Rede social criada por um morador do Distrito Federal pode
ter mais empolgação do que direcionamento — algo que se reflete em números
fantasiosos e na adoção de estruturas e designs pouco originais.
Talvez você nunca tenha ouvido falar da Mirtesnet. Ou, por
outro lado, é perfeitamente possível que você se encontre atualmente entre os
“quase um milhão de usuários” — um número questionável, como se verá adiante —
ativos da rede social criada por Carlos Henrique do Nascimento, um morador do
Distrito Federal.
Em entrevista ao site R7, Nascimento afirmou que a Mirtesnet foi criada a partir
de uma brincadeira com seu filho, então com oito anos. Ao que parece, o menino
andava empolgado com a ideia de criar um perfil no Facebook, o que o empresário
considerou inapropriado — em razão da considerável quantia de conteúdos
potencialmente ofensivos que são veiculados diariamente no site.
“Notei que não havia controle no site deles e por isso não
queria que ele criasse a conta. Aí comentei com meu filho: vamos fazer a nossa
própria rede social”, disse Nascimento em entrevista ao referido site. Nesse
momento, surgiu então a nova rede social que, após um início inexpressivo,
teria começado a chamar a atenção... Culminando com “quase um milhão de
usuários do Brasil e de outros países”. Será mesmo essa a realidade atual?
Cópias e mais cópias
Propostas originais surgidas praticamente do nada e infladas
por espíritos visionários certamente são uma realidade — sobretudo diante da
assustadora interconectividade da atual comunidade online. Entretanto, mesmo
uma rápida observação leiga do Mirtesnet pode revelar alguns dados
preocupantes.
Em primeiro lugar, é óbvia a falta de um conceito próprio,
tanto no que tange as ferramentas disponibilizadas para interação dos usuários
quanto às soluções encontradas pela modesta “equipe” de design do site. Na
verdade, conforme observou o site Gizmodo, é fácil perceber que se trata, na verdade,
de um pastiche formado por ideias abandonadas de redes sociais como o próprio
Facebook.
Pornografia e perfis falsos
O site Olhar Digital, por sua vez, apontou uma caudalosa
quantidade de pornografia encontrada no serviço. “É até cômico dizer que o
objetivo inicial era proporcionar a meu filho um ambiente livre de pornografia,
sendo que agora estamos sofrendo com isso”, admitiu Nascimento ao site. “Mas
estamos controlando estes conteúdos. Infelizmente não tenho equipe suficiente
para me ajudar nesta varredura.”
Ademais, conforme também apontou o site, muitos dos perfis
do Mirtesnet parecem não ser verdadeiros — uma imensa quantia deles com 190
amigos e nascida no dia 1º de janeiro de 1996. "Não sei dizer quantos
usuários são ativos ou reais”, afirmou o empresário ao referido site. “Nos
últimos meses tivemos um aumento enorme de pessoas, entre elas hackers.”
De acordo com Nascimento, uma das maiores dificuldades é a
sua própria falta know-how na área. "Não tenho
conhecimento de informática e estou tentando descobrir como eliminar os perfis
‘fantasmas’ com a ajuda de meu único programador. A ideia é conseguir deletar
os cadastrados inativos por mais de três meses.”
Subindo pela escada errada
Alguns dados objetivos podem, talvez, obscurecer a visão de
quem analise, hoje, o Mirtesnet. Conforme observou o Olhar Digital, O Google
Trends — ferramenta para medição de interesses em ambiente online —, a rede
social aparece atualmente bem cotada, tendo conquistado 100 pontos em abril.
Entretanto, vale lembrar que a notoriedade que hoje
acompanha o site se deve, ao que parece, mais à atenção (não exatamente
lisonjeira) despendida pela mídia do que às habilidades gerenciais e à visão de
Carlos Henrique do Nascimento — ou, ainda, ao pitoresco visual alaranjado que
permeia todo o site.
Enfim, parece que Mark Zuckerberg já pode respirar aliviado.
A hegemonia do Facebook ainda deve durar algum tempo.
Fonte da imagem: Reprodução/Mirtesnet