Não só de romances emocionantes, grandes produções e
histórias fantásticas vive o cinema, isso é sabido. Assim como no mundo real,
existe também o lado obscuro da coisa, onde a mente mais perversa e louca
perambula. Sabemos que o ser humano pode chegar ao estado de praticar algumas
anormalidades: necrofilia, incesto, scat, canibalismo,
blasfêmia, masoquismo e outras insanidades possíveis. Mas e quando isso é
mostrado em filmes, sem censura ou qualquer tipo de preocupação com quem irá
assisti-lo? É o que decidi reunir aqui, algumas das obras mais perturbadoras
feitas para o cinema. Lembrando que é uma lista feita com os filmes que já
assisti e não está em ordem de melhor ou pior, sei que existem dezenas de outros
filmes iguais ou mais bizarros ainda, que em futuro próximo irei assistir e
postarei aqui. Então vamos lá, segure-se firme e boa sorte!
Não postarei fotos de cenas dos filmes, pois podem ser grotescas e
ofensivas, e não devem ser mostradas a menores (nem para alguns maiores, em
minha opinião).
NEKROMANTIK (1987)
Diretor: Jörg Buttgereit
País: Alemanha
O filme é basicamente sobre necrofilia, onde mostra a vida
do nosso protagonista, que trabalha na “Agência de Limpeza do Joe”, coletando
mortos e o que sobrou deles após um acidente, assassinato, etc. Como se não
bastasse, o cara rouba e coleciona pedaços dos cadáveres em sua casa, onde mora
com sua mulher, que aprecia a “arte”.
Não se contentando com pouco, ele finalmente tem a
oportunidade de roubar um dos cadáveres e levá-lo pra casa (para alegria da
mulher), a partir daí, vemos o fetiche mais bizarro que um ser humano pode ter:
transar com um defunto em avançado estado de decomposição. A cena é doentia, em
câmera lenta, com som de piano ao fundo; seria extremamente romântica, se não
houvesse um defunto entre o casal, claro.
Banho com sangue de gato morto, cenas reais de um
coelho sendo escalpelado vivo, orgasmo durante o próprio suicídio (numa cena
tosca e cômica), tornam o filme como um dos mais bizarros já produzidos.
Dirigido por Jörg Buttgereit que também atuou e ainda ajudou a escrever,
editar e a fazer os efeitos especiais, não é um filme muito bonito de se ver,
mas vale pela experiência de conhecer um pouco desse estranho mundo dos
necrófilos.
SUBCONSCIOUS CRUELTY (1999)
Diretor: Karim Hussaim
País: Canadá
O filme é composto por duas histórias. A primeira mostra um
rapaz que é apaixonado pela irmã que é prostituta, e sofre por vê-la com outros
e não com ele. Após sua gravidez, ele decide cuidar dela e aprender como se faz
um parto, com isso seus pensamentos insanos sobre a criação vão ficando cada
vez mais intensos, decidido a fazer a pior coisa possível a um ser humano,
sendo o próprio Deus. Durante o nascimento do bebê ele então se livra daquilo
tudo que o incomodava: mata o feto com um grande anzol e sufoca a mãe
aterrorizada, com o sangue do próprio bebê. Cenas surreais e estranhas
completam essa história de amor e ódio.
Antes da segunda história temos uma “divisão” das tramas,
onde mostra pessoas nuas, literalmente transando com a terra e a natureza que
sangra.
A segunda história é sobre um homem que tem uma vida
extremamente chata e monótona, em que a única diversão é chegar em casa após o
trabalho e se masturbar vendo filmes pornôs. Durante uma noite de sono
ele se vê num pesadelo bizarro: o crucifixo que ele usa no pescoço é derretido
e injetado dentro de sua própria cabeça, segundos depois vemos “Jesus”
machucado e chorando na porta de uma igreja. Levado por três mulheres nuas para
uma espécie de templo, malignamente elas comem sua carne, bebem seu sangue e
ainda depois de todo sofrimento um pedaço de madeira é inserido em seu ânus.
O filme ataca profundamente as questões da fé e da
existência humana, criticando os modos como a crença em Deus e nas religiões
podem afetar de maneira negativa e insatisfatória o ser humano.
AFTERMATH (1994)
Diretor: Nacho Cerdà
País: Espanha
A película é um curta-metragem que se passa em um
necrotério, onde é mostrada a história de um médico legista que após a chegada
de um cadáver feminino se vê tendo desejos pelo mesmo. Aproveitando a deixa de
estar sozinho com o cadáver, realiza suas vontades: tira fotos, se masturba e
por fim penetra na pobre defunta. Tudo isso ao som de música clássica e não há
nenhum diálogo, o que deixa ainda mais intrigante as cenas, onde os olhares é
que mostram tudo.
