Cayla parece inofensiva. A boneca, loira e de olhos
claros, veste roupinhas descoladas, fala sobre seus hobbies e até conta
histórias. Quando está conectada à internet, ela responde com precisão a
qualquer pergunta – desde “como está o tempo hoje? ”até “qual é o maior
mamífero do mundo?”.
Um brinquedo e tanto, não é? O problema é que Cayla se
conecta ao seu app de comando via bluetooth e, segundo autoridades alemãs, essa
função tem várias brechas – permitindo que hackers invadam, facilmente, o
dispositivo para roubar dados pessoais, gravar conversas e até falar com as
crianças enquanto elas brincam com a boneca.
A brecha no software foi revelada, pela primeira vez, em
2015. Na época, o grupo britânico Vivid Toy, que distribui o brinquedo, afirmou que os casos
de invasão de privacidade relatados eram isolados e foram realizados por
técnicos para atualizar a segurança do aplicativo. Mas, especialistas da
Federal Network Agency, da Alemanha, advertiram que o problema ainda não tinha
sido resolvido. E tinham razão.
Recentemente, o caso voltou à tona depois que um estudante
da Universidade de Saarland, Stefan Hessel, alertou que o dispositivo de
bluetooth poderia se conectar ao sistema de som do brinquedo em um raio de 10
metros de distância. Ou seja, um invasor poderia espionar alguém através de
várias paredes usando a tal boneca.
Por segurança, Cayla já está sendo recolhida das prateleiras
das lojas alemãs. “Trata-se de proteger os direitos dos mais fracos da sociedade”,
disse Jochen Homann, presidente da agência, à BBC. Para
os pais que já compraram o brinquedo, não tem jeito: a recomendação é desativar
mesmo a boneca.
O anúncio feito esta semana reflete as crescentes
preocupações sobre produtos eletrônicos “inteligentes”. Uma série de relatórios
e pesquisas, divulgados por empresas de segurança nos últimos anos, mostra como
é fácil invadir computadores, eletrodomésticos e até carrinhos de controle
remoto.
A Alemanha tem leis rigorosas de privacidade e considera
ilegal vender ou possuir qualquer aparelho de vigilância – dada a sua
experiência na era comunista, quando a antiga Alemanha Oriental vigiava seus
cidadãos vorazmente. A violação das normas pode resultar em prisão por até dois
anos.
Fonte: Superinteressante
por Giselle Hirata