Fotos comprometedoras, barracos e até demissão: o Facebook e
as redes sociais se tornaram palco para todo tipo de comportamento. “Venho por
meio desta informar que Fulana de Tal é uma vagabunda.” Essa frase, além de
abominável, é só um exemplo dos ataques e desabafos que ocorrem todos os dias
no ambiente virtual. De acordo com o coordenador da unidade de psicologia da
Universidade do Estado de São Paulo, Cláudio Edward dos Reis, no passado havia
a ideia de que só a mulher fazia fofoca ou gostava de dar escândalos em
público. “Isso, porém, era machismo da época. Todos estão sujeitos a exagerar”,
diz. Prova disso é que, mesmo após somente 106 palavras desta reportagem,
possivelmente você já se lembrou de algum primo, um amigo, um colega de
trabalho ou talvez até o seu chefe perdendo a mão quando o assunto é
privacidade na internet.
“Os homens ainda são mais eufóricos e sensíveis do que as
mulheres na hora de extravasar as emoções”, diz o coordenador do grupo de
dependências tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São
Paulo, Cristiano Nabuco. Ele explica que, por uma questão histórica, os homens
sempre foram condicionados a reprimir aquilo que sentem. Com o fenômeno das
redes sociais e a possibilidade de falar sem um interlocutor imediato, a
exposição acaba tomando novas proporções.
“Quem desabafa no Facebook, por exemplo, não sabe o alcance
do que está falando”, diz Nabuco. Isso porque tendemos a acreditar que só
nossos amigos próximos irão ver a mensagem, seja ela qual for. “Nem todos os
nossos conhecidos da rede social são nossos amigos de verdade. O Facebook seria
a virtualização da praça da cidade, onde as pessoas gritam para serem ouvidas e
clamam por justiça”, completa o especialista.
O Brasil é o segundo país com o maior número de perfis do
site, com mais de 66 milhões de usuários, quase 30% de toda a população ou 84%
dos internautas brasileiros – perdemos apenas para os Estados Unidos, com 167
milhões. De acordo com o instituto SocialBakers, que analisa esses dados, só no
ano passado o Brasil teve um crescimento de 30 milhões de usuários, 8 milhões a
mais do que a Índia, ficando em primeiro lugar na quantidade de novos membros.
E, mesmo com o crescimento desses números, a rede social é um fenômeno novo na
sociedade.
“As regras de etiqueta ainda estão se formando. O que
percebemos é um uso cada vez mais frequente de temas relacionados ao trabalho”,
explica Rogério Sepa, consultor e especialista em redes sociais da consultoria
Lee Herch Harrison (LHH/DBM). Segundo ele, sites como Twitter, Facebook e
Google+ podem ser um ótimo local para fazer networking, mas não devem ser
usados para falar mal do ambiente de trabalho ou dos superiores.
“Claro que é
possível falar de trabalho no Facebook. Algumas empresas até estimulam essa
prática, por gerar mais visibilidade de sua própria marca e de seus produtos”,
diz ele.
Segundo uma pesquisa encomendada pela empresa americana de
consultoria Jobvite, que ouviu 500 executivos de recursos humanos nos Estados
Unidos, as atitudes que mais afetam a imagem dos candidatos a um novo emprego
são apologia às drogas (78%), postagens de conotação sexual (66%), vulgaridade
(61%), erros de gramática (54%) e apologia ao álcool (47%). Por isso, os
especialistas sempre aconselham: pense muitíssimo bem antes de apertar o botão
Compartilhar ou criar uma nova postagem.
“As redes sociais viraram um local para legitimar as
queixas”, diz Cristiano Nabuco. Ele explica ainda uma técnica que tem sido
muito utilizada para refletir sobre o que deve ou não ser do conhecimento do
público. “Está com raiva? Sente na frente do computador, abra um documento de
texto e deixe a escrita fluir”, diz. Para ele, agir por impulso é o grande
problema. “Escreva uma primeira versão e feche o arquivo.
Depois, sem olhar
esse primeiro documento, escreva uma segunda versão. E depois uma terceira, sem
olhar a segunda.” Ele ensina que o que sobrar dessa terceira versão é o que
deve ser publicado. “À medida que você conta e reconta uma história, ela assume
um tom mais sóbrio”, explica. A calma e o raciocínio vão agir na hora que você
está mais ansioso e prestes a cometer uma grande gafe virtual.
“Uma coisa que também tem sido muito difundida são os crimes
de internet”, lembra Nabuco. De fato, já não é mais tão fácil falar mal de todo
mundo, citar nomes, apontar o dedo e sair impune. Indicadores da Central
Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (CND) apontam o crescimento de
264,50% de denúncias em 2012. Ou seja, ponha a cabeça no lugar e pense antes de
tomar qualquer atitude extremada, não importa qual seja o contexto. Foi
demitido? Levou um pé na bunda? Não é reconhecido pelos seus esforços? Guarde
pra você. “Não confunda as redes sociais com um diário pessoal”, diz Nabuco. Os
amigos, virtuais e reais, agradecem.
Fonte: Revista ALFA