Maquilagem espetacular e um final bacana, melhor que
muito longa-metragem cheio de diálogos mas que não dizem nada.
CANNIBAL HOLOCAUST – HOLOCAUSTO CANIBAL (1980)
Diretor: Ruggero Deodato
País: Itália
Considerado um dos filmes mais controversos de todos os
tempos e também é tratado como Cult no mundo do cinema de
horror.
O filme narra a história de um professor que após o sumiço
de quatro jovens que foram pesquisar sobre uma tribo canibal na Amazônia, é
escalado pela universidade de NY e por um
canal de TV parar ir até o lugar e descobrir o paradeiro dos
jovens. O que ele encontra são apenas vestígios de que os jovens foram mortos e
filmes da câmera usada por eles, onde mostram as cenas do que aconteceu.
Canibalismo, empalamento, estupro, sexo, animais mortos de verdade (o que era
normal na época). A maquiagem e os efeitos especiais são tão perfeitos que
correram boatos após o lançamento do filme de que os atores foram mortos de
verdade. Desmentido pelo diretor, que levou os atores a um programa de TV para
provar que estavam todos vivos.
Quando o vi pela primeira vez fiquei impressionado tamanha a
perfeição e realidade das cenas. No fim faz você refletir sobre quem são os
verdadeiros selvagens.
ERASERHEAD (1977)
Diretor: David Lynch
País: Estados Unidos
Henry (John Nance), um pacato operário que trabalha numa
gráfica com uma rotina em um apartamento não muito animadora, tem sua vida
mudada após ir visitar a família de sua namorada (família bem estranha por
sinal) e descobre que depois de um tempo sem a ter visto ela esteve grávida e
nasceu um bebê prematuro. A partir daí começam as seqüências mais bizarras do
filme, por quê? Henry e sua namorada Mary vão morar juntos no apartamento, obrigados
a casarem pela mãe da moça. Imagine um feto que parece mais um uma minhoca ET
que não para de gemer um minuto. Mary cansada de tudo resolve o deixar com o
“bebê”. Somos levados aos sonhos de Henry, onde há uma mulher “fofão” e
após sua cabeça ser cortada é usada para fazer lápis.
Um filme bastante surrealista e maluco, as cenas com o tal
feto são bem nojentas, principalmente quando o mesmo fica doente. Primeiro
longa-metragem de David Lynch, desde o começo mostrou que não é um diretor
muito convencional.
EX-DRUMMER (2007)
Diretor: Koen Mortier
País: Bélgica
Filme narra a história de três deficientes: um skinhead de
língua presa, um surdo e um gay que não tem o movimento no braço direito
(causado pelo trauma de ser flagrado pela mãe se masturbando), juntos eles
querem montar uma banda de punk rock para tocar em um festival, mas necessitam
de um baterista obrigatoriamente deficiente. É usada todo tipo de anormalidade
cinematográfica pra torná-lo ainda mais louco: ação invertida, câmera lenta,
enquadramentos fora do comum, planos sobrepostos, estética propositalmente suja
e violência explícita.
Mostra toda a imundice fashion underground, temos a
impressão de estar vendo um filme atrasado pra época, anormal é pouco.
FREAKS – MONSTROS
(1932)
Diretor: Tod Browning
País: Estados Unidos
Freaks foi muito mal compreendido na época, o que após seu
lançamento foi proibido em vários países e banido de vez por 30 anos. Em 1962
foi redescoberto após uma retrospectiva em um Festival de Cannes. Tudo porque o
que temos nessa película são aberrações humanas de verdade contratadas de
Sideshows da época.
É contada história do anão Hans, umas das atrações do circo
de horrores que se apaixona pela trapezista Cleópatra. Ao saber que o pequenino
herdou uma fortuna, resolve armar um plano junto com seu amante Hércules:
casar-se com o anão, matá-lo e apossar-se de sua fortuna. O plano acaba sendo
descoberto pelas aberrações que resolvem se vingar. Há no máximo 5 pessoas no
filme que não possuem deficiências, entre humanos deformados temos: Irmãs
siamesas, anões, garota sem braço, rapaz sem pernas, microencefálicos, um homem
sem nenhum dos membros e tudo mais que podem imaginar.
Uma película além de sua época é impactante, extremamente
crítico, surpreendente e bonito. Vemos com brilho nos olhos o quão são dóceis,
carinhosos e felizes os seres, apesar de suas limitações, nos levando a
refletir quem são as verdadeiras aberrações. Com certeza um filme indispensável
para qualquer cinéfilo.
