Levar uma criança ao circo é uma aposta arriscada: não tem
como garantir que a diversão inocente não vá virar um show de horror. A
coulrofobia, ou o medo de palhaços, é uma das fobias mais comuns e pode ser carregada da infância até a
vida adulta. Mas o que naqueles sapatos enormes, narizes vermelhos e olhos
arregalados causa um incômodo tão grande na gente?
O psicólogo Frank
McAndrew, professor da Knox College, decidiu investigar. Em primeiro lugar, ele levanta o
histórico do "palhaço do mal". A ideia do bufão almadiçoado de A
Coisa, de Stephen King, começou com um serial killer.
Nos anos 1970, a polícia descobriu os corpos de 33 vítimas
do Palhaço Pogo, apelido de John Wayne Gacy, que trabalhava em festas infantis
aos fins de semana. Aí o palhaço assassino entrou para o folclore.
Só que crianças já sentem medo de palhaços muito antes de
terem idade para assistir filmes de terror. Daí a ideia de McAndrew de que a
origem desse pavor é muito mais instintiva. O psicólogo realizou, recentemente,
um estudo chamado On The Nature of Creepiness, no qual ele se
aprofunda no conceito de "creepy", característica em inglês que
atribuímos para pessoas esquisitas e perturbadoras, que nos causam um certo
incômodo.
A pesquisa não era sobre palhaços, mas os dois
assuntos se cruzaram muitas vezes. Em primeiro lugar, durante o estudo,
McAndrew pediu que 1.341 pessoas classificassem as profissões maiscreepy.
Palhaços foram os campeões disparados.
Além disso, elas elencaram as características - físicas e
comportamentais - mais perturbadoras. Como resultado, os pesquisadores
descobriram que homens têm mais chance de serem considerados esquisitos que as
mulheres. Primeira coincidência, já que também há mais palhaços do sexo
masculino do que do feminino.
Outras características que se destacaram foram olhos
arregalados, sorrisos estranhos e dedos muito compridos. Mas nenhum desses
aspectos, sozinho, era a origem daquela inquietação que sentimos perto de
alguém creepy.
O buraco, segundo McAndrew, é mais embaixo: o que nos
perturba nessas pessoas é sua imprevisibilidade. Uma pessoa creepy não
é exatamente assustadora - e por isso, seria mal educado simplesmente fugir
dela. Mas nossa intuição ainda sente que pode ter uma ameaça ali. É essa
incerteza que gera aquele incômodo difícil de definir.
Que um belo exemplo de alguém com um comportamento
imprevisível? Uma dica: maquiagem branca, peruca e um bocão. Ser voluntário de
uma brincadeira com um palhaço é a maior armadilha. Você não consegue antecipar
o que virá. Pior: sabe que não tem direito de se ofender se não gostar da piada
ou da torta na cara.
Para completar o cenário, a maquiagem e a fantasia te
impedem de ler as intenções e os sentimentos reais do palhaço. Aí seu detector
decreepiness dispara e você prefere ficar bem longe daquilo -
independente da idade que tenha.
O fato desse fenômeno aparecer desde muito cedo e continuar
na vida adulta indica uma possível explicação evolutiva para o medo de pessoas
com comportamento ambíguo e emoções difíceis de ler. O incômodo seria uma
reação que nos mantém alertas perante ameaças que não conseguimos avaliar com
precisão. Se aquela pessoa estranha acabar sendo inofensiva, não desperdiçamos
energia fugindo, mas também não relaxamos completamente.
Da próxima vez que você der dois passos para longe de Patati
Patatá em uma festa infantil, não pense nisso como covardia: pode ser que esse
mesmo medo tenha salvado a vida dos seus antepassados lá atrás.
Fonte:
Superinteressante por Ana Carolina Leonardi editado por Tiago Jokura
Foto: Reprodução