Há infidelidade e infidelidades. Nem todos os
relacionamentos extraconjugais são iguais. De acordo com o escritor
norte-americano Frank Pittman, autor de Mentiras Privadas, existem três
tipos básicos de infidelidade: a acidental, a romântica e a crônica. A maioria
dos primeiros relacionamentos extraconjugais é de casos de infidelidade
acidental, não premeditados, que realmente "acontecem".
Você bebe um drinque a mais, teve um dia ruim, se deixa
levar. Pode acontecer para qualquer um, apesar de algumas pessoas serem mais
propensas a cair do que outras, e alguns lugares serem conhecidos como
"zonas de alto risco".
Tanto os homens quanto as mulheres podem escorregar e ter um
caso acidental, contudo, os mais propensos, os quais correm maiores riscos, são
os que bebem, os que viajam, os que não estão bem casados e aqueles que têm
muitos amigos que "saem por aí".
Acidentes acontecem, mas por quê? As causas são as mais
diversas. Entretanto, para muitos, a curiosidade pode ser a mola propulsora.
Tanto os não vividos sexualmente quanto os vividos - aqueles que já tiveram
muita experiência - podem achar que não foi em quantidade suficiente ou do tipo
desejado. E, ocasionalmente, se deixar levar.
Alguns daqueles que raramente traem são homens e mulheres
que tentaram, na adolescência, dominar o jogo da sedução, mas não conseguiram.
O mundo onde viviam não os achou suficientemente desejáveis e os deixou de
lado. Com o passar do tempo, descobriram que não conseguiram levar ou ser
levados para a cama por essa ou aquela pessoa, mas, de qualquer modo,
conseguiram casar.
Mais tarde, se alguém se aproximar e demonstrar um interesse
maior, podem perder a cabeça. Lembram-se do passado, quando ofereceram ao mundo
sua sexualidade e ninguém quis. E tentam compensar.
Por outro lado, as pessoas que se sentem bonitas se
acostumam com a lei da oferta e da procura e acabam aprendendo a aceitar e
recusar. Já aqueles que não são ou não se sentem atraentes podem eventualmente
se transformar em "mendigos sexuais" e aceitar qualquer proposta
("Hoje é o dia em que eu tirei a sorte grande. É agora ou nunca.").
Para eles, a escolha é mais difícil.
As pessoas que traem ocasionalmente têm um casamento às
vezes frustrante, às vezes tumultuado, como todos os casamentos. Mas, não a
ponto de lavá-las a pensar seriamente em se separar. O parceiro que trai
ocasionalmente não espera continuar a trair e muito menos se apaixonar.
Às vezes a traição esporádica ocorre com uma pessoa
desconhecida. Outras vezes, não. No caso do homem, pode ser com uma mulher que
era sua amiga antes de irem para a cama. Mas, depois que acontece, ele assume
uma atitude protetora, ou fica constrangida, ou com raiva.
O sexo os aproximou demais, o que pode levar a uma sensação
de pânico por ter se criado um vínculo inextrincável, um segredo grande demais
para ficar contido. Apesar de, na hora, ter ocorrido uma atração muito intensa
entre os dois parceiros, o que aconteceu é percebido como uma situação de alto
risco, um perigo, e não como amor.
Quando isso ocorre, no caso do homem, ele pode decidir que a
infidelidade foi um ato impensado, confessá-la ou não, e tomar mais cuidado no
futuro. Ou, ao contrário, constatar que o raio não o matou, achar que a
infidelidade é um passatempo maravilhoso e continuar a praticá-la.
Ou ainda colocar a culpa na sua mulher, voltar para casa e
destruir seu casamento. Dessa maneira, conclui que isso não teria acontecido se
estivesse bem casado, decide que o que ocorreu era inevitável e se declara
perdidamente apaixonado pela outra.
INFIDELIDADE ROMÂNTICA
Apaixonar-se é a forma mais louca de infidelidade. É uma
espécie de insanidade temporária. Isso acontece, em geral, não quando se
encontra uma pessoa maravilhosa, mas quando se está atravessando uma crise na
própria vida, não se sabe o que fazer e "ainda não se está pronto para
acabar com tudo".
