Confira as lições de homens que deram a volta por cima
depois de grandes tragédias e encare qualquer problema. Destino, acaso, infortúnio,
imponderável. Você pode chamar como quiser, mas não é raro nos deparamos com
uma situação dessas
que, de alguma forma, transforma nossa vida. Aí, na luta para colocar as coisas
nos eixos e seguir em frente, aprendemos grandes lições.
Foi
exatamente isso que aconteceu com os quatro homens a seguir. De uma hora para
outra, eles sofreram acidentes inesperados, tiveram de interromper carreiras de
sucesso e reconstruir a vida. Foi difícil não me emocionar nas conversas que
tive com o maestro e pianista João Carlos Martins, o velejador Lars Grael, o
baterista Marcelo Yuka e o piloto Cristiano da Matta. Os relatos de superação
deles me incentivaram a reavaliar conceitos. Afinal, é sempre saudável se
espelhar na experiência tocante de pessoas que deram a volta por cima com
perseverança e determinação. Saiba como cada um sobreviveu a adversidades
e inspire-se para superar seus pepinos.
SÓ COM AMOR
“Há momentos em que choro de dor… no corpo e na alma.
Só saio desse buraco por causa do amor.” Vem daí a força que o músico Marcelo
Yuka encontra para encarar a vida firme e forte. Em 2000, o ex-baterista e
compositor da banda O Rappa levou nove tiros em um assalto e ficou paraplégico.
Para ele, não foi fácil trilhar o caminho da superação. “Só depois de muita
luta, terapia e força de vontade consegui afastar o fantasma do trauma que
vivi”, diz o carioca.
A VOLTA POR CIMA
No começo, Marcelo Yuka sofreu. O retorno para a casa dos pais em uma cadeira de rodas foi complicado. “As pessoas não estão preparadas para aguentar um tranco desses. Tivemos atritos e um grande estresse emocional”, conta. Apesar dos problemas, o músico tem certeza de que o apoio, carinho e amor dos familiares foram imprescindíveis na recuperação. “Só quando me senti amparado de todos os lados tive consciência de que, para chegar lá, vale o esforço próprio, a vontade de vencer obstáculos e atingir o alvo.” Após o atentado, Yuka não deixou de acreditar no poder de transformação do trabalho. “Aos 46 anos, produzo como nunca. A ideia de continuar útil me impulsiona a fazer mais e mais”, diz.
No começo, Marcelo Yuka sofreu. O retorno para a casa dos pais em uma cadeira de rodas foi complicado. “As pessoas não estão preparadas para aguentar um tranco desses. Tivemos atritos e um grande estresse emocional”, conta. Apesar dos problemas, o músico tem certeza de que o apoio, carinho e amor dos familiares foram imprescindíveis na recuperação. “Só quando me senti amparado de todos os lados tive consciência de que, para chegar lá, vale o esforço próprio, a vontade de vencer obstáculos e atingir o alvo.” Após o atentado, Yuka não deixou de acreditar no poder de transformação do trabalho. “Aos 46 anos, produzo como nunca. A ideia de continuar útil me impulsiona a fazer mais e mais”, diz.
SAIA DESTA
Para você escapar do fundo do poço ou de um momento difícil, o primeiro passo é encontrar um sentido para a vida. “Se não for assim, fica complicado seguir em frente”, explica Gabriela Casellato, professora doutora em psicologia clínica, especialista em intervenções, emergência e luto. Nessas horas, é importante se sentir amparado e contar com o amor e apoio da sua família e amigos. Além disso, é preciso se sentir útil, exercer algum trabalho e buscar motivos para ser feliz. “Esses fatores melhoram a autoestima e contribuem para uma recuperação mais plena”, diz Marilda Lipp, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), Ph.D. em psicologia experimental e clínica pela Universidade George Washington (EUA) e diretora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS).
Para você escapar do fundo do poço ou de um momento difícil, o primeiro passo é encontrar um sentido para a vida. “Se não for assim, fica complicado seguir em frente”, explica Gabriela Casellato, professora doutora em psicologia clínica, especialista em intervenções, emergência e luto. Nessas horas, é importante se sentir amparado e contar com o amor e apoio da sua família e amigos. Além disso, é preciso se sentir útil, exercer algum trabalho e buscar motivos para ser feliz. “Esses fatores melhoram a autoestima e contribuem para uma recuperação mais plena”, diz Marilda Lipp, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), Ph.D. em psicologia experimental e clínica pela Universidade George Washington (EUA) e diretora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS).