FUNNY GAMES –
VIOLÊNCIA GRATUITA (1997)
Diretor: Michael Haneke
País: Áustria
Violência e covardia, palavras chave pra esse filme. Uma
família é sequestrada dentro da própria casa por dois sádicos rapazes onde
passam férias, sofrimento físico e psicológico é causado o máximo possível. A
trama é simples, sem um roteiro impressionante, reviravoltas na história, mas
com um final nada feliz. Somos levados juntos com a violência mostrada, como se
fizéssemos parte do que está acontecendo, principalmente numa cena em que um
dos rapazes dá uma piscadela pra câmera, cheio da maldade, nos avisando que
algo interessante vem por ai. Vale a pena ver por como as cenas são bem reais e
cruéis.
Filme indispensável pra quem gosta de cinema alternativo,
crueldade e humor ácido.
GUINEA PIG – THE FLOWER OF FLESH AND BLOOD
(1985)
Diretor: Hideshi Hino
País: Japão
Guinea Pig é uma série japonesa de 7 filmes, criada para
testar novas e diferentes técnicas de maquiagens boladas por estudantes de
cinema. Tomou notoriedade no underground do terror extremo por causa de cópias
raras e toscas, sempre com imagens ruins, sendo erradamente tratados como snuff
movie (filmes onde há mortes de verdade dos atores). Sadismo,
violência, transbordamento de crueldade, fazem dessa série uma das coisas mais
sangrentas que alguém pode ver. Não é recomendada para pessoas impressionáveis
e fracas do estômago.
Vou citar aqui particularmente a parte 2: Flower of Flesh
and Blood. Um assassino sequestra uma jovem no metrô, leva pra um lugar que
parece ser sua casa, dopa a pobre moça e começa a mutilá-la vestido de samurai,
recitando alguns “poemas” durante todo o processo. Depois vemos que ela é só
mais uma, de várias outras vítimas, com seus pedaços guardados em vários
lugares. As cenas são tão reais e convincentes, que reza a lenda que o ator
Charlie Sheen após ver o filme, denunciou para um departamento americano de
censura aos filmes, que logo contatou FBI que por sua vez contatou as
autoridades japonesas as quais já investigavam o filme. Diretores foram presos,
até mostrarem o making of das filmagens e explicar tudo. Esquisitices que você
só encontra no Japão.
IRREVERSIBLE –
IRREVERSÍVEL (2002)
Diretor: Gaspar Noé
País: França
Após o estupro de sua mulher Alex (Monica Belucci), Marcus
(Vicent Cassel) e seu amigo Pierre (Albert Dupontel), ex da moça, saem à procura
de vingança, indo aos lugares mais podres da cidade. A ação do filme é
invertida, ou seja, a história é mostrada de traz pra frente, exato! Começo do
filme é na verdade o fim da história, nos mostrando como tudo chegou até ali.
Não há cortes nas cenas, a câmera dá uma pirueta e nos leva para próxima cena,
passeia com os personagens, cai, gira, deixa coisas de cabeça-para-baixo, foge
de foco, coisas que desnorteiam. A cena do estupro e violência dura mais ou
menos 10 minutos, sem cortes, como se a câmera tivesse sido deixada no chão,
pra testemunhar o fato, é algo bem angustiante e forte.
É um dos melhores filmes que eu já vi, Gaspar Noé conseguiu
fazer de uma história simples uma película bem complexa e intensa. Mente aberta
é o mínimo que você tem que ter para assisti-lo.
ICHI, THE KILLER – ICHI, O ASSASSINO (2001)
Diretor: Takashi Miike
País: Japão
Baseado no mangá de Hideo Yamamoto é um dos filmes mais
sanguinários, pervertidos, sem noção e violentos já produzidos. É narrada a
história de dois personagens. Kakihara (masoquista ao extremo e afeminado), subchefe
da gangue ‘do Anjo’; com o sumiço do chefe, descobre uma conspiração em toda a
máfia e irá torturar várias pessoas pra descobrir quem está por traz de tudo. O
outro personagem é o assassino, que dá nome ao filme ‘Ichi’, que desmembra e
destroça suas vítimas com uma espécie de faca super potente nas botas e não
poupa a vida de nenhum criminoso ou quem quer que ouse contrariá-lo.
Cortar a própria em língua em sinal de “desculpas”, jogar
óleo fervente no cara pendurado por garras de ferro fincadas na pele, bochechas
puxadas até sangrar, rosto usado como alvo de dardos, são algumas das cenas
doentias desse filme, ainda com um pouco de humor. Mais uma das crias bastardas
do Japão.
