O Orkut perde usuários de forma significativa todos os
meses. Mas tem gente que não arreda o pé de lá. O Brasil
adora as redes sociais. Estamos no top five dos países que mais usam Twitter,
Facebook e Orkut no mundo. No entanto, passamos pra lá do 100º lugar quando
falamos de percentual de usuários diante do número total da população. É claro,
a Internet no Brasil ainda é muito cara e muito lenta, e certamente demorará
ainda para ser usada pelas empresas como mídias de massa. A televisão, jornais
e revistas ainda são as mídias que dominam nosso mercado publicitário.
Por volta de 2005, eu entrei no Orkut, aquela nova rede social em que nos
viciamos rapidamente e que nos magnetizava para irmos em busca de reencontrar
amigos, bisbilhotar vidas alheias e praticar narcisismo nos nossos álbuns e
perfis. O Orkut era muito legal, a gente criava comunidades, interagia muito
nas comunidades existentes, fuçava os scraps (praticamente uma caixa pública de
emails que possuíamos). O Orkut nos ensinou a brincar de rede social e a
modular nosso comportamento nesses novos ambientes virtuais. Quem nunca passou
por alguma saia justa no Orkut que atire a primeira pedra.
Há alguns anos eu estive em uma palestra que Orkut
Büyükkokten, o criador da rede, foi ministrar na USP. Logicamente, ele faz
questão de pisar em solo brasileiro sempre quando pode afinal o Brasil ainda
era o maior usuário de Orkut no planeta. Logo no começo da palestra ele deu a
mão à palmatória e disse que não pensou em como ganhar como publicidade com
aquele negócio. Criou a rede apenas para se conectar com amigos e somente anos
depois é que foi pensar em como capitalizar em cima daquilo. Criou banners,
links patrocinados etc.
A parte mais divertida da palestra foi quando ele começou a
apresentar as correlações de comunidades. Disse que 80% das pessoas que estavam
na comunidade "Amo sushi" também estavam na comunidade "Amo
fotografia", concluindo que pessoas que tiravam foto gostavam também de
comida japonesa. Mostrou também que 90% das mulheres que estavam na comunidade
"Sofro de TPM" também estavam na "Amo chocolate",
comprovando uma correlação que já sabemos há anos que faz todo sentido. E, por
fim, mostrou que caso a foto principal mostrasse uma pessoa sem camisa, a
probabilidade de o usuário ser do Brasil era de 90%. A platéia caía na
gargalhada e o Sr. Orkut não entendia aquela suposta fixação por nós
brasileiros gostarmos de posar sem camisa para fotos. Aliás, ele sempre fornece
o email dele que é muito fácil orkut@google.com.
O Orkut perde usuários de forma significativa todos os
meses. E a principal hipótese é meio obvia: todos estão aos poucos migrando
para o Facebook, essa genial rede social usada por quase 1 bilhão de
terráqueos. Mas o Orkut ainda é muito forte. Mas como assim, se a grande parte
de meus amigos só usa Facebook? Pois é, temos o hábito de usar como referência
e nos balizarmos por nossos amigos mais próximos. O Brasil é muito grande,
temos vários Brasis dentro do Brasil. Temos diversos São Paulos dentro de São
Paulo. Recentemente perguntei para uma turma de alunos de uma faculdade que
leciono no centro de São Paulo se alguém ainda usava Orkut. Cerca de meia dúzia
levantou a mão e eu questionei por que não usavam o Facebook. E a resposta veio
na lata: "ah não professor, acho o Facebook muito chique".
A rede de Mark Zuckerberg veio para ficar, cresce cada vez
mais no Brasil e alguns institutos de pesquisa já colocam que o Orkut foi
ultrapassado pelo Facebook. Ali podemos ser nós mesmos, expor nossas opiniões
sem as exigências do relacionamento pessoal. Para dar parabéns para amigos no
Facebook é muito mais cômodo: eu escrevo uma mensagem padrão como
"parabéns e felicidades", copio e vou colando nos murais de meus
amigos aniversariantes. Mais conveniente e mais barato do que ligar para a
pessoa e desejar tudo de bom. Isso não é uma maravilha?
Seja saudosista. Ressuscite do orkuticídio que você cometeu
e comece a postar tudo lá de novo. O Orkut mudou e está com um visual muito
mais moderno. Até o aplicativo para iPhone disponível na app store está mais
bacana e intuitivo.
Fonte: Blog do Hiller por @MarcosHiller