DE VENTO EM POPA
Mesmo após o choque devastador que interrompeu a carreira
olímpica, bons ventos sopram a favor do velejador Lars Grael. Aos 48 anos, o
paulista segue brilhando no iatismo. Otimista por excelência, ele prefere
deixar de lado tudo o que sofreu após ter sido atropelado por uma lancha e
perdido a perna direita. “Passaram-se 14 anos já. Estou completamente adaptado.
Minha vida é ótima e produtiva. Isso é o que importa”, diz. É claro que, no
momento do acidente, as coisas não foram fáceis. “Depois da luta pela
sobrevivência, veio a batalha para viver normalmente, acompanhada da reflexão e
do desespero de não saber o que fazer.”
A VOLTA POR CIMA
No começo, a ideia de não poder mais carregar o filho no colo, passear de mãos dadas com a mulher ou jogar tênis incomodou Lars Grael. Mas ele não demorou para enxergar a luz no fim do túnel. Ainda no hospital, o atleta conviveu com algumas pessoas com experiências semelhantes. Lars foi acompanhado por uma enfermeira e um ortopedista amputados, que fizeram excelente trabalho. A partir daí, o vencedor de duas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos (Seul 1988 e Atlanta 1996) passou a acreditar na transformação, a ponto de voltar a velejar meses depois do acidente. “As coisas mais importantes no processo de recuperação foram o apoio incondicional da família e os valores olímpicos de jamais desistir, ter disciplina e determinação”, revela. Hoje, ele se considera realizado. Acaba de vencer, junto com o irmão Torben, o Mini Circuito Oceânico, em Niterói (RJ), e o Campeonato Brasileiro da Classe Star, em São Paulo. Após o choque devastador, o atleta diz que encontrou motivação e força para seguir em frente especialmente por poder ajudar outras pessoas, seja por meio das palestras motivacionais que dá em empresas e instituições ou pelo Projeto Grael, ONG que desenvolve trabalho educacional com crianças por meio do esporte.
No começo, a ideia de não poder mais carregar o filho no colo, passear de mãos dadas com a mulher ou jogar tênis incomodou Lars Grael. Mas ele não demorou para enxergar a luz no fim do túnel. Ainda no hospital, o atleta conviveu com algumas pessoas com experiências semelhantes. Lars foi acompanhado por uma enfermeira e um ortopedista amputados, que fizeram excelente trabalho. A partir daí, o vencedor de duas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos (Seul 1988 e Atlanta 1996) passou a acreditar na transformação, a ponto de voltar a velejar meses depois do acidente. “As coisas mais importantes no processo de recuperação foram o apoio incondicional da família e os valores olímpicos de jamais desistir, ter disciplina e determinação”, revela. Hoje, ele se considera realizado. Acaba de vencer, junto com o irmão Torben, o Mini Circuito Oceânico, em Niterói (RJ), e o Campeonato Brasileiro da Classe Star, em São Paulo. Após o choque devastador, o atleta diz que encontrou motivação e força para seguir em frente especialmente por poder ajudar outras pessoas, seja por meio das palestras motivacionais que dá em empresas e instituições ou pelo Projeto Grael, ONG que desenvolve trabalho educacional com crianças por meio do esporte.
SAIA DESTA
Por mais complicada que seja a situação, a melhor forma para você superar uma adversidade é tentar sempre manter o otimismo. “Ajuda muito só se mirar no lado positivo das coisas. É preciso enxergar as soluções, e não apenas problemas”, diz Marilda. A professora alerta que jamais você deve estagnar diante das barreiras e ficar só se lamentando. “As pessoas reagem de maneiras diferentes ao se depararem com um problema. Algumas se desesperam e desistem. Outras florescem com as agruras da vida”, completa a especialista.
Por mais complicada que seja a situação, a melhor forma para você superar uma adversidade é tentar sempre manter o otimismo. “Ajuda muito só se mirar no lado positivo das coisas. É preciso enxergar as soluções, e não apenas problemas”, diz Marilda. A professora alerta que jamais você deve estagnar diante das barreiras e ficar só se lamentando. “As pessoas reagem de maneiras diferentes ao se depararem com um problema. Algumas se desesperam e desistem. Outras florescem com as agruras da vida”, completa a especialista.