Nessas horas, se envolver com uma pessoa décadas mais jovens
ou mais velha, alguém muito dependente ou dominante, com problemas ainda
maiores que os nossos, é tão imensamente estimulante como tomar uma droga.
Mas por que as pessoas perdem a cabeça e querem largar tudo,
pelo menos durante algum tempo? Todos os casamentos são imperfeitos e nos
desapontam de uma maneira ou de outra. Isso é parte da vida. Entretanto,
existem casamentos que não conseguem criar um mínimo de intimidade, sexo,
prazer, nem muito menos companheirismo.
Casamentos em que as pessoas não conseguem entrar de vez nem
sair de vez. Que não morrem e não se recuperam. Por exemplo, existem mulheres
casadas com homens que se satisfazem com 23 minutos de contato por semana e não
estão interessados em nada além disso. Essas mulheres ficam extremamente
vulneráveis. Junta-se privação e desejo; a fome com a vontade de comer.
Outros estão em casamentos tempestuosos, difíceis de manter
e procuram um ancoradouro emocional. Homens e mulheres infelizes no seu
casamento podem ter uma relação fora que os ajude a "varar as
noites". Esse tipo de "infidelidade salvadora" tem a finalidade
de diminuir as pressões sobre um casamento truncado. As escapadas permitem
ficar num relacionamento que, caso contrário, desmoronaria.
Uma terceira pessoa (o "outro", a
"outra") pode destruir uma boa relação, mas também pode ajudar a
estabilizar um casamento que vai mal. Um caso de infidelidade não é a maneira
mais construtiva de esfriar as tensões entre um homem e uma mulher, é apenas a
mais fácil: uma solução band-aid. Mas, como a maior parte das soluções
fáceis na vida, não resolve os verdadeiros problemas que causam as tensões. Só
eliminam os sintomas, e não os males que o provocaram.
FUGINDO DA REALIDADE
Amantes se dividem em dois grupos: os que amam os parceiros
e os que amam o amor. Os que amam seus parceiros podem formar um vínculo; os
que amam o amor, não. Esses são os verdadeiros românticos. Românticos não
toleram muito bem pessoas reais, ou seja, quanto menos real for a situação,
melhor. Eles costumam dividir o mundo ao meio: as pessoas por quem estão
apaixonados (ou podem vir a se apaixonar) e as demais. Em geral, não gostam
muito das demais.
Os românticos também podem ser divididos em dois grupos. Os
suaves, ou parciais, e os intensos, ou totais. Os primeiros podem não reclamar
da vida. Estão casados, mas têm a vaga sensação de que alguma coisa está
faltando. Sentem-se razoavelmente felizes. E utilizam casos românticos como um
remédio caseiro contra a depressão. Já os românticos totais mergulham em
intensos casos de amor e transformam o casamento em uma prisão da qual sentem a
necessidade de escapar.
Ambos os tipos normalmente entram nesses affairs numa
época difícil da vida: quando os filhos crescem, quando os pais morrem, depois
de uma doença grave, quando inesperadamente são promovidos ou perdem seus
empregos. Enfim, em qualquer situação em que se tenha de encarar a realidade e
amadurecer. Você precisa perceber quanto capital emocional está sendo
depositado no banco conjugal e quanto está sendo depositado fora.
Parceiros de infidelidade romântica são pessoas que não
testam a realidade e também não se preocupam em compreendê-la melhor. Isso
significa que, para que haja uma série de romances, de envolvimentos
temporários nas nossas vidas, é necessário que haja também uma série de
relacionamentos fracassados. Casos românticos levam a muitos divórcios, cenas
de horror, ataques do coração, mas não a muitos casamentos felizes.
Paixão e romance têm muito pouco a ver com amor. O romance,
por natureza, nunca dura muito tempo. Quanto mais intenso o calor da chama,
maiores as chances de a mariposa se queimar na lâmpada; quanto mais arriscada a
busca da felicidade instantânea, maiores as chances de um rápido
desencantamento.
INFIDELIDADE CRÔNICA
Existe ainda outro tipo de infidelidade: a constante ou
crônica. Isso significa pular de uma cama para outra. Na sociedade, essa é uma
atividade considerada tipicamente masculina. Homens cronicamente infiéis estão
interessados basicamente em afirmar sua masculinidade e, para isso, praticam
sexo compulsivamente. Sentem-se no direito de se apaixonar ao sabor do acaso
("Afinal, isso é tudo o que vale a pena na vida").
