O Dia da Mulher não se resume a comemorações, já que esta é
também uma data de luta. Ela foi criada em 1910 num contexto de lutas
feministas por melhores condições de vida e de trabalho, além do direito ao
voto. Em Dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas
Nações Unidas para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas
das mulheres.
E o feminismo não é o oposto do machismo, de acordo com a a
ativista e jornalista Nana Queiroz, diretora executiva da revista AzMina. O feminismo é
um movimento social e político que tem como objetivo conquistar o acesso a
direitos iguais entre homens e mulheres e existe desde o século XIX.
"Feminismo está dentro de uma ideia bem simples, que é
a ideia de que mulheres e homens são seres com dignidade equivalente e merecem
direitos, oportunidades e liberdades equivalentes", explica a diretora
executiva da revista AzMina.
Uma mulher morre a cada 90 minutos vítima de
feminicídio. Uma em cada três mulheres sofre violência de algum homem ao
longo da vida. Entre as 500 maiores empresas do mundo, menos de 5% possuem CEOs
mulheres. Mais de cem anos depois, ainda são vários os motivos para ser ser
feministas em 2016.
1. Brasil é o quinto lugar em assassinato de
mulheres
O Brasil ocupa a 5ª posição no ranking global de homicídios
de mulheres, entre 83 países elencados pela Organização das Nações Unidas
(ONU), atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Os números
constam do estudo "Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no
Brasil", realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
(Flacso), a pedido da ONU Mulheres.
A estimativa feita pelo Mapa, com base em dados de 2013 do
Ministério da Saúde, alerta para o fato de que a violência doméstica e familiar
é a principal forma de violência letal praticada contra as mulheres no Brasil.
A cada sete homicídios de mulheres, quatro foram praticados por pessoas que
tinham relações íntimas de afeto com a vítima.
O Mapa da Violência 2015 também mostra que o número de
mortes violentas de mulheres negras aumentou 54% em dez anos, passando de
1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. No mesmo período, a quantidade anual de homicídios
de mulheres brancas diminuiu 9,8%, caindo de 1.747, em 2003, para 1.576, em
2013.
Uma pesquisa do Ipea, que avalia a efetividade da Lei Maria
da Penha, apontou que a Lei nº 11.340/2004 fez diminuir em cerca de 10% a taxa
de homicídios contra mulheres praticados dentro das residências das vítimas.
2. Violência contra a mulher precisa ser combatida
Uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência
física ou sexual, cerca de 120 milhões de meninas já foram submetidas a sexo
forçado e 133 milhões de mulheres e meninas sofreram mutilação genital, segundo
dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Estimativas da ONU revelam que
pelo menos 200 milhões de meninas e mulheres no mundo sofreram alguma forma de
mutilação genital feminina, em 30 países.
No Brasil, de acordo com balanço divulgado pelo Ligue 180,
somente no primeiro semestre de 2015, foram feitos 179 relatos de violência
contra mulheres por dia, com um total de mais de 32 mil ligações sobre
violência contra a mulher.
Desse total, mais da metade das ligações, ou 16 mil casos,
foram para relatar agressão física, o que representa 92 denúncias por dia. O
segundo tipo de violência mais relatado foi o de agressões psicológicas, com
aproximadamente 10 mil casos. A perseguição de mulheres, por exemplo, é um tipo
de violência que se enquadra nessa classificação. Já o número de relatos de
violência sexual alcança aproximadamente sete casos diários nos seis primeiros
meses do ano.
De acordo com o balanço, em comparação com o mesmo período
em 2014, a Central de Atendimento à Mulher registrou aumento de 145,5% das
denúncias de cárcere privado e de 65,39% nos casos de estupro.
3. Lugar de mulher é na política
O Brasil tem uma das taxas mais baixas no mundo de presença
das mulheres no Congresso Nacional. De acordo com dados da União
Interparlamentar, as mulheres no mundo são 22,6% dos representantes do povo
no Poder Legislativo. No nosso país elas são apenas 8,6%.
De acordo com a organização, de um total de 190 países, o
Brasil ocupa a posição de 116º lugar no ranking de representação feminina no
Legislativo. Na atual legislatura temos 53 deputadas, o equivalente a 9,9% das
cadeiras na Câmara dos Deputados. Já no Senado Federal, com 81 cadeiras, temos
12 mulheres. Com isso, os números brasileiros ficam a baixo da média mundial.
Só 10% dos países num mundo com 50% de mulheres são
governados por mulheres. Nossos números são inferiores, inclusive, aos do
Oriente Médio, que tem uma taxa de representação feminina de 16%.
4. Meninas refugiadas são submetidas a casamentos precoce
De acordo com a ONU, há um aumento alarmante no número de
meninas sírias refugiadas na Jordânia sendo forçadas a casamentos precoces. A
guerra na Síria está levando refugiados a negociarem o casamento de meninas adolescentes
com homens muito mais velhos. O mesmo também é observado no Líbano e no Egito.
Entre refugiados sírios, tanto a prática quanto o medo
da violência sexual, especialmente contra meninas, são citados como os
primeiros motivos para sair da Síria.
Em 2014, quase um terço dos casamentos entre refugiados na
Jordânia, cerca de 32%, envolvem garotas com menos de 18 anos, de acordo com a
Unicef. O índice casamentos com crianças na Síria antes da guerra era de 13%.
Os dados consideram apenas as uniões registradas oficialmente.