NUM BOM CAMINHO
O grave acidente que tirou o ex-piloto Cristiano da Matta
das pistas não o fez menos fã de corridas. Se tivesse oportunidade, ele revela
que voltaria com o maior prazer para a Fórmula 1. “Continuo apaixonado por todo
aquele universo incrível”, diz. Mas isso não significa que o mineiro de 39 anos
está infeliz com a guinada de 180 graus que a vida deu. Após atropelar um cervo
em alta velocidade durante um treino da Fórmula Indy nos EUA, em 2006, ele
sofreu traumatismo craniano e nunca mais teve chances de voltar a competir em
alto nível. “Mas segui em frente, motivado por outras paixões.”
A VOLTA POR CIMA
A fase de recuperação de Cristiano da Matta foi difícil, principalmente porque os médicos o proibiram de voltar a pilotar. “Tive de lidar com as frustrações, afinal, já tinha conquistado muito até ali”, conta. Porém, ele não se lembra de reclamar durante esse período de incertezas. “Não sou o Super-homem, e é claro que tive momentos de baixa, mas só momentos”, diz. Os resultados positivos do tratamento lhe deram força e motivação para seguir em frente. “A cada pequena vitória percebia que podia avançar mais e que logo voltaria à vida normal. Minha disciplina, determinação e enorme vontade de retornar às pistas me curaram.” Só que, após quase dois anos de recuperação, as portas do automobilismo se fecharam para o piloto. Desânimo? Que nada… “O destino me colocou em outra direção e me sinto realizado com o que Deus me deu”, conta. Hoje, Cristiano continua apaixonado pelo que faz. Ele trabalha na empresa de bicicletas e acessórios dos irmãos mais velhos. Testa bikes e pedala quase todos os dias. Além disso, é fã de rock e toca guitarra pelo menos quatro vezes por semana. Mas a grande alegria é se dedicar, com muito prazer, à esposa Vanessa e ao filho Matheus. Com sotaque bem mineiro, ele garante: “Tá bom demais da conta!”.
A fase de recuperação de Cristiano da Matta foi difícil, principalmente porque os médicos o proibiram de voltar a pilotar. “Tive de lidar com as frustrações, afinal, já tinha conquistado muito até ali”, conta. Porém, ele não se lembra de reclamar durante esse período de incertezas. “Não sou o Super-homem, e é claro que tive momentos de baixa, mas só momentos”, diz. Os resultados positivos do tratamento lhe deram força e motivação para seguir em frente. “A cada pequena vitória percebia que podia avançar mais e que logo voltaria à vida normal. Minha disciplina, determinação e enorme vontade de retornar às pistas me curaram.” Só que, após quase dois anos de recuperação, as portas do automobilismo se fecharam para o piloto. Desânimo? Que nada… “O destino me colocou em outra direção e me sinto realizado com o que Deus me deu”, conta. Hoje, Cristiano continua apaixonado pelo que faz. Ele trabalha na empresa de bicicletas e acessórios dos irmãos mais velhos. Testa bikes e pedala quase todos os dias. Além disso, é fã de rock e toca guitarra pelo menos quatro vezes por semana. Mas a grande alegria é se dedicar, com muito prazer, à esposa Vanessa e ao filho Matheus. Com sotaque bem mineiro, ele garante: “Tá bom demais da conta!”.
SAIA DESTA
Grandes impactos tendem a modificar o mundo das pessoas. “Dependendo do que acontece, nada volta as ser como antes, seja na vida prática, seja na forma de encarar a si mesmo”, diz a psicóloga Gabriela Casellato. Nessas horas, você precisa estar preparado para buscar outros caminhos e encarar o novo. Ter energia e disponibilidade para vivenciar outras experiências. “As pessoas têm de ser conscientes de que não existe só uma maneira de ser feliz. Afinal, a vida continua e deve ser levada da melhor forma possível”, afirma Marilda Lipp.
Grandes impactos tendem a modificar o mundo das pessoas. “Dependendo do que acontece, nada volta as ser como antes, seja na vida prática, seja na forma de encarar a si mesmo”, diz a psicóloga Gabriela Casellato. Nessas horas, você precisa estar preparado para buscar outros caminhos e encarar o novo. Ter energia e disponibilidade para vivenciar outras experiências. “As pessoas têm de ser conscientes de que não existe só uma maneira de ser feliz. Afinal, a vida continua e deve ser levada da melhor forma possível”, afirma Marilda Lipp.
