Você acorda atrasado, toma um café da manhã apressado e
parte rumo ao trabalho ou escola. O tempo passa devagar, mas você respira fundo
porque logo mais já é a hora do almoço (ufa!). É só mais um dia comum na vida
de grande parte do mundo. Mas esta é uma rotina impossível para cerca de 870
milhões de pessoas que, segundo a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura, sofriam de desnutrição crônica entre 2010 e 2012.
Neste período, 1 em cada 8 pessoas do planeta foi afetada pela falta ou
escassez de alimento. Não é pouca coisa.
Para entender melhor esse quadro, conheça 9 fatos
sobre a fome no mundo, de acordo com informações da World Hunger Education
Service, organização que há quase quatro décadas trabalha na educação e
divulgação de informações sobre as causas da fome e da má nutrição nos Estados
Unidos e no mundo:
1. A fome mata (mesmo que indiretamente) – e as
crianças são as maiores vítimas.
Anualmente, mais de 10 milhões de crianças morrem no
mundo – e mais da metade destes óbitos está relacionada à subnutrição.
Geralmente não é a fome, sozinha, que leva à morte: a carência de nutrientes
enfraquece o corpo das crianças, deixando-as vulneráveis a uma série de doenças
como diarréia, malária, pneumonia e sarampo, responsáveis por grande parcela da
mortalidade infantil.
2. A população dos países em desenvolvimento é mais
afetada.
Segundo
dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura, apenas 16 milhões de pessoas que sofrem de desnutrição vivem em
países desenvolvidos. Um total de 836 milhões de pessoas afetadas pela
fome reside em países em desenvolvimento, o que representa 15% de toda a
população dessas nações. Segundo dados da World Hunger, a desnutrição
afeta 32,5% das crianças dos países em desenvolvimento – ou seja, uma em cada
três. Geograficamente, mais de 70% das crianças desnutridas vivem na Ásia,
26% na África e 4% na América Latina e no Caribe.
3. A subnutrição começa antes do berço.
Antes de chegar ao mundo a criança já sofre com o impacto da
fome. Isso porque, em muitos casos, a situação tem início na gestação. A
desnutrição entre as mulheres grávidas em países em desenvolvimento faz com que
1 em cada 6 recém-nascidos tenha baixo peso ao nascer. Este não é apenas um
fator de risco para óbito neonatal, mas também causa dificuldades de aprendizagem,
retardo, saúde precária, cegueira e morte prematura.
4. O que falta não é comida.
Parece lógico supor que a escassez de recursos é o que
explica estes números alarmantes. Mas não é bem assim: o mundo produz
alimentos suficientes para alimentar a todos. Mesmo com um aumento de 70%
da população mundial nos últimos 30 anos, a agricultura produz hoje 17% mais
calorias por pessoa do que três décadas atrás. Isso significa que há
recursos para proporcionar a todos habitantes do planeta pelo menos 2.720 kcal por
dia.
5. A pobreza é a principal causa da fome…
Os alimentos estão por aí, disponíveis, mas não são todos
que conseguem ter acesso a estes recursos. O que acontece é que muitas
pessoas no mundo não têm terras para cultivar alimentos ou dinheiro para comprar
comida suficiente. A falta de recursos, a distribuição extremamente
desigual de renda e conflitos regionais são alguns dos fatores que contribuem
para essa situação. Segundo dados de 2008 do Banco Mundial, estima-se
que pelo menos 1,3 milhões dos habitantes de países em desenvolvimento vivam
com um salário de menos de um dólar por dia.
6. … e a fome também pode acentuar a pobreza.
Por causar problemas de saúde, baixos níveis de energia e
até mesmo danos neurológicos, a fome pode acabar reduzindo a capacidade
de trabalhar e aprender. O resultado você já imagina: a fome acaba
acentuando a pobreza e levando a uma subnutrição ainda maior – um ciclo vicioso
difícil de superar.
7. Em algumas regiões o número de pessoas subnutridas tem
aumentado – inclusive nos países desenvolvidos.
O continente africano ainda precisa dar largos passos para
erradicar a fome: no período entre 2010 e 2012, o número de famintos saltou de
175 para 239 milhões, o que significa que 1 em cada 4 pessoas estão
subnutridas. Mas não é só por lá que a coisa não vai bem. Revertendo a
tendência de diminuição apresentada entre 1990 e 1992, regiões
desenvolvidas também registraram aumento de subnutrição, que subiu de 13
milhões de pessoas afetadas em 2004-2006 para 16 milhões em 2010-2012.
8. Mas outras regiões mostram grandes avanços.
O número de pessoas subnutridas diminuiu quase 30% na Ásia e
no Pacífico, caindo de 739 para 563 milhões de pessoas afetadas, avanço que se
deve, em grande parte, ao progresso socioeconômico em muitos países da região.
Apesar da taxa de diminuição ter desacelerado recentemente, na América
Latina e no Caribe a situação também apresentou melhora, passando de 65 milhões
de famintos em 1990-1992 para 49 milhões em 2010-2012.
9. O aumento da renda familiar (especialmente da mulher)
é um dos fatores que contribuem para a diminuição da subnutrição.
O relatório “O estado de
insegurança alimentar no mundo”, elaborado pela Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura e lançado em 2012, aponta que um número
crescente de evidências mostram que o aumento de recursos nas mãos das
mulheres tem um impacto positivo no bem-estar da família, especialmente no que
diz respeito à saúde das crianças (com aumento da sobrevivência infantil e de
nutrição) e às taxas de educação. “No Brasil, o programa Bolsa Família
aumentou a participação laboral das mulheres em 16%, entre famílias
beneficiárias e não-beneficiárias. As transferências de dinheiro que colocam
recursos diretamente nas mãos de mulheres também aumentaram o status feminino
dentro da família e promoveram a sua auto-estima e empoderamento econômico
(caso também do programa Progresa /Oportunidades do México)”, diz o
relatório.
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