PINK FLAMINGOS (1972)
Diretor: John Waters
País: Estados Unidos
Divine é uma drag queen que tem o estranho título de ‘pessoa
mais asquerosa do mundo’ e se orgulha muito disso, vive com sua família em um
trailer: seu filho Crackers, que adora transar com galinhas e com suas namoradas
no galinheiro; sua mãe Mama Edie, uma velha estranha que vive em um berço e ama
comer ovos crus; e Cotton, que adora ver Crackers se “satisfazendo” no
galinheiro. Mas seu trono está ameaçado por um casal não menos bizarro que ela:
eles sequestram jovens que são estupradas no cativeiro por um empregado para
engravidarem, após o nascimento dos bebês eles são vendidos para casais de
lésbicas.
Filme é trash ao extremo, com cenas nauseantes; canibalismo,
incesto, nudez, “dança do ânus” e mais algumas coisas escrotas, mas tudo com um
humor negro indescritível; destaque para uma das cenas mais antológicas do
cinema trash: Divine saboreando fezes caninas. É preparar o estomago e dar uma
conferida.
SALÒ O LE 120
GIORNATE DI SODOMA – SALÓ OU 120 DIAS DE SODOMA (1976)
Diretor: Pier Paolo Pasolini
País: França/Itália
Itália, 1944, controlada pelo regime nazista. Quatro
libertários fascistas sequestram 16 jovens e os mantém aprisionados numa mansão
repleta de guardas e empregados. Dividido em três partes baseadas nas histórias
de Marquês de Sade (“Círculo de Manias, Círculo de Merda e Círculo de Sangue”).
Os jovens são levados ao extremo da humilhação, usados como fonte de prazer,
masoquismo e morte. É um dos filmes mais chocantes da história, até hoje
provoca desagrado de muitos que assistem, por seu alto teor de crueldade e
violência gratuita.
Apesar de ser absurdamente de mau gosto, é um bom filme,
consegue transmitir a mensagem principal, mesmo ela sendo ruim. O diretor foi
assassinado meses após terminar o filme, crime o qual supostamente por
motivação política. Pasolini era comunista e homossexual.
THRILLER – A CRUEL
PICTURE (1974)
Diretor: Bo Arn Vibenius
País: Suécia
Madeleine (Christina Lindberg) mora com os pais numa
fazenda. Ficou incapaz de falar após um trauma de ter sido molestada na
infância, o que a faz passar por sessões de terapia. Num belo dia, após perder
o ônibus, aceita carona de um rapaz, aparentemente um bom moço. Após aceitar o
convite do rapaz para jantar, é levada para casa dele e drogada, sendo obrigada
a se prostituir para sustentar seu vício em heroína. Depois de um
desentendimento com o primeiro cliente, tem seu olho arrancado e passa a ser
chama de “One Eye”. Com o dinheiro que ela ganha em seus programas, inicia uma
série de treinamentos para arquitetar sua vingança; fazendo aulas de tiro,
caratê e manobras com automóvel. Película que se
tornou cult na cena trash, como um dos
raros filmes a mostrar cenas de sexo explícito (não se sabe se foram feitas
pela própria atriz).
É bem interessante ver a transformação daquela garota frágil
se transformar numa mulher cheia de ódio em busca de vingança. Boas cenas de
ação, tiroteios em câmera lenta e um final digno, é o doce sabor da vingança na
sua mais cruel forma.
BEGOTTEN (1990)
Diretor: E. Elias Merhige
País: Estados Unidos
Deus está sozinho e abandonado, e se suicida estripando-se
com uma navalha. Eis que de sua morte emerge a Mãe-Natureza, masturba o
moribundo e com o sêmen do mesmo fertiliza-se, originando do seu ventre a
Humanidade, um ser doente e de extrema fraqueza, que parece mais um mendigo com
epilepsia e durante toda sua existência é maltratado por uns monstros que vagam
pela terra. É com certeza o filme mais estranho e indescritível que alguém pode
ver na vida, não há como se encaixar em algum gênero. A película é toda em
preto e branco, sem tons de cinza, o que torna algumas cenas indecifráveis, não
há diálogos, apenas barulhos e sons sombrios.
Eu particularmente achei chato e sem noção, mas pra quem
gosta de surrealismo gótico e mórbido é uma boa pedida. Segundo o diretor, ele
teve a ideia do filme após um acidente de carro, com certeza ele deve ter
batido a cabeça.
Fonte: Antagonisti