SALVO PELA MÚSICA
Repleta de batalhas. Assim é a trajetória do maestro e
pianistas João Carlos Martins. Aos 71 anos, ele é considerado um dos maiores
especialistas na obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach. Mas o caminho
para chegar até esse posto foi duro. Ao longo da carreira, o paulistano sofreu
diversos traumas e passou por 20 cirurgias para poder fazer aquilo que mais
gosta: música. O primeiro obstáculo veio aos 26 anos, quando o já consagrado
músico caiu jogando futebol e uma pedra entrou em seu braço direito, atingindo
o nervo cubital. A lesão limitou os movimentos da mão e Martins abandonou o
piano. À partir daí, a vida dele se tornou uma luta sem fim.
A VOLTA POR CIMA
Após o acidente banal, João Carlos Martins chegou a planejar suicídio. “Tive momentos de depressão profunda, mas a paixão pela música me ajudou a acreditar que valia a pena continuar lutando”, conta. Depois do choque, um tratamento ajudou o maestro a recuperar parte dos movimentos e voltar a tocar. Mas a alegria durou pouco e outros problemas vieram. A Contratura de Dupuytren (doença na mão) e uma pancada na cabeça que levou durante um assalto o fizeram perder novamente os movimentos. Parar de vez? Nem pensar… Martins enfrentou cirurgias e dores horríveis, mas continuou desenvolvendo talento para construir uma sólida carreira. Ele revela que tudo o que passou o transformou em uma pessoa diferente. “Ideias, conceitos e juízos mudam quando a vida ensina tanto”, diz. “Ou a gente aprende, ou não vale a pena.” O músico admite que, depois de tudo o que passou, deixou de ser egoísta. “Mudei meus valores. Percebi que, para vencer obstáculos, não basta apenas determinação. É preciso muita humildade, no sentido mais amplo da palavra.” Mas a batalha não acabou por aí. Martins nunca desistiu de tocar piano e espera o resultado da vigésima cirurgia. “É essa que vai me fazer voltar”, acredita.
Após o acidente banal, João Carlos Martins chegou a planejar suicídio. “Tive momentos de depressão profunda, mas a paixão pela música me ajudou a acreditar que valia a pena continuar lutando”, conta. Depois do choque, um tratamento ajudou o maestro a recuperar parte dos movimentos e voltar a tocar. Mas a alegria durou pouco e outros problemas vieram. A Contratura de Dupuytren (doença na mão) e uma pancada na cabeça que levou durante um assalto o fizeram perder novamente os movimentos. Parar de vez? Nem pensar… Martins enfrentou cirurgias e dores horríveis, mas continuou desenvolvendo talento para construir uma sólida carreira. Ele revela que tudo o que passou o transformou em uma pessoa diferente. “Ideias, conceitos e juízos mudam quando a vida ensina tanto”, diz. “Ou a gente aprende, ou não vale a pena.” O músico admite que, depois de tudo o que passou, deixou de ser egoísta. “Mudei meus valores. Percebi que, para vencer obstáculos, não basta apenas determinação. É preciso muita humildade, no sentido mais amplo da palavra.” Mas a batalha não acabou por aí. Martins nunca desistiu de tocar piano e espera o resultado da vigésima cirurgia. “É essa que vai me fazer voltar”, acredita.
SAIA DESTA
Após passar por uma tragédia é comum você ficar inseguro. “O indivíduo fica fragilizado. O mundo não é mais tranquilo. Isso gera desconfiança e medo do futuro”, explica Gabriela. Em casos assim, psicoterapias cognitivo-comportamentais podem ajudar. “O tratamento dá suporte no modo de encarar o mundo e contribui para a pessoa redimensionar a vida”, diz Marilda. Acreditar sempre nos seus sonhos e apoiar-se em atividades que dão prazer, como música e esportes, também ajuda a superar traumas. “Sentir-se produtivo é importante em qualquer processo de recuperação”, finaliza Marilda.
Após passar por uma tragédia é comum você ficar inseguro. “O indivíduo fica fragilizado. O mundo não é mais tranquilo. Isso gera desconfiança e medo do futuro”, explica Gabriela. Em casos assim, psicoterapias cognitivo-comportamentais podem ajudar. “O tratamento dá suporte no modo de encarar o mundo e contribui para a pessoa redimensionar a vida”, diz Marilda. Acreditar sempre nos seus sonhos e apoiar-se em atividades que dão prazer, como música e esportes, também ajuda a superar traumas. “Sentir-se produtivo é importante em qualquer processo de recuperação”, finaliza Marilda.
Fonte: Revista MEN’S HEALTH por Ronaldo Albanese