Forno, fogão e micro-ondas são para os fracos. Um chef
versátil é capaz de fazer uma boa refeição com qualquer coisa – até a máquina
de lavar louça. Quem gosta de cozinhar sabe a importância da máquina de lavar
louça. Depois de horas diante do fogão, a alegria de sentar-se à mesa e comer é
indescritível – desde que possamos nos esquecer da pia. Uma máquina que recebe
toda aquela bagunça e devolve tudo limpo, brilhante e seco só pode ser uma
invenção dos deuses. Minha simpatia por ela, que já era grande, aumentou quando
descobri que também serve para cozinhar. É possível fazer sobremesas,
guarnições e até pratos elaborados como uma lagosta, dentro de uma máquina de
lavar louça.
Quem inventou essa técnica foi Lisa Casali, apresentadora de
um programa de culinária sustentável no canal italiano RAI e autora de livros
sobre cozinha ecologicamente correta. Em seu livro Cozinhando no lava-louça Lisa
ensina mais de 60 receitas. O objetivo é usar a mesma quantidade de água e
energia elétrica para lavar a louça e cozinhar simultaneamente. Com isso, diz
Lisa, o calor deixa de ser desperdiçado, e a cozinha se torna mais sustentável.
Apesar de o motivo ambiental ser nobre, quando li pela
primeira vez sobre esse método de cozinhar tive receio. Ele se baseava numa
premissa da técnica de Lisa. Para ser realmente sustentável, é preciso cozinhar
apenas quando a máquina estiver cheia de louça suja. Usar a máquina
exclusivamente para cozinhar, sem nenhum prato gorduroso ou copo usado na
máquina, não torna a técnica ecologicamente correta. A ideia de colocar
alimentos numa máquina cheia de louça suja não me pareceu nem um pouco
higiênica. E se a sujeira se misturasse com os alimentos? E se o sabão entrasse
em contato com a comida? E se desse tudo errado, e o recipiente com a comida
explodisse lá dentro da máquina? Além do prejuízo do lava-louça quebrado, eu
teria o trabalho de limpar toda a bagunça.
Mesmo assim, resolvi enfrentar o medo e levar adiante o experimento. Já ouvira falar de métodos alternativos para cozinhar: vídeos pela internet ensinam a fazer comida usando ferro de passar roupa, energia solar e até motor de carro. Pesquisando bem, é possível aprender a preparar uma refeição com pouquíssimos recursos. Com um pouco de curiosidade, qualquer cozinheiro pode se sentir como MacGyver – o agente secreto da série Profissão perigo, conhecido por sua capacidade de improvisar invenções mirabolantes e perigosas a partir de objetos inofensivos, como uma laranja ou um clipe de papel. Fiquei curiosa para saber como me sairia cozinhando longe do fogão.
Para cozinhar na máquina de lavar louça, são necessários potes de vidro ou saquinhos selados a vácuo. Os alimentos sempre serão colocados num desses recipientes. Com isso, a comida fica protegida da água e do sabão, mas ainda sofre o efeito do calor – responsável pelo cozimento. Para usar o saquinho, é necessário ter uma embaladora a vácuo. Os potes são mais simples. Podem ser embalagens de conserva reaproveitadas. Como não tenho embaladora a vácuo, escolhi uma sobremesa que deve ser feita num pote: uma compota de frutas com iogurte e cereais. Foi fácil. Bastou colocar frutas da estação no pote (usei banana e maçã), acrescentar mel, açúcar mascavo e limão. Fechei o pote com força e o ajeitei dentro da máquina, com a louça suja de um café da manhã. Coloquei sabão, liguei e cruzei os dedos para aquele negócio não virar uma lambança dentro da máquina. Pratos mais demorados pedem ciclos de lavagem mais longos. Como essa era uma sobremesa simples, o ciclo de lavagem rápido era suficiente.
Pouco mais de uma hora depois, fui ver o resultado. O pote não estava estourado nem abrira. Bom começo. Tirei-o de dentro da máquina e abri a tampa. Cheirei para me certificar de que não entrara sabão. A vedação do pote parecia ter funcionado bem. O limão, o açúcar e o mel se transformaram numa calda dourada, e as frutas estavam macias. Coloquei o iogurte e a granola por cima, como mandava a receita. Experimentei, ainda com medo de sentir o gosto de sabão ou água suja. Isso (ufa!) não aconteceu.
Além de ser boa para tempos de crise energética, a sugestão de Lisa promete deixar os alimentos mais saborosos. A lógica é a mesma do sous-vide, uma técnica da alta gastronomia que cozinha lentamente, em baixas temperaturas, para conservar o sabor e os nutrientes. A cozinha do MacGyver, quem diria, pode ser chique. Quem precisa de fogão quando tem uma máquina de lavar louça e potes de azeitona vazios?
Mesmo assim, resolvi enfrentar o medo e levar adiante o experimento. Já ouvira falar de métodos alternativos para cozinhar: vídeos pela internet ensinam a fazer comida usando ferro de passar roupa, energia solar e até motor de carro. Pesquisando bem, é possível aprender a preparar uma refeição com pouquíssimos recursos. Com um pouco de curiosidade, qualquer cozinheiro pode se sentir como MacGyver – o agente secreto da série Profissão perigo, conhecido por sua capacidade de improvisar invenções mirabolantes e perigosas a partir de objetos inofensivos, como uma laranja ou um clipe de papel. Fiquei curiosa para saber como me sairia cozinhando longe do fogão.
Para cozinhar na máquina de lavar louça, são necessários potes de vidro ou saquinhos selados a vácuo. Os alimentos sempre serão colocados num desses recipientes. Com isso, a comida fica protegida da água e do sabão, mas ainda sofre o efeito do calor – responsável pelo cozimento. Para usar o saquinho, é necessário ter uma embaladora a vácuo. Os potes são mais simples. Podem ser embalagens de conserva reaproveitadas. Como não tenho embaladora a vácuo, escolhi uma sobremesa que deve ser feita num pote: uma compota de frutas com iogurte e cereais. Foi fácil. Bastou colocar frutas da estação no pote (usei banana e maçã), acrescentar mel, açúcar mascavo e limão. Fechei o pote com força e o ajeitei dentro da máquina, com a louça suja de um café da manhã. Coloquei sabão, liguei e cruzei os dedos para aquele negócio não virar uma lambança dentro da máquina. Pratos mais demorados pedem ciclos de lavagem mais longos. Como essa era uma sobremesa simples, o ciclo de lavagem rápido era suficiente.
Pouco mais de uma hora depois, fui ver o resultado. O pote não estava estourado nem abrira. Bom começo. Tirei-o de dentro da máquina e abri a tampa. Cheirei para me certificar de que não entrara sabão. A vedação do pote parecia ter funcionado bem. O limão, o açúcar e o mel se transformaram numa calda dourada, e as frutas estavam macias. Coloquei o iogurte e a granola por cima, como mandava a receita. Experimentei, ainda com medo de sentir o gosto de sabão ou água suja. Isso (ufa!) não aconteceu.
Além de ser boa para tempos de crise energética, a sugestão de Lisa promete deixar os alimentos mais saborosos. A lógica é a mesma do sous-vide, uma técnica da alta gastronomia que cozinha lentamente, em baixas temperaturas, para conservar o sabor e os nutrientes. A cozinha do MacGyver, quem diria, pode ser chique. Quem precisa de fogão quando tem uma máquina de lavar louça e potes de azeitona vazios?
Fonte: Epoca/Globo
por NATÁLIA SPINACÉ