Mulheres também podem ser continuamente infiéis. Quando isso
acontece, ambos caem na agenda dos neuróticos: obter tanto prazer sexual quanto
possível, no menor espaço possível. Como a obsessão pelo sexo é sua única razão
de viver, praticamente não existem limites para o que fazem em busca desse
prazer.
A infidelidade crônica é característica do homem normalmente
definido como conquistador. O fato de ser casado não o impede de "partir
para o ataque" sem nenhuma inibição sempre que tem uma chance. Para ele, o
que interessa é "comer todas e beber todas", sem praticamente se
importar com as conseqüências.
Conquistadores inveterados, sentem-se desconfortáveis em
qualquer situação na qual não estejam exibindo ou exercitando sua
masculinidade. Dessa perspectiva, um homem que não está conquistando nenhuma
mulher está perdendo. Colecionar parceiras é para eles uma forma de provar que
são homens.
No fundo, essa necessidade constante de um enorme elenco
sexual de apoio os impede de se comprometer, pois os conquistadores não amam de
fato. Eles gostam das mulheres como as "raposas gostam das galinhas";
ligam-se no corpo, no de fora, mas ignoram o que está por dentro.
Homens com tais características podem ser envolventes,
encantadores, mas nunca estabelecem um relacionamento muito pessoal. Sempre
mantêm uma cautelosa distância quando se trata de sentimentos.
Podem até ter raiva das mulheres, tratando-as com crueldade
e usando a sedução como arma para controlá-las. Com freqüência, procuram
despersonalizá-las, lidando com elas como se fossem trocáveis, descartáveis.
Estão convencidos de que as adoram, mas, em vez de amá-las, na verdade apenas
se consomem com regularidade.
O conquistador insaciável finge que está sempre procurando
uma mulher melhor do que a esposa (e assim justifica sua busca permanente), mas
no fundo não quer encontrá-la, porque não pretende se divorciar e encarar todas
as despesas e amolações que acompanham a separação.
Considera-se um homem de sorte: teve todas as mulheres que
quis na vida, nunca se comprometeu, nunca precisou ver nenhuma delas de novo e
é invejado por todos os outros homens nos lugares que freqüenta. Para ele, só
há um erro imperdoável, um pecado mortal em sua carreira de conquista: ser
apanhado em flagrante.
Por outro lado, há mulheres que tentam a carreira de
conquistadoras só para descobrir que fracassam quando se apaixonam. Acredita-se
que as mulheres não conseguem transar de forma tão impessoal quanto os homens.
Muitas das mulheres que têm encontros casuais estão usando sua sexualidade em
busca de momentos mágicos ou de alguém para amar.
Outras são conquistadoras de fato, caçadoras, e usam sua
sexualidade, sua capacidade de sedução, para exercer poder sobre os homens.
Essas mulheres saem todas as noites em busca de novos parceiros de cama ou de
vida. Algumas acabam tornando-se tão cínicas quanto os homens e deixam de
acreditar no amor, enquanto as demais continuam buscando a vara de condão - o
amor através do sexo.
Homens e mulheres caçadores muitas vezes tiveram um pai
também caçador, que eles idealizaram. Por isso consideram suas conquistas
perfeitamente normais e acreditam que estão sendo invejados e admirados.
Imaginam ainda que todos agem como eles (ou, pelo menos, gostariam de agir). No
fundo, são pessoas que ficaram presas nessa armadilha da adolescência.
Com o passar dos anos, muitas vezes o jogo da conquista vira
o objetivo do conquistador. Depois que o outro diz sim, a caçada perde o
interesse, a relação nem precisa se consumar. O simples fato de ter seduzido,
ou de ter feito o outro se interessar mais do que está interessado, já o
satisfaz. Com isso, coloca um rótulo de "comida" ou
"conquistada" e pronto. Agora essa pessoa já pode ser arquivada.
Os conquistadores, em geral, se consideram absolutamente
irresistível. Existe, porém, algo em comum entre os homens desse tipo: a
inesgotável capacidade de tornar suas mulheres infelizes.
Fonte: Livro Encontros, Desencontros e Reencontros de Maria Helena Matarazzo