Ambição: defeito ou virtude?

Acontece algo de curioso com a ambição: é uma palavra ambivalente, uma vez que gera sensações tanto positivas como negativas. Socialmente, diríamos que a ambição proporciona um certo prestígio, dado que está entre as atitudes que se esperam de pessoas dinâmicas e inteligentes. O filósofo Aldous Huxley escreveu o seguinte:

"Nas nossas sociedades, os homens são paranoicamente ambiciosos, porque a ambição paranoica é admirada como uma virtude e os ambiciosos e bem sucedidos são idolatrados como deuses. Escreveram-se mais livros sobre Napoleão do que a respeito de qualquer outro ser humano. Este fato é profunda e alarmantemente significativo".

A ambição é definida nos dicionários como o desejo ardente de conseguir poder, riquezas, dignidades ou fama. Existe nesta definição um espírito e uma letra: por um lado, desejo ardente; por outro, o objeto desejado. Tanto desejo, tanto ardor, tanta obsessão acaba, frequentemente, em danos para terceiros.


Então, por que se mantém a ambição como um valor positivo? Por que chega a ser lamentável que alguém não tenha ambição alguma? Desde logo, porque a partir da infância que nos predispõem a "ser alguém na vida". E para sê-lo, há que ter a ambição necessária!

Nos dias de hoje é quase obrigatório procurar um "status", algo que se alcança através do dinheiro, dado que tudo o resto pode ser adquirido. É desta forma que surge o grande dilema, tão debatido por académicos e pensadores: é preferível ser ou ter?

Não existem pais  neste mundo que não ambicionem o melhor para os seus filhos. Para tal, procuram estimulá-los, motivá-los e exortá-los a serem ambiciosos na vida. "Sê forte, sê trabalhador, sê perfeito": a intenção é positiva e costuma funcionar como estímulo para o crescimento da criatura. Porém, também acontece que alguns pais exijam tanto dos filhos, criando expetativas tão elevadas, que acabam por ultrapassar os limites do ótimo, para adensarem-se na exigência, no perfeccionismo e na ambição desmesurada.



Ambição desmedida
Chegam, então, a ansiedade, o stress e a frustração, e todos os objetivos educacionais acabam por sair gorados. Como disse o grande William Shakespeare, "Quem se eleva demasiado em direção ao sol, com asas de ouro, acaba por derretê-las".

Será que existe uma ambição positiva e uma negativa? E, se existe, onde está a fronteira entre as duas? Para alguns pensadores, a ambição é única. Ardemos de desejo ou não. Nada neste mundo é mais desejável do que aquilo que não temos ou aquilo que julgamos difícil de alcançar. Perante este repto, apenas há o prémio da possessão, ou seja, o "ter".



Em contrapartida, quem ambiciona pouco, centra mais a sua atenção no "ser". Já o dizia o filósofo e escritor francês Voltaire: "No desprezo da ambição, encontra-se um dos princípios essenciais da felicidade sobre a terra".

A isso podemos chamar viver sem tantas expetativas, porque, sem dúvida, as grandes expetativas geram grandes fracassos.

Onde cabe, afinal, a ambição das nossas vidas? Pensemos, por um momento, em tudo aquilo que conseguimos alcançar graças à nossa determinação. Quando conseguimos ultrapassar adversidades, quando somos bem sucedidos a eliminar condutas limitantes, quando recebemos o prémio dos nossos esforços continuados e disciplinados, que forças impulsionadoras nos permitiram alcançar esse sucesso? A ambição? O perfecionismo? As exigências? As expetativas elevadas?


Desde um ponto de vista psicológico, a ambição consiste numa "construção", isto é, num conjunto de condutas, crenças e emoções que descrevem uma atitude ou caráter.

A ambição pode desdobrar-se em vários níveis:
- Um nível elevado de motivação face a um determinado objetivo;
- Convencimento de que "os fins justificam os meios, acompanhado da crença de que é possível alcançar tudo o que deseja;
- Uma certa ciclotimia emocional, ou seja, a combinação de estados emocionais de euforia com outras fases mais depressivas;
O pensamento pode tornar-se obsessivo e a conduta agressiva (o que não significa violenta) e de extrema exigência em relação a si mesmo e aos outros. Também pode tender para uma manipulação calculista.

Parando um pouco para recapitular:
É saudável ser ambicioso? É a ambição que nos impele a alcançar objetivos vitais? Ou é apenas uma emoção negativa, que nos desequilibra nos angustia e nos pões em conflito com o mundo?
Eis... Um grande dilema! ... Ou não?!


Fonte: Alfobre