Prism: porque nós deveríamos nos preocupar

Especialistas chamam programa dos EUA de violação dos direitos humanos e sugerem boicote ao Google e Facebook. “É uma intrusão nos direitos humanos básicos”, disse o criador da web, Tim Berners-Lee, sobre a revelação de que empresas como Google, Facebook, Yahoo, Skype e Microsoft colaboram com o governo dos EUA no programa de espionagem Prism. Um vazamento na semana passada mostrou que autoridades americanas têm acesso aos dados e informações dos usuários dessas empresas há sete anos. Para Berners-Lee, programas do tipo ameaçam as fundações básicas de uma sociedade democrática.

“Nas últimas duas décadas, a web se tornou uma parte integral de nossas vidas. Um vestígio de nosso uso pode revelar coisas muito pessoais. O armazenamento dessa informação sobre cada pessoa é uma reponsabilidade muito grande: em quem você confiaria para decidir quem pode ter acesso, ou para mantê-la segura?”, questionou. 

Tim Wu, professor de direito na Universidade de Columbia, foi radical ao comentar sobre o caso: “saia do Google, saia do Facebook”, ele disse. “É legal ficar em contato com os amigos. Mas eu acho que se descobrir que essas empresas estão envolvidas nesses programas de espionagem, você deveria sair.”

“Quando você tem uma concentração enorme de dados nas mãos de poucos, a espionagem se torna muito fácil. Então o Facebook e o Google são sempre alvos fáceis para qualquer governo que queira descobri coisas sobre as pessoas”, diz Wu. 

Cartaz divulgado pelo perfil do Anonymous no Facebook

Dentro e fora dos EUA. O escândalo veio à tona na noite de quinta-feira, 6. Os jornais Washington Post e The Guardian publicaram documentos vazados por um ex-funcionário da CIA que revelam a cooperação do governo americano com as empresas de internet.

O programa de monitoramento não afeta apenas usuários norte-americanos. Na prática, qualquer usuário desses serviços pode ter sua comunicação violada - segundo o Washington Post, conversas de áudio e vídeo, arquivos (como os que estão no Google Drive), fotos, e-mails, documentos e histórico de navegação, por exemplo, podem ser monitorados pelo governo americano. Ou seja: praticamente tudo o que você usou nos últimos sete anos.

Quando o escândalo foi divulgado, tanto Facebook quanto o Google correram para desmentir: em comunicados bastante parecidos, as empresas disseram que “nunca tinham ouvido falar de tal programa antes da denúncia”, que negariam qualquer pedido de colaboração do tipo e que o episódio ressalta a necessidade de mais transparência sobre os pedidos de informação do governo.

O responsável por um dos “vazamentos mais significativos da história política dos EUA”, como definiu o jornal britânico The Guardian, foi Edward Snowden, ex-funcionário da CIA de 29 anos. Ele decidiu revelar sua identidade ao jornal porque acredita não ter feito “nada de errado”. “Eu não quero atenção pública porque não quero que essa história seja sobre mim, mas sobre o que o governo americano está fazendo.”

O programa de monitoramento não é ilegal. Aqui no Brasil também não há nenhuma lei que trate adequadamente como as empresas de internet devem coletar e armazenar dados pessoais - os especialistas pedem a aprovação do Marco Civil da Internet, que protegeria os usuários já que, com ele, a divulgação das informações coletadas dependeria de autorização judicial. O Marco Civil está parado na Câmara dos Deputados.


Fonte: Revista Galileu por Tatiana de Mello Dias