5. Infanticídio feminino e aborto seletivo são práticas
em alguns países
Em geral, o mundo tem mais homens do que mulheres, mas eles
estão mal distribuídos. Segundo mapeamento feito pelo Centro de Pesquisas Pew,
com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente existem 101,8
homens para cada 100 mulheres. Além disso, o número de habitantes do sexo
masculino no planeta está subindo gradualmente desde 1960.
Nas nações árabes, assim como países do Norte da África e
parte da Ásia, a quantidade de homens é superior à de mulheres. O infanticídio
feminino é uma das principais explicações para essa diferença em alguns países
como a China e a Índia.
Na China, a política do filho único fez com que fetos
femininos fossem abortados com mais frequência, além de estimular a prática do
infanticídio de meninas recém-nascidas. Historicamente, a força de trabalho
masculina é mais valorizada no país. Recentemente, o país se viu obrigado
a revogar sua política de filho único. O envelhecimento da população, o aborto
seletivo e infanticídio feminino foram os motivos.
Na Índia, mulheres são forçadas pela família a fazer aborto
de bebês quando forem do sexo feminino. O governo do país está preocupado com o
desequilíbrio entre sexos. No ano de 2013, entre os mais de 1200 milhões de
habitantes da Índia, 54% eram homens. Nos últimos 30 anos, a nação calcula que
houve 12 milhões de abortos de meninas.
Além do aborto seletivo e infanticídio de meninas, milhares
de bebês meninas são abandonadas todos os anos na Índia ao nascer, e
infelizmente poucas são resgatadas, deixando o país com 7,1 milhões de meninas
a menos que meninos.
6. Igualdade de gêneros ainda é distante na ciência
e tecnologia
Segundo a ONU, ciência e igualdade de gêneros são vitais
para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Nos últimos 15
anos, a comunidade global tem se esforçado para inspirar e engajar mulheres e
meninas nesta área. O último relatório da agência sobre o assunto mostrou que
as mulheres representam apenas 28% dos pesquisadores no mundo e a diferença
aumenta ainda mais nos escalões mais altos.
Infelizmente, elas continuam sendo excluídas de participar
plenamente no setor científico.
Uma pesquisa feita em 14 países mostrou que a
probabilidade de estudantes do sexo feminino obterem um diploma de bacharel,
mestrado ou doutorado em ciências ou em áreas relacionadas é de menos da
metade, se comparadas aos homens.
Com relação à tecnologia, apesar dos avanços, os desafios
ainda são muitos e escapam à mera inclusão digital. Um desses desafios é a
falta de representatividade do gênero na área.
Para mudar a realidade e a hegemonia masculina no mundo da
ciência e tecnologia, vários projetos veem já na inclusão digital um importante
mecanismo para apresentar, engajar e aumentar o envolvimento das mulheres com a
tecnologia. Alguns exemplos são o Programaria, Py Ladies e Academia Lovelace.
7. Salário de mulheres é 24% menor que homens
A taxa de desemprego das mulheres é cerca de duas vezes a
dos homens, de acordo com relatório da ONU Mulheres. Em todo o mundo, apenas
metade das mulheres participa do mercado de trabalho, em comparação a três
quartos dos homens.
Em geral, apenas um quarto das mulheres empregadas está no setor
formal. Em regiões em desenvolvimento, até 95% do emprego das mulheres é
informal. Elas também ainda "carregam o fardo de trabalho de assistência
não remunerado", segundo o relatório.
As disparidades não param por aí: a publicação revela
que em todo mundo, as mulheres recebem 24% menos que os homens. As diferenças
salariais para mulheres com filhos são ainda maiores.
Na França e na Suécia, ao longo de sua vida, uma mulher, em
média, pode esperar receber 31% menos que os homens. Estes números chegam 49%
na Alemanha e 75% na Turquia, por exemplo. Cerca de 83% dos trabalhadores
domésticos em todo o mundo são mulheres e quase metade não tem direito ao
salário-mínimo.
As diferenças de salários continuam para todas as mulheres,
com ou sem filhos, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Numa
média global, as mulheres ganham o equivalente a 77% dos salários dos homens. E
se nenhuma ação for tomada para mudar o quadro, a igualdade de salários só será
alcançada em 2086, daqui a 70 anos.
Em 2013, no Brasil, 4,5% dos homens estavam desempregados
contra 7,8% das mulheres. No mesmo ano, 59,4% das mulheres participavam da
força de trabalho, contra 80,8% dos homens.
8. Milhões de meninas nunca terão a chance de entrar numa
sala de aula
Quase 16 milhões de meninas entre seis e 11 anos de idade
nunca terão a chance de aprender a ler ou a escrever. O total é o dobro na
comparação com os meninos. Este é o principal dado de um atlas sobre
desigualdade de gênero na educação, lançado pela Unesco, em antecipação ao Dia
Internacional da Mulher.
Os índices mais altos de disparidades são vistos em países
árabes, na África Subsaariana e no sul e no oeste da Ásia. Na África
Subsaariana, por exemplo, 9,5 milhões de meninas nunca pisarão em uma sala de
aula, quase o dobro do total de meninos que não terão essa chance. Mais de 30
milhões de crianças da região já estão fora da escola.
Já no sul e no oeste da Ásia, 80% das meninas que não estão
na escola nunca terão a oportunidade, e 16% dos meninos. O problema afeta
4 milhões de garotas asiáticas, frente a menos de 1 milhão de garotos.
Fonte: EBC
por Líria Jade