como princípio
Final de semana
passado acabei presenciando uma cena que, ao lado de revelar a má educação das
pessoas, nos traz, novamente, à questão do tempo e da sensação de ele estar
encolhendo. Em razão disso, as pessoas acham que tudo tem de ser feito de forma
mais rápida e que não dá para esperar nada, mesmo quando se trata de um mínimo
de cortesia para com outras pessoas.
O que aconteceu
ilustra bem isso. Ao sair do supermercado, ainda no seu estacionamento, vi um
casal de cegos – sim, homem e mulher cegos – que também estava deixando o local
com
suas compras. À espera
deles estava um táxi e foi nele que estava sendo colocada a compra feita. Ao
mesmo tempo, o casal se acomodava no carro, preparando-se para, presumo, voltar
à sua casa.
Não sei o motivo, mas
acho que para facilitar o casal, o taxista parou o seu carro na saída do
estacionamento do supermercado. Do momento em que a cena começou até o seu
final, se durou 10 minutos foi muito. Mas o que aconteceu? Alguns clientes, que
também estavam de saída, começaram a protestar, reclamando com os empregados
que não conseguiam passar. Um deles, inclusive, apelou para a buzina e o fez de
forma insistente.
Não satisfeito, abriu
os vidros do carro e começou a falar em voz alta, com o rapaz que colocava as
compras no táxi. Neste momento, o casal já havia entrado. E certamente ouviu os
protestos, já que eram cegos, mas presumo que não sejam surdos. Meu carro
estava praticamente ao lado e pude observar, bem de perto, a impaciência de
quem acha que tudo tem de ser resolvido na hora.
A sensação – pelo
menos a que tive – é de alguém que, talvez muito ocupado e com uma agenda muito
apertada, não tinha nenhum tempo a perder. Mas, espera aí, era domingo. E quem
protestava estava de camiseta e bermuda. Na certa, ninguém em tais trajes está
indo para um compromisso inadiável ou então está com um horário acerto, uma
reunião importante que não pode perder.
No final, episódio
terminado – o táxi se foi e, com ele, também os impacientes – fique pensando:
será que tudo isso ocorre em relação à compressão do tempo ou será,
simplesmente, má educação? Não tenho a resposta, mas acredito que seja uma
combinação das duas.
Hoje, queremos tudo no
minuto. E isso é fruto da aceleração do tempo. Mas ignorar que alguém que tem
necessidades especiais está sendo atendido é má educação, mesmo.
Fonte: cereslogosofia,
um caminho, linoresende